São Paulo, quinta-feira, 06 de janeiro de 2005

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GASTRONOMIA

"Gastronautas" viajam em busca do paladar sofisticado

BRYAN MILLER
DO "NEW YORK TIMES"

Antes de partir para suas recentes férias de duas semanas em Paris, Michael Alderete e Rochelle McCune não pouparam esforços gastronômicos. Depois de consultas a dezenas de guias, revistas, jornais e sites, McCune registrou os dados dos restaurantes em uma planilha computadorizada que oferecia informações sobre seus horários, telefones, números de fax, endereços de e-mail, nomes de proprietários, normas de vestimenta e estações de metrô mais próximas.
Evitando distrações que consomem muito tempo, como museus e teatros, conseguiram ir a 28 dos restaurantes mais refinados da cidade, como La Tour d'Argent e Le Jules Verne, na torre Eiffel.
Os Alderete são membros de uma fraternidade que se expande no setor norte-americano de turismo: viajantes que planejam as férias primordial e até mesmo exclusivamente pela comida e pelo vinho. Para cunhar um termo, são os "gastronautas".
Os membros dessa espécie de viajantes, quer planejem as próprias viagens, quer dependam de serviços de agências de turismo especializadas, são em geral urbanos, prósperos e sofisticados em termos tecnológicos, o que coloca o mundo da gastronomia ao alcance de seus dedos.
"Esse segmento de viagens especializadas se tornou muito popular atualmente", disse Karen Herbst, que opera a International Kitchen, agência de viagens de Chicago. "Quando abri, 11 anos atrás, minha primeira excursão teve quatro clientes. Nos últimos anos, crescemos cerca de 60%."
No momento, suas excursões de uma semana de duração, que em geral custam entre US$ 2.000 (cerca de R$ 5.500) e US$ 4.000 por pessoa, se especializam em todas as regiões da França e da Itália. No ano passado, segundo ela, atendeu 2.300 clientes.
Para alguns "gastronautas" dedicados, a matriz de tempo e espaço não é problema. O fotógrafo Bill Thompson é um exemplo extremo. Quando seu ídolo, Joël Robuchon, anunciou que se aposentaria, em Paris, ele diz que sofreu muito. Voou para lá, de Nova York, e jantou no restaurante de Robuchon nos cinco últimos dias de funcionamento da casa. "Não repeti um prato nesse período."
Os "gastronautas", ao contrário dos fregueses comuns, não escolhem um restaurante, pedem uma refeição, comem e se vão. Estudam cada detalhe da experiência alimentícia com os olhos rigorosos de um juiz de competição. Gostam de levar vinhos caros de suas adegas domésticas aos restaurantes, não importando a rolha que precisem pagar. Cada refeição tem um padrão sensório de comparação, um prato degustado meses ou anos antes que serve de referência a tudo, algo como "isso lembra o escalope que comemos na Bretanha no ano passado".
Os profissionais de viagens dizem que França, Itália e Espanha continuam a ser os campos de caça prediletos dos "gastronautas", ainda que nos últimos anos sua atuação se tenha expandido para Argentina, Chile e Austrália.
O desafio final para esses determinados viajantes é desfrutar de sua paixão sem inchar como o homenzinho dos pneus Michelin -que, por sinal, publica o mais conceituado guia de restaurantes do mundo. Alguns preferem fazer dieta antes das viagens; outros, depois. "Perdemos cinco quilos antes de partirmos para a França", conta McCune. "Não pensamos sobre dieta na viagem e, na volta, tínhamos recuperado exatos cinco quilos. Tivemos sorte."


Tradução Paulo Migliacci

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