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BIA ABRAMO
Humorístico é a melhor estréia de 2008
"CQC" tem sutileza, além de preocupação com um jornalismo de denúncia engraçado
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O NOME é incômodo -soa ao
mesmo tempo como CPC,
CCC e c.q.d, siglas para coisas
tão díspares quanto os centros populares de cultura, o Comando de
Caça aos Comunistas e o "como queríamos demonstrar" da matemática-, mas o "CQC" é, por enquanto, a
melhor estréia da TV neste ano.
O formato é importado e, na verdade, bastante simples. Numa espécie de telejornal do absurdo, três âncoras apresentam entrevistas com
perguntas embaraçosas, reportagens ao estilo de Michael Moore e
Borat -repórteres interessados no
avesso da notícia ou investidos de
missões esdrúxulas etc.
A equipe combina Marcelo Tas,
espécie de pioneiro do jornalismo
saia-justa com seu repórter Ernesto
Varela, com nomes mais recentes do
humor, como Rafinha Bastos, Marcelo Luque e Rodrigo Gentili, conhecidos dos circuitos de comédia
stand-up e do teatro, além de repórteres com queda para o humor.
O programa vem sendo comparado ao "Pânico na TV", mas guarda diferenças. Embora a irreverência
diante de autoridades e celebridades
se mantenha em quadros como as
excelentes entrevistas do repórter
inexperiente Danilo Gentili, o
"CQC" leva adiante a verve política.
Mais do que a esculhambação indiscriminada, o programa trabalha
com a ironia, sobretudo em relação à
própria TV. Que, aliás, sempre foi
um dos melhores materiais para se
fazer humor em TV: veja-se o
"Flying Circus" do Monty Python, o
quadro "Weekend Update" do "Saturday Night Live", a "TV Pirata" etc.
O "CQC", por ora, esquivou-se da
armadilha fácil daquilo que se chama de baixaria e que, em graus diferentes, assola o humor da TV brasileira. Do "Casseta e Planeta" ao "Toma Lá, Dá Cá", do "Programa do
Tom" à "Praça É Nossa", parece que
não há possibilidade de fazer graça
sem certa humilhação. No "CQC",
há mais sutileza e agilidade verbal,
além de uma preocupação genuína,
ao que parece, em fazer um tipo de
jornalismo de denúncia engraçado.
O diabo é, de fato, prosseguir incólume aos apelos do apelativo. Mas a
rede já aderiu com entusiasmo ao
"CQC", espalhando trechos dos três
episódios apresentados até agora
pelo YouTube e pela blogosfera. Se a
emissora (e os anunciantes) conseguirem ouvir, pode funcionar.
O "Flying Circus" foi o programa do
Monty Python na BBC (1969-1974),
antes que eles se lançassem no cinema. O humor genial do grupo britânico não envelheceu e está sendo
lançado em DVD aqui. É boa chance
para entender de onde vêm as melhores idéias de comédia em TV.
biabramo.tv@uol.com.br
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