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SEMINÁRIO
Diretor fez palestra na abertura de evento sobre "Estética da Periferia", que termina hoje em universidade carioca
No Rio, Solanas critica mídia e Hollywood
RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO
Para o cineasta argentino Fernando Solanas, 69, a TV é simultaneamente responsável pelo espaço que os cinemas nacionais
perdem em relação a Hollywood e
pela crise econômica por que passou o seu país no início desta década. "Estamos diante da falácia
da democracia midiática."
A idéia foi exposta durante sua
conferência sobre cinema e política, acompanhada por cerca de 50
pessoas, que inaugurou anteontem o seminário "Estética da Periferia", na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O evento
tem por objetivo discutir a produção cultural das regiões pobres
das grandes cidades brasileiras.
Vencedor do Urso de Ouro do
Festival de Berlim do ano passado
pelo conjunto da obra, Solanas
afirmou que a política econômica
"neoliberal" implementada na
Argentina na década de 90 só pôde vingar por causa da "lavagem
cerebral" feita pelos meios de comunicação de massa em favor do
receituário do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Ele disse que "respeitáveis jornalistas, comunicadores, bonitas
mulheres, todos com grande capacidade de sedução" foram os
atores de uma "campanha publicitária lançada como bombardeio
em cadeia por meio do rádio e da
TV": "Nos anos 90, nos meios de
comunicação, era impossível
questionar o modelo".
Ele tratou a TV como "o mais
extraordinário instrumento de
formação -ou deformação-
dos modelos civilizatórios". "Temos sociedades altamente midiáticas. As grandes maiorias não
lêem os jornais", declarou.
No caso da crise argentina, disse
que os meios de comunicação
criaram uma "cultura da resignação e da derrota", que provocou,
por mais de uma década, "um
sentimento profundo de que a
realidade não podia ser mudada".
Sobre o cinema, a relação é a seguinte: para Solanas, a TV é "o
maior circuito de filmes" que há e
forma, assim, "o gosto do espectador de cinema". O problema, para
ele, é que, como no caso econômico, só um modelo é apresentado
nesse circuito. O hollywoodiano.
"O espectador [de cinema] é o
mesmo que todo dia vê TV -e
ele já está acostumado a certo tipo
de corte. Os canais estão saturados de filmes americanos."
Para ele, o modelo é redutor. "O
cinema de Hollywood responde a
uma estrutura de causa e efeito.
Não há "cinzas". É sempre a luta do
bem contra o mal, do assassino
contra o justiceiro."
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