São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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"Coleção" traz prosa de Vinicius

"Para Viver um Grande Amor", coletânea de crônicas do poeta, chega às bancas no próximo domingo

No livro de 1962, Vinicius de Moraes ajudou a definir o gênero: a crônica seria uma conversa "íntima e livre" que interessa a todos os leitores

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando a edição original de "Para Viver um Grande Amor" veio a público, em 1962, o poeta Vinicius de Moraes (1913 -1980) já tinha encetado as colaborações musicais (com Tom Jobim, Baden Powell e Pixinguinha) que o tornaram famoso, e o filme "Orfeu Negro", de Marcel Camus, baseado em peça sua, já vencera a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro.
O processo de popularização que se via em outros campos artísticos, porém, só veio a ser sentido, em livro, com "Para Viver...", sua primeira obra em prosa. Trata-se, como diz o autor em uma nota não assinada, de uma "coletânea de crônicas, se bem que mesclada a poemas de fato e de circunstância", os quais visariam a "amenizar um pouco a prosa: dar-lhe, quem sabe, um "balanço" novo".
Se boa parte das crônicas, publicada em diversos veículos, mas principalmente no jornal "Última Hora", provém de um período iniciado em 1959, a maioria dos poemas começou a ser escrita dois anos antes, entre Paris, Brasil e Montevidéu, e encontra-se, como ele explica, enfeixada pela "experiência do grande amor".
A natureza dessa experiência é aclarada no texto que dá título ao volume: "Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso -para viver um grande amor [...] Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia -para viver um grande amor".

Além do amor
Embora estejam de fato sob o signo do amor, as crônicas e os poemas deste livro tratam muitas vezes de outros temas. Há aqui um texto dedicado ao arquiteto Oscar Niemeyer, outro relativo à estada do poeta no Chateau d'Eu para escrever o roteiro do filme que se consagraria em Cannes, além de um poema em louvor a Garrincha ("O Anjo das Pernas Tortas") e uma "crônica" futebolística escrita sem pontuação exceto por uma exclamação no final.
Trata-se, como definiu o escritor Otto Lara Resende, de um "Vinicius mais acessível". Poeta de composições antológicas como o "Soneto de Fidelidade" e o "Soneto de Separação", comparado no campo da lírica a Manuel Bandeira, Vinicius ingressou na crônica para reforçar o orçamento, nunca equilibrado com o salário de diplomata. Curiosamente, foi com esse gênero que se tornou conhecido do grande público.
Na explicação de Otto: "Alheio à controvérsia de teóricos e críticos sobre o gênero, quase sem querer o poeta definiu o seu conceito de crônica, ou seja, uma conversa íntima e livre que, partindo do seu interesse pessoal, vai de fato interessar a todos os seus leitores".
Em 1969, durante a ditadura militar, Vinicius é exonerado de seu cargo no Itamaraty. Passa a dedicar-se mais à música, promovendo shows no Brasil e no exterior, em geral acompanhado do parceiro Toquinho. É, nesse sentido, um dos principais responsáveis pela conjugação moderna da literatura com a MPB. Morreu em 1980, em sua casa, no Rio.


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