|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DANÇA
Coreografia de João Saldanha, que estréia no Rio, explora cenário e percepção de imagens para compor movimentos
Formas geométricas e diluídas se unem em "Soma"
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Círculos, diagonais e espirais
desenhados pelos corpos dos bailarinos num espaço prateado. Isto
é o espetáculo "Soma": "Uma
idéia de corpo e gene", que se perpetua nos movimentos. O coreógrafo João Saldanha, 45, um dos
grandes nomes da dança carioca,
com 25 anos de estrada, inspirou-se na teoria da Gestalt -"o todo é
mais do que a soma das partes"-
para criar sua nova peça, que estréia hoje no Sesc Copacabana, no
Rio de Janeiro.
A teoria da Gestalt estuda questões ligada à percepção das formas e à compreensão de imagens
e idéias. Semelhança, proximidade, continuidade, fechamento e
memória são elementos que contribuem para entender como o
olho humano estrutura os elementos gráficos na nossa mente.
"As formas geométricas influenciam diretamente o olhar,
pois são mais límpidas na sua trajetória, mas uso também as formas diluídas, para criar uma subjetividade de outra ordem e um
contraponto. Quero que o público entenda o rigor de determinadas seqüências e como essas seqüências surgirão com outra qualidade em outros corpos e outras
configurações", explicou Saldanha, em entrevista por telefone
para a Folha.
A peça começa com movimentos bem retilíneos, que indicam
direções. Então começam a surgir
pequenas frases e, através de conceitos numéricos, se criam outras
configurações: "Outro protótipo
espacial, onde se indicam diagonais e círculos e se introduz todo o
repertório gestual que está por vir
nas seqüências coreográficas".
Saldanha ressalta a importância
da capacidade técnica dos seis intérpretes, de idades variadas (de
19 a 43 anos): "Os bailarinos que
estão em cena têm uma técnica
extremamente apurada, em clássico e contemporâneo. Durante o
processo tive dificuldade com outros artistas sem essa formação".
O cenário, como de hábito com
o coreógrafo, não é só um fundo;
neste caso, Saldanha construiu
uma caixa prateada que envolve
toda cena. "A cor prata favorece
uma boa inserção de luz e cria
uma perspectiva que fica interessante com o movimento. Usei tinta prateada sobre a estrutura toda,
inclusive a platéia." O linóleo [piso especial para dança] é cinza,
que ganha um tom prateado. No
teto, rebatedores: "A luz é projetada para estes rebatedores, como
num estúdio fotográfico, e cai difusa sobre os intérpretes".
O cenário contrasta com os figurinos de Francisco Costa (hoje
à frente da grife Calvin Klein americana). São tons de bege, areia e
preto com aplicações em espirais
de cetim. "As espirais provocam
uma sensação diferente do olhar e
fazem eco aos movimentos espiralados. Essa sinuosidade se contrapõe às formas estáticas, que
volta e meia surgem."
Tudo isso com uma trilha musical que também explora diferentes densidades e profundidades:
"Peças para Piano" de Gyorgy Ligeti, 87, e duas peças de Giacinto
Scelsi (1905-88), terminando com
"The Juliet Letters", interpretadas
por Elvis Costello e o Brodsky
Quartet: "Uma grande festa, que
aponta para todas as direções".
SOMA. Onde: mezanino do Espaço Sesc
(r. Domingos Ferreira, 160, Copacabana,
Rio, tel. 0/xx/21/2547-0156). Quando: de
hoje ao dia 30; de qui. a sáb., às 21h, e
dom., às 20h. Quanto: R$ 5 e R$ 10.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Televisão: SBT "fura" a Globo e exibe filme nacional antes; TVs vão à Justiça Índice
|