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"Coleção" traz prosa de Vinicius
"Para Viver um Grande Amor", coletânea de crônicas do poeta, chega às bancas no próximo domingo
No livro de 1962, Vinicius de Moraes ajudou a definir o gênero: a crônica seria uma conversa "íntima e livre" que interessa a todos os leitores
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando a edição original de
"Para Viver um Grande Amor"
veio a público, em 1962, o poeta
Vinicius de Moraes (1913
-1980) já tinha encetado as colaborações musicais (com Tom
Jobim, Baden Powell e Pixinguinha) que o tornaram famoso, e o filme "Orfeu Negro", de
Marcel Camus, baseado em peça sua, já vencera a Palma de
Ouro em Cannes e o Oscar de
melhor filme estrangeiro.
O processo de popularização
que se via em outros campos
artísticos, porém, só veio a ser
sentido, em livro, com "Para Viver...", sua primeira obra em
prosa. Trata-se, como diz o autor em uma nota não assinada,
de uma "coletânea de crônicas,
se bem que mesclada a poemas
de fato e de circunstância", os
quais visariam a "amenizar um
pouco a prosa: dar-lhe, quem
sabe, um "balanço" novo".
Se boa parte das crônicas, publicada em diversos veículos,
mas principalmente no jornal
"Última Hora", provém de um
período iniciado em 1959, a
maioria dos poemas começou a
ser escrita dois anos antes, entre Paris, Brasil e Montevidéu,
e encontra-se, como ele explica, enfeixada pela "experiência
do grande amor".
A natureza dessa experiência
é aclarada no texto que dá título
ao volume: "Para viver um
grande amor, preciso é muita
concentração e muito siso,
muita seriedade e pouco riso
-para viver um grande amor
[...] Há que ser bem cortês sem
cortesia; doce e conciliador
sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia -para viver
um grande amor".
Além do amor
Embora estejam de fato sob o
signo do amor, as crônicas e os
poemas deste livro tratam muitas vezes de outros temas. Há
aqui um texto dedicado ao arquiteto Oscar Niemeyer, outro
relativo à estada do poeta no
Chateau d'Eu para escrever o
roteiro do filme que se consagraria em Cannes, além de um
poema em louvor a Garrincha
("O Anjo das Pernas Tortas") e
uma "crônica" futebolística escrita sem pontuação exceto por
uma exclamação no final.
Trata-se, como definiu o escritor Otto Lara Resende, de
um "Vinicius mais acessível".
Poeta de composições antológicas como o "Soneto de Fidelidade" e o "Soneto de Separação", comparado no campo da lírica a Manuel Bandeira, Vinicius ingressou na crônica para
reforçar o orçamento, nunca
equilibrado com o salário de diplomata. Curiosamente, foi
com esse gênero que se tornou
conhecido do grande público.
Na explicação de Otto:
"Alheio à controvérsia de teóricos e críticos sobre o gênero,
quase sem querer o poeta definiu o seu conceito de crônica,
ou seja, uma conversa íntima e
livre que, partindo do seu interesse pessoal, vai de fato interessar a todos os seus leitores".
Em 1969, durante a ditadura
militar, Vinicius é exonerado
de seu cargo no Itamaraty. Passa a dedicar-se mais à música,
promovendo shows no Brasil e
no exterior, em geral acompanhado do parceiro Toquinho.
É, nesse sentido, um dos principais responsáveis pela conjugação moderna da literatura com
a MPB. Morreu em 1980, em
sua casa, no Rio.
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