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HQs brasileiros se mesclam a americanos
PEDRO CIRNE DE ALBUQUERQUE
free-lance para a Folha
Está ficando mais fácil para os
fãs de quadrinhos encontrar autores brasileiros nas bancas. Mas
não se pode dizer que está mais fácil reconhecer o país nas páginas
das revistas.
Com dificuldade para se firmar
no fechado (e concorrido) mercado editorial brasileiro, os quadrinhistas nacionais dividem-se em
duas tendências: produzir histórias no estilo dos "comics" norte-americanos ou optar por caminhos que reflitam mais a sociedade e a cultura brasileiras.
Nesse princípio de ano, há mais
de dez novos títulos brasileiros nas
bancas. A maioria deles mostra
músculos bem delineados dos heróis e heroínas, que lutam em batalhas pelo bem da humanidade.
Para o carioca Flavio Colin, que
trabalha com HQs "desde a década de 50", influências norte-americanas resultam de fatores como a
distribuição das revistas e a vontade das grandes editoras em investir apenas naquilo que dá retorno
certo, sem apostar em novidades.
Segundo Colin, as maiores editoras se interessam apenas por
histórias que vendem bastante,
que são os "comics" norte-americanos. "Por isso, quem consegue
publicar aqui são os que bebem na
mesma fonte. Acaba ficando tudo
muito parelho, muito igual."
Colin publicou recentemente
"O Boi das Aspas de Ouro", adaptação de uma lenda gaúcha. Segundo ele, a abordagem dos temas
locais é quase exclusiva dos fanzines, publicações feitas geralmente
por fãs de HQs em revistas baratas
e de pequena circulação.
"Pouco se toca em assuntos como folclore brasileiro e temas regionais. O que não falta no Brasil é
assunto, como é refletido em fanzines como o cearense 'Capitão
Rapadura' e o mineiro 'Caliban',
este último com referência à mitologia indígena. O que falta é que os
editores invistam nos quadrinhos
que dizem respeito ao nosso país."
Para o desenhista Marcelo Caribé, que trabalha na também recém-lançada "Capitão Ninja", o
predomínio das revistas de estilo
mais "americanizado" é uma resposta ao desejo dos leitores.
As histórias do Capitão Ninja falam de uma agência secreta do governo norte-americano. O herói é
especializado em invasões alienígenas. "Crescemos lendo 'Homem-Aranha' e 'X-Men', que são
bem americanos. O público está
acostumado com gibis assim. É
um processo natural: se as revistas
vingarem, automaticamente vão
assumir uma cara brasileira."
Para o argumentista Marcelo
Cassaro, certos gêneros de quadrinhos não poderiam ser contextualizados para terras brasileiras.
Dos três títulos de Cassaro que
estão nas bancas, em um a história
se passa em outro planeta, "Lua
dos Dragões", de ficção científica,
e nos outros dois os super-heróis
lutam pelas ruas de Chicago.
"Nós chegamos à conclusão que
quadrinhos de super-heróis fazem
parte da cultura norte-americana.
Fica estranho demais você colocar
um super-herói aqui, do mesmo
jeito que fica se colocarmos um
desfile de Carnaval na Quinta Avenida de Nova York", diz Cassaro.
Canceladas
O "supervilão" das revistas nacionais que conseguem chegar às
bancas é o mau resultado nas vendas. Dois lançamentos nacionais
de 97 não seguiram no mercado.
"Alta Voltagem", da Volt, foi
cancelada após o terceiro número.
"O principal motivo do cancelamento foi a distribuição. A revista
não foi encontrada em várias capitais. Não recebemos o retorno que
esperávamos", diz Marcelo Campos, que a desenhava e editava.
A revista "Metal Pesado", que
reunia várias histórias curtas de
autores brasileiros, vai sair de circulação temporariamente -e talvez em definitivo. Os editores discutirão, em março, se a "Metal
Pesado" continua "viável".
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