São Paulo, quinta-feira, 06 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DANÇA

Coreografia de João Saldanha, que estréia no Rio, explora cenário e percepção de imagens para compor movimentos

Formas geométricas e diluídas se unem em "Soma"

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Círculos, diagonais e espirais desenhados pelos corpos dos bailarinos num espaço prateado. Isto é o espetáculo "Soma": "Uma idéia de corpo e gene", que se perpetua nos movimentos. O coreógrafo João Saldanha, 45, um dos grandes nomes da dança carioca, com 25 anos de estrada, inspirou-se na teoria da Gestalt -"o todo é mais do que a soma das partes"- para criar sua nova peça, que estréia hoje no Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro.
A teoria da Gestalt estuda questões ligada à percepção das formas e à compreensão de imagens e idéias. Semelhança, proximidade, continuidade, fechamento e memória são elementos que contribuem para entender como o olho humano estrutura os elementos gráficos na nossa mente.
"As formas geométricas influenciam diretamente o olhar, pois são mais límpidas na sua trajetória, mas uso também as formas diluídas, para criar uma subjetividade de outra ordem e um contraponto. Quero que o público entenda o rigor de determinadas seqüências e como essas seqüências surgirão com outra qualidade em outros corpos e outras configurações", explicou Saldanha, em entrevista por telefone para a Folha.
A peça começa com movimentos bem retilíneos, que indicam direções. Então começam a surgir pequenas frases e, através de conceitos numéricos, se criam outras configurações: "Outro protótipo espacial, onde se indicam diagonais e círculos e se introduz todo o repertório gestual que está por vir nas seqüências coreográficas".
Saldanha ressalta a importância da capacidade técnica dos seis intérpretes, de idades variadas (de 19 a 43 anos): "Os bailarinos que estão em cena têm uma técnica extremamente apurada, em clássico e contemporâneo. Durante o processo tive dificuldade com outros artistas sem essa formação".
O cenário, como de hábito com o coreógrafo, não é só um fundo; neste caso, Saldanha construiu uma caixa prateada que envolve toda cena. "A cor prata favorece uma boa inserção de luz e cria uma perspectiva que fica interessante com o movimento. Usei tinta prateada sobre a estrutura toda, inclusive a platéia." O linóleo [piso especial para dança] é cinza, que ganha um tom prateado. No teto, rebatedores: "A luz é projetada para estes rebatedores, como num estúdio fotográfico, e cai difusa sobre os intérpretes".
O cenário contrasta com os figurinos de Francisco Costa (hoje à frente da grife Calvin Klein americana). São tons de bege, areia e preto com aplicações em espirais de cetim. "As espirais provocam uma sensação diferente do olhar e fazem eco aos movimentos espiralados. Essa sinuosidade se contrapõe às formas estáticas, que volta e meia surgem."
Tudo isso com uma trilha musical que também explora diferentes densidades e profundidades: "Peças para Piano" de Gyorgy Ligeti, 87, e duas peças de Giacinto Scelsi (1905-88), terminando com "The Juliet Letters", interpretadas por Elvis Costello e o Brodsky Quartet: "Uma grande festa, que aponta para todas as direções".


SOMA. Onde: mezanino do Espaço Sesc (r. Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio, tel. 0/xx/21/2547-0156). Quando: de hoje ao dia 30; de qui. a sáb., às 21h, e dom., às 20h. Quanto: R$ 5 e R$ 10.


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Televisão: SBT "fura" a Globo e exibe filme nacional antes; TVs vão à Justiça
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.