São Paulo, sexta-feira, 06 de março de 2009

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Teatro "indie" do Rio mostra vigor

Além de sucessos de público, "invasão" carioca em SP tem bons títulos alternativos

"Ele Precisa Começar" é brincadeira sobre a criação teatral; "Dois Irmãos" narra disputa não-declarada pela mulher que amam

DA REPORTAGEM LOCAL

O pacote teatral carioca que São Paulo desembrulha neste mês tem sucessos do dito segmento comercial (por exemplo, "A Noviça Rebelde" vista por 190 mil pessoas), mas também trabalhos que atestam a efervescência da cena alternativa.
Tome o exemplo de Felipe Rocha, 37. Em 21 de outubro de 2007, a turnê da peça em que ele atuava, "Gaivota", passava por Toulouse, na França, quando, sozinho num quarto de hotel, laptop no colo, o ator decidiu "experimentar essa coisa de ter um discurso". Até que uma camareira bateu à porta.
Tudo isso -a data precisa, o hotel, o laptop, a camareira- virou dramaturgia em "Ele Precisa Começar", seu primeiro texto. Em cena, o jorro de ideias e hesitações de um autor divide espaço com intervenções de seu personagem, que ameaça tomar as rédeas da história:
"Não tinha intenção de chegar a nenhum lugar incrível. Queria ver se o desejo de expressão é um assunto por si só".
Na mesma linha de fluxo de consciência se insere "Homemúsica", de Michel Melamed, 35, que volta a São Paulo, depois de passagem-relâmpago em 2007. Com a história do sujeito que carrega no corpo uma orquestra, ele mira "a questão da negligência em um país tão cheio de qualidades, esse quase fascismo das dezenas de máfias, da corrupção desenfreada acompanhado de um certo cinismo das pessoas".
O tom, entretanto, é mais sereno do que o de "Regurgitofagia" e "Dinheiro Grátis", os dois primeiros títulos de sua "Trilogia Brasileira", em que vociferava contra o excesso de estímulos da cultura de massa e a mercantilização de tudo quanto há.
"A crítica continua lá, mas agora me sinto muito tocado pela delicadeza, pelo belo", afirma Melamed.
Delicadeza que passa longe do triângulo amoroso de "Dois Irmãos (Due Fratelli)", de Fausto Paravidino, em que o par do título finge desprezar, mas na verdade disputa Erica, a colega de apartamento. Tudo se passa sobre uma mesa-instalação, na qual o elenco ficou "exposto" durante a temporada carioca (em períodos em que a peça não estava sendo encenada), convidando pessoas que passavam pela rua.
"Hoje, no Rio, há muitos espetáculos que exploram essa interseção entre ator e personagem, buscando desvelar as camadas de naturalismo", comenta a atriz Ana Lima. (LUCAS NEVES)


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