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Arcade Fire quer "falar ao mundo todo
"
Em entrevista à Folha, integrante de banda canadense diz que o novo álbum, "Neon Bible", mira em público mais amplo
"Neon Bible" tem lançamento hoje na Europa e amanhã nos EUA; CD do grupo canadense vai chegar ao Brasil neste mês
LÚCIO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Sozinho. À noite. Em alto-mar. Esse é o cenário que a banda canadense Arcade Fire sugere para melhor apreciar o CD
"Neon Bible", seu muito aguardado segundo álbum.
O disco, que tem lançamento
físico hoje na Europa, amanhã
nos EUA e até o fim do mês no
Brasil -por iniciativa do pequeno selo paulistano Slag Records-, vem carregado de expectativa, já que o primeiro CD
da banda, "Funeral", deixou comovida a música pop há pouco
mais de dois anos.
"Funeral", assombrado por
músicas sobre mortes e casamentos e uma ousadia de sons
de violinos, harpas e sanfonas a
serviço do rock, foi avassalador
-sua recepção foi da adoração
teen na internet à capa da "Time", passando por fãs-clubes
fervorosos presididos por gente como David Bowie e Bono.
"Neon Bible", o novo testamento do Arcade Fire, chega
ainda falando sobre morte e
tem referências cristãs, no geral. Mas uma morte ampla,
apocalíptica.
"A diferença do primeiro álbum para este segundo é que,
enquanto o primeiro tinha uma
preocupação localizada, familiar, "Neon Bible" quer falar ao
mundo todo", disse à Folha,
em entrevista por e-mail e
MSN, o músico faz-tudo Richard Reed Perry, um dos seis,
sete ou oito que formam o grupo que inseriu o Canadá no mapa-múndi do rock moderno.
"Se bem que não concordo
muito com essa história de que
fazemos "músicas assombradas
pela morte". Que é o que dizem
de "Intervention", por exemplo.
Acho que cada vez menos eu
consigo imaginar como é que
as pessoas entendem nossa
música", afirma Perry, que, entre outras funções, toca guitarra, sanfona, percussão e dança.
O que dá para entender da
música do Arcade Fire está claro. Em "Black Mirror", a banda
pergunta para o "espelho, espelho meu" onde a bomba vai
cair. Em "Windowsill", deixa
bem claro que não quer lutar
em nenhuma "guerra santa".
O nome "Neon Bible", segundo Perry, tem mais uma preocupação imagética do que fazer
referência ao passado cristão
da banda. "O nome é uma idéia
que tem várias idéias dentro",
tenta explicar o multiinstrumentista. "A gente queria alcançar um nome que representasse várias imagens e abrisse
várias maneiras de como a pessoas pudessem entender a música do Arcade Fire."
Estratégias irônicas
O Arcade Fire continua uma
banda inusual, não só pelo que
fala nas letras, pelo que Perry
fala em entrevistas, pelos instrumentos que o grupo leva ao
palco. Quando "Neon Bible" ficou pronto, no final do ano passado -isso havia três meses antes do lançamento oficial de hoje-, o grupo começou a soltar
suas músicas novas.
Inventaram um número gratuito de telefone para ouvir
"Intervention", uma das faixas,
mas o que estava lá era "Black
Mirror". Anunciaram a venda
de uma canção nova no iTunes,
mas, por causa de "um botão
apertado errado", a música
vendida em MP3 era outra.
Criaram uma propaganda do
disco, informando seu set list, e
soltaram no YouTube, como
um comercial de TV.
"A gente só quis se divertir
usando essas técnicas de marketing pré-existentes, bem familiares, tipo esses "informerciais" vagabundos e esses números gratuitos de telefone que
as pessoas estão acostumadas a
ver em casa e que, de tão chatos,
as irritam. Foi a forma de usar
um marketing viral irritante."
Nas últimas semanas, antes
do lançamento de "Neon Bible"
nas lojas, mas já com o disco na
internet, o Arcade Fire andou
mostrando o álbum em cafés
canadenses e igrejas nova-iorquinas e londrinas.
A boa notícia é que a forma
bufa com que a banda se apresenta ao vivo poderá voltar a
ser vista por aqui ainda este
ano, segundo anunciou Richard Perry. Ele diz que apresentações no Brasil e no México são certas na programação
de shows da banda em 2007.
De novo, os canadenses chegam às lojas brasileiras em edição da Slag Records, um pequeno selo paulistano que já havia
lançado "Funeral".
Como uma pequena gravadora consegue atropelar grandes gravadoras e entrar tão forte no circuito pop mundial a
ponto de ser responsável pelo
lançamento no país de disco
tão importante? Simples: pegando o telefone e ligando (ou
pegando o computador e escrevendo) para os donos da gravadora da banda, a Merge, nos
EUA, já que o Arcade Fire não
fez em 2005 e nem estava fazendo agora em 2007 parte dos
planos de lançamentos de alguma major. Um lançamento incrível para uma banda incrível.
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