São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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"Sangue quente" une Bethânia e Omara

Próximas no temperamento, a brasileira e a cubana lançam CD e DVD e iniciam série de shows pelo Canecão, no Rio

"Já nos conhecemos, já se quebrou a tensão, uma certa vergonha. Nos ensaios, a gente ri cantando", diz Maria Bethânia sobre Omara

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Maria Bethânia até gargalha ao ouvir mais uma vez a pergunta. Os repórteres querem saber por que, no primeiro disco que as une, ela e a cubana Omara Portuondo cantam em duo só quatro das 13 músicas.
"O disco saiu assim. Posso dizer, para confortá-los, que no show tem bem mais. A gente queria falar de muitas coisas e tivemos que abrir mão de duetos para o disco ter uma estrutura", afirma a brasileira.
"O Cio da Terra" (Milton Nascimento/Chico Buarque) é uma das canções preparadas para o show, que estréia amanhã no Canecão, no Rio, chega a São Paulo, no Via Funchal, nos dias 27 e 28, e passa por mais nove capitais até maio.
Ouvindo-se o CD, vendo-se o minidocumentário que está na "edição especial" do disco e observando-se as duas juntas hoje, a impressão é que a relação entre elas evoluiu da cerimônia provocada pela admiração mútua para uma descontração que deverá se refletir no palco.
"Já nos conhecemos, já se quebrou a tensão, uma certa vergonha. Nos ensaios, a gente ri cantando. Há um pouco da malandragem no melhor sentido, da sensualidade baiano-cubana", diz Bethânia.
"Cheguei [para gravar] um pouco tímida, impressionada com a personalidade dela. Eu tinha uma admiração tão grande que não queria incomodá-la.
Quando a ouço cantando "Palavras" [de Gonzaguinha], fico arrepiada", exalta Omara, que pediu, em 2005, ao cantar no Rio, para ser apresentada à colega brasileira.
Artista que se tornou conhecida ao ser retratada no documentário "Buena Vista Social Club" (1999), de Wim Wenders, Omara já vira Bethânia cantando em Cuba e se tornara fã. Bethânia diz que tem quase todos os discos da cubana, que considera "primorosa".

Sem frieza
O filme de 40 minutos com os bastidores das gravações, dirigido por Bruno Natal, retrata essa reverência e o início de uma bela amizade. Mas o CD, embora careça de mais duos, não é frio. Para isso pesa, naturalmente, o repertório: várias canções comoventes, como "Para Cantarle a mi Amor" (Orlando de la Rosa), e as suingantes "Tal Vez" (Juan Formell) e "Só Vendo que Beleza (Marambaia)" (Rubens Campos/Henricão).
"Há blocos: canções de ninar, palavras, as dançantes, a roça... É característico de um encontro", diz Bethânia. Assim, "Lacho" (Facundo Rivero/Juan Pablo Miranda) se encaixa com "Menino Grande" (Antonio Maria), "Palabras" (Marta Valdés) com "Palavras", e "Arrependimento" (Fernando César/Dolores Duran) com "Mil Congojas" (Juan Pablo Miranda), por exemplo.
Para as duas, a afinidade entre as músicas (ou as culturas) brasileira e cubana é natural.
"Temos em comum o temperamento, o sangue quente. O amor brasileiro não é igual a outros amores. Em outras partes do mundo, os amores são mais frios", ri Omara. Ela deve saber do que fala.
Aos 77 anos, passa a maior parte do ano viajando para cantar -ao contrário de Bethânia, 61, que diz não gostar de avião, hotel e restaurante-, e ainda não cogita uma aposentadoria em Havana.
Símbolo nacional, Omara diz não temer o futuro de Cuba com a renúncia de Fidel Castro ao comando do país após 49 anos no poder.
"É um homem que trabalhou muito e não pensou em se cuidar. Chegou o momento de descansar. Outro está ocupando seu lugar e a vida continua, nosso barquinho segue navegando. O futuro é amanhã. O presente é hoje. Queremos a paz", afirma a cantora.


OMARA PORTUONDO E MARIA BETHÂNIA
Gravadora:
Biscoito Fino
Quanto: R$ 34 (CD) e R$ 53 (CD e DVD com bastidores)

SHOW
Quando:
de amanhã a 16/3; sex. e sáb., às 22h; dom., às 20h30
Onde: Canecão (av. Venceslau Brás, 215, Botafogo, Rio, tel. 0/xx/21/2105-2000)
Quanto: de R$ 20 a R$ 160


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