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Crítica
Diretor foge do conforto da identificação
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Stephen Frears é o tipo de diretor para quem o artista não
deve se explicar. Ou sua obra se
explica sozinha, ou não se explica. Daí quando fez o episódio
britânico da série sobre os cem
anos de cinema -há 13 anos!-
ele ter dito que excluía Peter
Greenaway da história por não
ter nada a ver com... o cinema.
Pode-se objetar que Godard,
por exemplo, vive falando, o
que é verdade. Mas ele não explica. Todo o tempo, o que Godard faz é situar-se na história
do cinema e situar a história do
cinema na história. Já para que
a arte de Greenaway se agüentasse, seria preciso que não tivesse havido cinema antes dele
(aliás, ele acha que não havia).
Fazer um filme como "Alta
Fidelidade" (Max Prime, 18h),
coisa que Frears fez, não é para
qualquer um. Lá está um homem em crise (John Cusack),
que chega aos mais de 30 gerenciando sua loja de discos e
fazendo listas. Na loja, trabalham dois outros rapazes, tão
fora do mundo quanto ele. E há
sua ex-namorada, cansada dele.
O desafio desse tipo de filme
é construir personagens reais,
cujos problemas -embora exacerbados- se assemelhem aos
de qualquer um. Trata-se de
criar identificações, mas nunca
de dormir nelas.
Frears não aceita o conforto
das identificações. É como se fizesse um levantamento da história da comédia para seguir
sua tradição, mas também trazer-lhe algo novo. Ele não se explica, mostra um homem, um
modo de vida. É muito menos
fácil do que possa parecer.
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