São Paulo, quinta-feira, 06 de janeiro de 2005

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Contratos com Deus

Mesmo após a morte do quadrinista, lançamentos e biografia alongam a presença de Will Eisner em 2005

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando a notícia chegou à Redação, no início da tarde da última terça-feira, pareceu difícil de acreditar. "Morre Will Eisner", dizia o título de um e-mail enviado por um amigo quadrinista. Seria verdade? "Will Eisner, R.I.P. (1917-2005)", confirmava a página oficial do maior gênio dos quadrinhos que, pelo menos até um dia antes, ainda vivia às voltas com novos projetos e diversos lançamentos previstos para 2005.
Aos 87 anos de vida, o criador da tira "The Spirit", que revolucionou a linguagem narrativa das histórias em quadrinhos na década de 40, e "Um Contrato com Deus", pedra fundadora do hoje tão popular gênero das "graphic novels", deu uma entrevista à Folha, em julho do ano passado, e, apesar da idade avançada, não demonstrava sinais de cansaço.
"Há rumores, que eu venho negando com insistência, de que estou com 87 anos. Mas não preste atenção a eles. Pergunto-lhe: "Quantos anos você teria se não soubesse quantos anos tem?'", disse ele, rindo, na ocasião.
Mais que isso: trabalhava a todo o vapor em duas de suas então inéditas HQs, "Fagin, the Jew", uma releitura do clássico "Oliver Twist", e "The Plot", um libelo pessoal contra o anti-semitismo. Ambas chegam ao Brasil em 2005 pela Companhia das Letras.
Entre os projetos que guardava em seu estúdio, na Flórida, Eisner deixou escapar que ainda não havia desistido de retomar um antigo projeto idealizado com o quadrinista brasileiro Andre Le Blanc: quadrinizar uma história sobre a cidade de São Paulo.
Outro velho amigo brasileiro, o pesquisador Álvaro de Moya revela que tinha planos para transformar os desenhos do papa da "graphic novel" em uma série de animações para a TV Cultura.
No exterior, uma biografia autorizada sairá pela Dark Horse, resultado de mais de três anos de convivência entre Eisner e o autor, Bob Andelman.
"Foi uma chance única de aprender sobre e com um dos grandes mestres das artes gráficas e também da palavra escrita", declarou Andelman por e-mail à Folha. "Will sempre soube de sua habilidade como desenhista, mas se você elogiasse a sua escrita, esse, sim, era o melhor dos elogios."
A obra será lançada em julho, nos EUA, com o nome de "Will Eisner: A Spirited Life", e sob a condição de um forçoso ponto final. Será mesmo?
"Will e eu odiamos funerais", disse sua mulher, Ann, após a morte do quadrinista, na segunda à noite, dias após ter resistido a uma cirurgia no coração. Não houve nem haverá enterro. Eisner morreu; o espírito vive.


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