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DOCUMENTÁRIO
Trem da vida percorre faces de Mazzaropi
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A primeira idéia já é muito boa:
enquanto se escuta o som de um
trem em movimento, vemos janelas estilizadas dos vagões e, nelas,
diversos rostos de Amácio Mazzaropi, dando conta da carreira
desse comediante desde a infância, quando fã apaixonado dos
circos, até o tempo de ator mais
poderoso do país.
A trajetória de Mazzaropi nunca foi um mistério inexplicável:
todo mundo sabe que ele representa a figura do caipira a um
tempo sábio e ingênuo, num momento de intensa migração campo/cidade. O que dizer a seu respeito? Bem, existe primeiro o
trem, que levava o jovem Amácio
de Taubaté a São Paulo e vice-versa, fazendo dessa rota a mais marcante de sua vida.
Na infância, as viagens eram freqüentes, e a troca entre essas experiências, a do interior e a da capital, é essencial na formação do
ator. Esse é o primeiro ponto de
"Mazzaropi, o Cineasta das Platéias", documentário simples e
exato de Luis Otávio de Santi.
Existe, em seguida, o caipira
matreiro nos negócios. Nesse
quesito, as melhores histórias são
contadas pelo montador Maximo
Barro. Uma delas: o dia em que,
ao apresentar seu primeiro filme
colorido a um exibidor, de cara
exigiu um aumento de percentual
de bilheteria. A figura do caipira
Mazzaropi herdou de Genésio Arruda, entre outros, mas sua percepção do mundo era muito pessoal. O matuto desconfiado e beligerante de tantos filmes não era
outro senão Mazzaropi: o personagem, o produtor, o ator eram, a
rigor, a mesma coisa.
Num trabalho que acompanha
sua carreira com informação boa
e variada, talvez o melhor depoimento seja o do historiador Fabio
Ricci, para quem a carreira de
Mazza coincide com o processo
de substituição de importações
no Brasil. É, também, o auge do
cinema brasileiro. Uma explicação que eu nunca ouvi antes, que
faz sentido, e da qual seria útil extrair conseqüências.
Mazzaropi, o Cineasta das Platéias
Quando: hoje, às 22h40, no Canal Brasil
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