São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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BIA ABRAMO

Humorístico é a melhor estréia de 2008


"CQC" tem sutileza, além de preocupação com um jornalismo de denúncia engraçado

O NOME é incômodo -soa ao mesmo tempo como CPC, CCC e c.q.d, siglas para coisas tão díspares quanto os centros populares de cultura, o Comando de Caça aos Comunistas e o "como queríamos demonstrar" da matemática-, mas o "CQC" é, por enquanto, a melhor estréia da TV neste ano.
O formato é importado e, na verdade, bastante simples. Numa espécie de telejornal do absurdo, três âncoras apresentam entrevistas com perguntas embaraçosas, reportagens ao estilo de Michael Moore e Borat -repórteres interessados no avesso da notícia ou investidos de missões esdrúxulas etc.
A equipe combina Marcelo Tas, espécie de pioneiro do jornalismo saia-justa com seu repórter Ernesto Varela, com nomes mais recentes do humor, como Rafinha Bastos, Marcelo Luque e Rodrigo Gentili, conhecidos dos circuitos de comédia stand-up e do teatro, além de repórteres com queda para o humor.
O programa vem sendo comparado ao "Pânico na TV", mas guarda diferenças. Embora a irreverência diante de autoridades e celebridades se mantenha em quadros como as excelentes entrevistas do repórter inexperiente Danilo Gentili, o "CQC" leva adiante a verve política.
Mais do que a esculhambação indiscriminada, o programa trabalha com a ironia, sobretudo em relação à própria TV. Que, aliás, sempre foi um dos melhores materiais para se fazer humor em TV: veja-se o "Flying Circus" do Monty Python, o quadro "Weekend Update" do "Saturday Night Live", a "TV Pirata" etc.
O "CQC", por ora, esquivou-se da armadilha fácil daquilo que se chama de baixaria e que, em graus diferentes, assola o humor da TV brasileira. Do "Casseta e Planeta" ao "Toma Lá, Dá Cá", do "Programa do Tom" à "Praça É Nossa", parece que não há possibilidade de fazer graça sem certa humilhação. No "CQC", há mais sutileza e agilidade verbal, além de uma preocupação genuína, ao que parece, em fazer um tipo de jornalismo de denúncia engraçado.
O diabo é, de fato, prosseguir incólume aos apelos do apelativo. Mas a rede já aderiu com entusiasmo ao "CQC", espalhando trechos dos três episódios apresentados até agora pelo YouTube e pela blogosfera. Se a emissora (e os anunciantes) conseguirem ouvir, pode funcionar.

 

O "Flying Circus" foi o programa do Monty Python na BBC (1969-1974), antes que eles se lançassem no cinema. O humor genial do grupo britânico não envelheceu e está sendo lançado em DVD aqui. É boa chance para entender de onde vêm as melhores idéias de comédia em TV.

biabramo.tv@uol.com.br


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