São Paulo, sábado, 06 de fevereiro de 2010

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Crítica/"Coleção sob Guarda Provisória"

Escolha e disposição das obras revela falta de ousadia

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A exposição "Coleção sob Guarda Provisória do MAC USP" é bastante representativa do que significou o mecenato privado na última década: apenas sob decisão judicial coleções importantes, com raríssimas exceções, foram entregues a museus.
Enquanto no resto do mundo grandes colecionadores tornaram-se parceiros de museus existentes, como o empresário Eli Broad, que doou US$ 60 milhões para o Los Angeles County Museum abrigar parte de sua coleção, por aqui, e principalmente através da Lei Rouanet, continua sendo o Estado o grande provedor dos museus públicos e privados.
No entanto, a exposição "Coleção sob Guarda Provisória do MAC USP" poderia ser uma excelente oportunidade para uma entidade como o MAC -que ainda neste ano deve ocupar parte de sua nova sede, no antigo edifício do Detran- debater o papel atual do mecenato.
Nada seria mais apropriado, afinal o próprio MAC surgiu a partir da impressionante coleção particular de Ciccillo Matarazzo, além do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, uma das estranhas histórias da arte brasileira.
Em vez disso, os curadores do MAC organizam uma exposição burocrática, que trata os três acervos recebidos (do Banco Santos, de Edemar Cid Ferreira, do megainvestidor Naji Nahas e do narcotraficante Juan Carlos Ramírez Abadía) de forma envergonhada, sem assumir, com um debate necessário, sua questionável origem.
Às vésperas de ocupar um espaço com reais condições museológicas e adequadas a seu acervo, o MAC, com essa exposição, sinaliza sua maior fraqueza: a falta total de ousadia.
Esse desânimo se espelha na mostra e pode ser conferido também na seleção e na forma de disposição de suas 118 peças: cada coleção apreendida possui uma cor distinta na legenda das obras, e só.
Segundo a exposição, Nahas teria o acervo mais requintado, com modernistas de peso como os brasileiros Di Cavalcanti e Portinari, além do espanhol Joan Miró.
Mas, das mais de mil obras do Banco Santos, a impressão é que se optou pelas mais pitorescas, com algumas exceções como Cildo Meireles, Leda Catunda e Amilcar de Castro. Assim, não é de se estranhar que coleções privadas fujam dos museus públicos.


COLEÇÃO SOB GUARDA PROVISÓRIA DO MAC USP

Quando: de ter. a dom., das 12h às 18h; até 31/3
Onde: MAC Ibirapuera (pavilhão Ciccillo Matarazzo, portão 3, pq. Ibirapuera, tel. 0/xx/11/5573-9932)
Quanto: entrada franca
Avaliação: ruim




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