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Crítica
Público do longa "Chico Xavier" tem sexto sentido
Prova disso é a boa intuição para
fugir dos filmes de que não vai gostar
DANIEL BERGAMASCO
EDITOR-ADJUNTO DE COTIDIANO
O primeiro mérito a ser
reconhecido em "Chico Xavier" é o sexto
sentido do público de cinema,
que, como provam as bilheterias em fins de semana de estreia, tem tido boa intuição para os filmes dos quais vai gostar
mais e conseguido fugir daqueles vendidos como imperdíveis
ou obrigatórios -como a cinebiografia do presidente Lula,
que não se mostrou nenhuma
das duas coisas. E isso no mercado de filmes nacionais, em
que os trailers ajudam pouco na
escolha e ainda precisam encontrar seu Daniel Filho.
As reações dos espectadores
durante a exibição e, especialmente, na saída dela, mostram
que o contrato "você vai rir e se
emocionar", oferecido em muitos blockbusters de primeira ou
quinta categoria, é assinado
aqui com honestidade.
No primeiro item, "Chico Xavier" é também um filme de
momentos (poucos, mas precisos) muito engraçados, com ao
menos duas cenas anotáveis
para a antologia cinematográfica nacional:
1) aquela em que o
protagonista é levado pelo pai a
um bordel e
2) outra em que
viaja de avião.
Na subida dos créditos do filme, uma jogada do diretor dá
credibilidade a essa segunda
cena (e também a outros momentos do filme). É quando
aparecem relatos do próprio
Xavier, em imagens antigas de
TV, e aquilo que parecia meio
surreal, meio danielfilhismo, se
mostra praticamente documental. Então, o espectador
ainda incrédulo diante de qualquer coisa produzida pela Globo Filmes, pronto para dizer
que gostou da fita "apesar" de
sua excessiva liberdade poética, leva um balde de pipoca fria
na cabeça.
No campo dramático, o filme
é ainda mais sincero, porque
esse sentimento ali vem menos
do drama mostrado em cada
personagem, mas de algo que o
espectador trouxe consigo. São
as possibilidades que o filme levanta, ao retratar a mediunidade, que se tornam arrebatadoras para as pessoas que choram
largado durante o filme e por
um bom tempo depois -as
lembranças das pessoas queridas que não estão mais aqui.
O filme respeita também a
grandeza do personagem
-grande por praticamente
qualquer ponto de vista, até pelo da incredulidade- ao não
forçar a barra, em momento
nenhum, para que alguém aceite seus dons como verdade, como fraude ou como loucura. A
diversidade das situações deixa
possível qualquer tipo de leitura e também a de todas ao mesmo tempo, porque qualquer
delas se torna coerente diante
dos elementos apresentados.
De novo, aí, o fato de o filme
ser amarrado pela dramatização de uma entrevista concedida pelo médium, em que ele é
colocado em xeque por diversas vezes, e trazer ao final cenas
reais da entrevista, só colabora
para a credibilidade da história.
O filme tem lá seus problemas, como se tornar um pouco
arrastado quando se aproxima
da metade, mas quando a historia deslancha isso é facilmente
esquecível. Claro, nosso cinema é falível, especialmente se
você fizer uma lista de itens a
criticar, mas diante da satisfação do público, qualquer das lamentações cinéfilas brasileiras
(como "o cinema argentino é
muito melhor, blá blá blá...")
soam em "Chico Xavier" apenas como pura mesquinharia.
Avaliação: bom
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