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CINEMA
Berlinale abre seus olhos para produção da África
Júri do festival alemão defende mudança do eixo geopolítico do cinema comercial
Cineasta Wayne Wang sugere enviou de câmeras portáteis a países africanos para estimular a realização de mais filmes na região
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Diante da lista dos 18 competidores ao Urso de Ouro, a presidente do júri do 59º Festival
de Berlim, Tilda Swinton, teve
uma reação interessante: "Que
bom encontrar muitos nomes
[de cineastas] dos quais nunca
ouvi falar. Há filmes do Irã
["About Elly", de Asghar Farhadi] e do Peru ["La Teta Asustada", de Claudia Llosa]".
O deslocamento do eixo
-geopolítico e do cinema
"mainstream"- foi a tônica do
encontro do júri da competição
oficial do Festival de Berlim
com a imprensa, ontem pela
manhã, no primeiro dia do
evento, um dos principais do cinema mundial.
Mais de um dos jurados fez a
defesa de que as atenções se
voltem para a África, onde "não
sabemos como as pessoas vivem e como elas estão morrendo", segundo o escritor sueco
Henning Mankell, que viveu
durante longo tempo no continente africano.
Mas foi do diretor Gaston
Kaboré, de Burkina Fasso, a intervenção mais contundente a
esse respeito: "O cinema não é
um luxo para a África. Mesmo
que custe caro fazer um filme,
isso é extremamente importante. Há gente que morre todos os dias no mar, tentando ir
para a Europa. Talvez o cinema
seja um modo de dizer a eles
que não é uma desgraça ter nascido na África".
O cineasta chinês Wayne
Wang, "feliz por essa conversa
estar girando em torno da África e da globalização", disse que
"a questão ainda é como tornar
[o cinema] mais acessível" e defendeu os filmes de baixo orçamento e a difusão por canais
como o site YouTube.
Câmeras portáteis
Wang contou que um amigo
seu fez "um ótimo filme com
um tipo novo de câmera, a flip
câmera, que custa menos de
US$ 100". Para ele, "não há
mais desculpas" que impeçam
as pessoas de "contar sua própria história". Wang sugeriu
que "sejam compradas quantidades dessas câmeras e enviadas à África para que as pessoas
lá possam falar as coisas do seu
ponto de vista".
A sugestão foi feita depois
que Mankell disse "culpar fortemente a grande imprensa do
ocidente" pelo desconhecimento do mundo em relação ao
que ocorre na África. "Já gastaram bilhões para solucionar a
crise financeira. E quanto aos
US$ 2 bilhões que seriam necessários para resolver o problema da fome na África? Ninguém faz nada, porque não é lucrativo", afirmou.
Tilda Swinton classificou a
preocupação geral com a crise
financeira como uma espécie
de "hipnose" e defendeu que
não se deixe de ter em conta outras crises em curso, "como a
[os ataques israelenses à faixa]
de Gaza".
Ao citar o papel do festival na
revelação de novos talentos, a
atriz britânica disse que é inócuo "descobrirmos a cada ano
novos grandes filmes e cineastas dos quais ninguém mais ouve falar", se os distribuidores de
filmes não fizerem seu papel de
"alargar o gosto do público frequentador de cinema", exibindo essa produção.
Além dos já convidados citados, integram o júri do Festival
de Berlim a ecoativista gastronômica Alice Waters (EUA), os
diretores Christoph Schlingensief (Alemanha) e Isabel Coixet
(Espanha) e a atriz Hannah
Herzsprung.
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