São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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Crítica

Diretor foge do conforto da identificação

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Stephen Frears é o tipo de diretor para quem o artista não deve se explicar. Ou sua obra se explica sozinha, ou não se explica. Daí quando fez o episódio britânico da série sobre os cem anos de cinema -há 13 anos!- ele ter dito que excluía Peter Greenaway da história por não ter nada a ver com... o cinema.
Pode-se objetar que Godard, por exemplo, vive falando, o que é verdade. Mas ele não explica. Todo o tempo, o que Godard faz é situar-se na história do cinema e situar a história do cinema na história. Já para que a arte de Greenaway se agüentasse, seria preciso que não tivesse havido cinema antes dele (aliás, ele acha que não havia).
Fazer um filme como "Alta Fidelidade" (Max Prime, 18h), coisa que Frears fez, não é para qualquer um. Lá está um homem em crise (John Cusack), que chega aos mais de 30 gerenciando sua loja de discos e fazendo listas. Na loja, trabalham dois outros rapazes, tão fora do mundo quanto ele. E há sua ex-namorada, cansada dele.
O desafio desse tipo de filme é construir personagens reais, cujos problemas -embora exacerbados- se assemelhem aos de qualquer um. Trata-se de criar identificações, mas nunca de dormir nelas.
Frears não aceita o conforto das identificações. É como se fizesse um levantamento da história da comédia para seguir sua tradição, mas também trazer-lhe algo novo. Ele não se explica, mostra um homem, um modo de vida. É muito menos fácil do que possa parecer.


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