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Teatro "indie" do Rio mostra vigor
Além de sucessos de público, "invasão" carioca em SP tem bons títulos alternativos
"Ele Precisa Começar" é brincadeira sobre a criação teatral; "Dois Irmãos" narra disputa não-declarada
pela mulher que amam
DA REPORTAGEM LOCAL
O pacote teatral carioca que
São Paulo desembrulha neste
mês tem sucessos do dito segmento comercial (por exemplo,
"A Noviça Rebelde" vista por
190 mil pessoas), mas também
trabalhos que atestam a efervescência da cena alternativa.
Tome o exemplo de Felipe
Rocha, 37. Em 21 de outubro de
2007, a turnê da peça em que
ele atuava, "Gaivota", passava
por Toulouse, na França, quando, sozinho num quarto de hotel, laptop no colo, o ator decidiu "experimentar essa coisa de
ter um discurso". Até que uma
camareira bateu à porta.
Tudo isso -a data precisa, o
hotel, o laptop, a camareira-
virou dramaturgia em "Ele Precisa Começar", seu primeiro
texto. Em cena, o jorro de ideias
e hesitações de um autor divide
espaço com intervenções de
seu personagem, que ameaça
tomar as rédeas da história:
"Não tinha intenção de chegar a nenhum lugar incrível.
Queria ver se o desejo de expressão é um assunto por si só".
Na mesma linha de fluxo de
consciência se insere "Homemúsica", de Michel Melamed,
35, que volta a São Paulo, depois de passagem-relâmpago
em 2007. Com a história do sujeito que carrega no corpo uma
orquestra, ele mira "a questão
da negligência em um país tão
cheio de qualidades, esse quase
fascismo das dezenas de máfias, da corrupção desenfreada
acompanhado de um certo cinismo das pessoas".
O tom, entretanto, é mais sereno do que o de "Regurgitofagia" e "Dinheiro Grátis", os dois
primeiros títulos de sua "Trilogia Brasileira", em que vociferava contra o excesso de estímulos da cultura de massa e a
mercantilização de tudo quanto há.
"A crítica continua lá, mas
agora me sinto muito tocado
pela delicadeza, pelo belo", afirma Melamed.
Delicadeza que passa longe
do triângulo amoroso de "Dois
Irmãos (Due Fratelli)", de
Fausto Paravidino, em que o
par do título finge desprezar,
mas na verdade disputa Erica, a
colega de apartamento. Tudo se
passa sobre uma mesa-instalação, na qual o elenco ficou "exposto" durante a temporada carioca (em períodos em que a peça não estava sendo encenada),
convidando pessoas que passavam pela rua.
"Hoje, no Rio, há muitos espetáculos que exploram essa
interseção entre ator e personagem, buscando desvelar as
camadas de naturalismo", comenta a atriz Ana Lima.
(LUCAS NEVES)
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