São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2007

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Arcade Fire quer "falar ao mundo todo

" Em entrevista à Folha, integrante de banda canadense diz que o novo álbum, "Neon Bible", mira em público mais amplo

"Neon Bible" tem lançamento hoje na Europa e amanhã nos EUA; CD do grupo canadense vai chegar ao Brasil neste mês


LÚCIO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sozinho. À noite. Em alto-mar. Esse é o cenário que a banda canadense Arcade Fire sugere para melhor apreciar o CD "Neon Bible", seu muito aguardado segundo álbum.
O disco, que tem lançamento físico hoje na Europa, amanhã nos EUA e até o fim do mês no Brasil -por iniciativa do pequeno selo paulistano Slag Records-, vem carregado de expectativa, já que o primeiro CD da banda, "Funeral", deixou comovida a música pop há pouco mais de dois anos.
"Funeral", assombrado por músicas sobre mortes e casamentos e uma ousadia de sons de violinos, harpas e sanfonas a serviço do rock, foi avassalador -sua recepção foi da adoração teen na internet à capa da "Time", passando por fãs-clubes fervorosos presididos por gente como David Bowie e Bono.
"Neon Bible", o novo testamento do Arcade Fire, chega ainda falando sobre morte e tem referências cristãs, no geral. Mas uma morte ampla, apocalíptica.
"A diferença do primeiro álbum para este segundo é que, enquanto o primeiro tinha uma preocupação localizada, familiar, "Neon Bible" quer falar ao mundo todo", disse à Folha, em entrevista por e-mail e MSN, o músico faz-tudo Richard Reed Perry, um dos seis, sete ou oito que formam o grupo que inseriu o Canadá no mapa-múndi do rock moderno.
"Se bem que não concordo muito com essa história de que fazemos "músicas assombradas pela morte". Que é o que dizem de "Intervention", por exemplo. Acho que cada vez menos eu consigo imaginar como é que as pessoas entendem nossa música", afirma Perry, que, entre outras funções, toca guitarra, sanfona, percussão e dança.
O que dá para entender da música do Arcade Fire está claro. Em "Black Mirror", a banda pergunta para o "espelho, espelho meu" onde a bomba vai cair. Em "Windowsill", deixa bem claro que não quer lutar em nenhuma "guerra santa".
O nome "Neon Bible", segundo Perry, tem mais uma preocupação imagética do que fazer referência ao passado cristão da banda. "O nome é uma idéia que tem várias idéias dentro", tenta explicar o multiinstrumentista. "A gente queria alcançar um nome que representasse várias imagens e abrisse várias maneiras de como a pessoas pudessem entender a música do Arcade Fire."

Estratégias irônicas
O Arcade Fire continua uma banda inusual, não só pelo que fala nas letras, pelo que Perry fala em entrevistas, pelos instrumentos que o grupo leva ao palco. Quando "Neon Bible" ficou pronto, no final do ano passado -isso havia três meses antes do lançamento oficial de hoje-, o grupo começou a soltar suas músicas novas.
Inventaram um número gratuito de telefone para ouvir "Intervention", uma das faixas, mas o que estava lá era "Black Mirror". Anunciaram a venda de uma canção nova no iTunes, mas, por causa de "um botão apertado errado", a música vendida em MP3 era outra. Criaram uma propaganda do disco, informando seu set list, e soltaram no YouTube, como um comercial de TV.
"A gente só quis se divertir usando essas técnicas de marketing pré-existentes, bem familiares, tipo esses "informerciais" vagabundos e esses números gratuitos de telefone que as pessoas estão acostumadas a ver em casa e que, de tão chatos, as irritam. Foi a forma de usar um marketing viral irritante."
Nas últimas semanas, antes do lançamento de "Neon Bible" nas lojas, mas já com o disco na internet, o Arcade Fire andou mostrando o álbum em cafés canadenses e igrejas nova-iorquinas e londrinas.
A boa notícia é que a forma bufa com que a banda se apresenta ao vivo poderá voltar a ser vista por aqui ainda este ano, segundo anunciou Richard Perry. Ele diz que apresentações no Brasil e no México são certas na programação de shows da banda em 2007.
De novo, os canadenses chegam às lojas brasileiras em edição da Slag Records, um pequeno selo paulistano que já havia lançado "Funeral".
Como uma pequena gravadora consegue atropelar grandes gravadoras e entrar tão forte no circuito pop mundial a ponto de ser responsável pelo lançamento no país de disco tão importante? Simples: pegando o telefone e ligando (ou pegando o computador e escrevendo) para os donos da gravadora da banda, a Merge, nos EUA, já que o Arcade Fire não fez em 2005 e nem estava fazendo agora em 2007 parte dos planos de lançamentos de alguma major. Um lançamento incrível para uma banda incrível.


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