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FERREIRA GULLAR
Começou a contagem regressiva
O predestinado de Caetés cruza o país como se fosse candidato em todos os municípios
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HÁ PARTIDOS para os quais a
alternância no poder é natural. É que não estão imbuídos da pretensão de que nasceram
para salvar a pátria, que, por isso
mesmo, sem eles, não será salva. Essa foi, na origem, a pretensão do PT e
de Lula, hoje, mais do que nunca,
convencido de que é um predestinado. Do PT ele já não pensa isso, pois
o vê como um instrumento de suas
pretensões.
Na condição de mero palpiteiro,
sempre disse que Lula e o PT não
existem um sem o outro, e daí por
que, apesar dos mensalões e aloprados, dólar na cueca e beijus de tapioca, são inseparáveis como irmãos
siameses. Mas quem manda é o
Lula que, como amante infiel, transa
com crivelas e severinos, chávez e
bushes, certo de que nem por isso
o lar petista será desfeito. Como as
esposas norte-americanas traídas,
engole o sapo e se conforma, já que,
em compensação, tem à sua disposição muita grana e milhares de cargos públicos para sustentar a máquina partidária.
Enquanto isso, o predestinado de
Caetés cruza o Brasil de Norte a Sul,
de Leste a Oeste, como se fosse candidato a prefeito em todos os municípios do país. Se a oposição diz que
o PAC viola a legislação eleitoral e
que ele o usa como propaganda, alega que não é candidato. Sucede que a
lei proíbe a propaganda indevida,
não importa se o cidadão a faz em
benefício próprio ou de outro. Na
verdade, como se sabe, Lula se empenha diuturnamente para que os
candidatos que apóia saiam vitoriosos das urnas e ofereçam a ele a base
de sustentação das eleições presidenciais de 2010. Aliás, ele diz isso
abertamente: "Se pensam que vão
nos derrotar em 2010, podem tirar o
cavalo da chuva".
Essa é a questão: Lula tem que fazer seu sucessor. Não é próprio dele
nem de seu partido aceitar a rotatividade no poder, especialmente se
se trata da presidência da República.
Isso, que para qualquer partido é natural, para o PT será uma desgraça,
porque foi fundado para nele se
manter indefinidamente. Se, como
Lula costuma afirmar, "eles governaram durante 500 anos", por que
-perguntaria ele- vamos governar
só oito? E especialmente agora,
quando tem o apoio de 73% da opinião pública, só perdendo para o general Médici, que teve 84%?
O sonho de Lula, como o de Chávez, era reeleger-se indefinidamente, mas, como nos dois casos, a opinião pública repeliu-lhes a pretensão, devem estar ambos maquinando que golpe dar para continuar no
trono. Por entender que o Brasil não
é a Venezuela, Lula agirá com cautela e, se não houver jeito, jogará tudo
para fazer o sucessor. É, aliás, o que
já está fazendo.
Mas quem é o seu candidato à sucessão? Uns dizem que é a Dilma
Rousseff, outros que é Marta Suplicy, mas ninguém sabe ao certo;
possivelmente, nem o próprio Lula,
para quem o candidato de fato teria
que ser ele mesmo.
Na verdade, Lula sabe que vive um
momento decisivo de sua carreira
política. Por essa razão mesmo, inventou o PAC, que serve duplamente a seus propósitos: põe-lhe nas
mãos bilhões de reais, que lhe permitem aliciar políticos de todas as
tendências, ao mesmo tempo em
que lhe possibilita estar no palanque, todos os dias, em todos os cantos do país, atacando os adversários
e se promovendo. Desse modo, joga
com duas possibilidades: ou tornar-se candidato por clamor do povo, ou
assegurar a eleição do candidato que
venha a apoiar.
Mas por que digo que este é um
momento crucial para ele? Porque
deixar o governo, no seu caso, é quase uma deposição, já que, a seu juízo,
só com ele na presidência da República o povo estará de fato no poder.
E há o outro lado da questão: o candidato que deveria substituí-lo tem
de ser do PT e de nenhum outro partido. Esta é uma condição "sine qua
non". E não é difícil entender, uma
vez que esse seria o único modo possível de ele, Lula, continuar mandando e assegurar sua volta ao governo em 2014. E, se efetivamente
pensa assim, pensa certo. Alguém
pensa que um presidente do PMDB
ou mesmo do PSB iria preparar o caminho para a volta de Lula à presidência da República? Jamais. Todos
os partidos, em uníssono, odeiam o
PT, querem se livrar dele e de sua arrogância (um exemplo é o dossiê da
Dilma). E Lula é o PT. Por isso, querem todos vê-lo pelas costas.
Mas se, na pior e mais provável das
hipóteses, o sucessor de Lula for do
PSDB? Já imaginou o frio que corre
pela espinha de Lula e dos petistas
ao pensar nisso? Pode alguém retrucar: mas o PSDB tampouco conta
com a simpatia dos demais partidos.
É verdade, mas o risco é menor: ele
aceita o jogo democrático.
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