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GASTRONOMIA
"Gastronautas" viajam em busca do paladar sofisticado
BRYAN MILLER
DO "NEW YORK TIMES"
Antes de partir para suas recentes férias de duas semanas em Paris, Michael Alderete e Rochelle
McCune não pouparam esforços
gastronômicos. Depois de consultas a dezenas de guias, revistas,
jornais e sites, McCune registrou
os dados dos restaurantes em
uma planilha computadorizada
que oferecia informações sobre
seus horários, telefones, números
de fax, endereços de e-mail, nomes de proprietários, normas de
vestimenta e estações de metrô
mais próximas.
Evitando distrações que consomem muito tempo, como museus
e teatros, conseguiram ir a 28 dos
restaurantes mais refinados da cidade, como La Tour d'Argent e Le
Jules Verne, na torre Eiffel.
Os Alderete são membros de
uma fraternidade que se expande
no setor norte-americano de turismo: viajantes que planejam as
férias primordial e até mesmo exclusivamente pela comida e pelo
vinho. Para cunhar um termo, são
os "gastronautas".
Os membros dessa espécie de
viajantes, quer planejem as próprias viagens, quer dependam de
serviços de agências de turismo
especializadas, são em geral urbanos, prósperos e sofisticados em
termos tecnológicos, o que coloca
o mundo da gastronomia ao alcance de seus dedos.
"Esse segmento de viagens especializadas se tornou muito popular atualmente", disse Karen
Herbst, que opera a International
Kitchen, agência de viagens de
Chicago. "Quando abri, 11 anos
atrás, minha primeira excursão
teve quatro clientes. Nos últimos
anos, crescemos cerca de 60%."
No momento, suas excursões de
uma semana de duração, que em
geral custam entre US$ 2.000 (cerca de R$ 5.500) e US$ 4.000 por
pessoa, se especializam em todas
as regiões da França e da Itália. No
ano passado, segundo ela, atendeu 2.300 clientes.
Para alguns "gastronautas" dedicados, a matriz de tempo e espaço não é problema. O fotógrafo
Bill Thompson é um exemplo extremo. Quando seu ídolo, Joël Robuchon, anunciou que se aposentaria, em Paris, ele diz que sofreu
muito. Voou para lá, de Nova
York, e jantou no restaurante de
Robuchon nos cinco últimos dias
de funcionamento da casa. "Não
repeti um prato nesse período."
Os "gastronautas", ao contrário
dos fregueses comuns, não escolhem um restaurante, pedem uma
refeição, comem e se vão. Estudam cada detalhe da experiência
alimentícia com os olhos rigorosos de um juiz de competição.
Gostam de levar vinhos caros de
suas adegas domésticas aos restaurantes, não importando a rolha que precisem pagar. Cada refeição tem um padrão sensório de
comparação, um prato degustado
meses ou anos antes que serve de
referência a tudo, algo como "isso
lembra o escalope que comemos
na Bretanha no ano passado".
Os profissionais de viagens dizem que França, Itália e Espanha
continuam a ser os campos de caça prediletos dos "gastronautas",
ainda que nos últimos anos sua
atuação se tenha expandido para
Argentina, Chile e Austrália.
O desafio final para esses determinados viajantes é desfrutar de
sua paixão sem inchar como o homenzinho dos pneus Michelin
-que, por sinal, publica o mais
conceituado guia de restaurantes
do mundo. Alguns preferem fazer
dieta antes das viagens; outros,
depois. "Perdemos cinco quilos
antes de partirmos para a França", conta McCune. "Não pensamos sobre dieta na viagem e, na
volta, tínhamos recuperado exatos cinco quilos. Tivemos sorte."
Tradução Paulo Migliacci
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