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Contratos com Deus
Mesmo após a morte do quadrinista, lançamentos e biografia alongam a presença de Will Eisner em 2005
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando a notícia chegou à Redação, no início da tarde da última terça-feira, pareceu difícil de
acreditar. "Morre Will Eisner",
dizia o título de um e-mail enviado por um amigo quadrinista. Seria verdade? "Will Eisner, R.I.P.
(1917-2005)", confirmava a página oficial do maior gênio dos quadrinhos que, pelo menos até um
dia antes, ainda vivia às voltas
com novos projetos e diversos
lançamentos previstos para 2005.
Aos 87 anos de vida, o criador
da tira "The Spirit", que revolucionou a linguagem narrativa das
histórias em quadrinhos na década de 40, e "Um Contrato com
Deus", pedra fundadora do hoje
tão popular gênero das "graphic
novels", deu uma entrevista à Folha, em julho do ano passado, e,
apesar da idade avançada, não demonstrava sinais de cansaço.
"Há rumores, que eu venho negando com insistência, de que estou com 87 anos. Mas não preste
atenção a eles. Pergunto-lhe:
"Quantos anos você teria se não
soubesse quantos anos tem?'",
disse ele, rindo, na ocasião.
Mais que isso: trabalhava a todo
o vapor em duas de suas então
inéditas HQs, "Fagin, the Jew",
uma releitura do clássico "Oliver
Twist", e "The Plot", um libelo
pessoal contra o anti-semitismo.
Ambas chegam ao Brasil em 2005
pela Companhia das Letras.
Entre os projetos que guardava
em seu estúdio, na Flórida, Eisner
deixou escapar que ainda não havia desistido de retomar um antigo projeto idealizado com o quadrinista brasileiro Andre Le
Blanc: quadrinizar uma história
sobre a cidade de São Paulo.
Outro velho amigo brasileiro, o
pesquisador Álvaro de Moya revela que tinha planos para transformar os desenhos do papa da
"graphic novel" em uma série de
animações para a TV Cultura.
No exterior, uma biografia autorizada sairá pela Dark Horse,
resultado de mais de três anos de
convivência entre Eisner e o autor, Bob Andelman.
"Foi uma chance única de
aprender sobre e com um dos
grandes mestres das artes gráficas
e também da palavra escrita", declarou Andelman por e-mail à Folha. "Will sempre soube de sua
habilidade como desenhista, mas
se você elogiasse a sua escrita, esse, sim, era o melhor dos elogios."
A obra será lançada em julho,
nos EUA, com o nome de "Will
Eisner: A Spirited Life", e sob a
condição de um forçoso ponto final. Será mesmo?
"Will e eu odiamos funerais",
disse sua mulher, Ann, após a
morte do quadrinista, na segunda
à noite, dias após ter resistido a
uma cirurgia no coração. Não
houve nem haverá enterro. Eisner
morreu; o espírito vive.
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