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LITERATURA
Festa terá o palestino Barghouti e o nigeriano Iweala, que estão entre novidades de editoras nacionais
Flip acolhe os novos periféricos
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Por sintonia e espírito do tempo, a Festa Literária Internacional
de Parati trará ao país em agosto
dois escritores que são aquisições
recentes de editoras brasileiras
cujo foco em autores oriundos de
países periféricos vem aumentando. São eles o palestino Mourid
Barghouti, cujo "Eu Vi Ramallah"
foi lançado em março pela editora
Casa da Palavra, e o nigeriano
Uzodinma Iweala, de quem a editora Nova Fronteira publica, em
julho, "Feras de Lugar Nenhum".
Ruth Lanna, diretora de programação da Flip, confirma que a seleção mantém "um olho voltado
para escritores de quem nunca se
ouviu falar no Brasil". E mais:
muitos desses autores têm em comum o fato de serem considerados "periféricos" dentro do
"mainstream". Ou seja, são africanos, árabes, asiáticos etc. que
vivem e produzem no eixo literário Estados Unidos/Europa. O nigeriano Iweala, que em seu livro
narra uma guerra entre tribos
africanas, mora em Washington.
Outro convidado da Flip 2006,
ainda inédito no Brasil, Benjamin
Zephaniah mora em Londres,
mas é descendente de jamaicanos.
Em série
No Brasil, Iweala e Barghouti fazem parte de séries voltadas justamente para os chamados periféricos emergentes. Na Nova Fronteira, Iweala faz parte do que a editora chama de uma "campanha".
Com "A Novidade Vem de Fora",
a casa já apresentou ao leitor brasileiro a jovem Faïza Guène, argelina que mora em Paris, autora de
"Amanhã, numa Boa". Já Barghouti está na coleção "Palavra do
Mundo", da Casa da Palavra.
À frente do elenco de novidades
da Nova Fronteira, está a editora
Izabel Aleixo, responsável pela
publicação no Brasil do best-seller
"O Caçador de Pipas". O título,
que está na lista de mais vendidos
da Folha desde outubro do ano
passado, se encaixa na filosofia:
seu autor, Khaled Hosseini, é afegão, mas vive nos Estados Unidos.
"O que está acontecendo é que
muitos autores estão se destacando, trazendo um novo olhar para
as sociedades, com as línguas e as
literaturas do "mainstream'", avalia Aleixo. "Os periféricos estão
escrevendo em inglês e em francês, morando nas cidades da Europa e dos Estados Unidos, refletindo ao mesmo tempo os dois lados opostos, a periferia e o
"mainstream". Não são mais os
longínquos exóticos, com culturas e problemas muito diferentes.
São os vizinhos, as pessoas do outro lado da rua."
Israel, Nigéria e Tailândia
Para outubro, a Nova Fronteira
já prevê o lançamento no Brasil de
um novo título na linha: "The
Space Between Us" [o espaço entre nós], da escritora Thrity Umrigar, uma indiana nascida em
Bombaim, que migrou para os
Estados Unidos aos 21 anos.
Na Casa da Palavra, quem responde pela coleção "Palavra do
Mundo" é a editora Martha Ribas.
A idéia da coleção surgiu na Feira
de Frankfurt, numa reunião com
editores latino-americanos, africanos, asiáticos, do Leste Europeu
etc. Já naquele momento Ribas teve vontade de trazer para o Brasil
um livro romeno, mas a tradução
acabou sendo um obstáculo.
Agora, depois do desafio de traduzir Barghouti do original em
árabe, a editora está às voltas com
uma antologia de contos em hebraico, do israelense Etgar Keret.
E já tem na manga um autor nigeriano e outro tailandês.
"A maioria dos leitores brasileiros não tem acesso à literatura periférica, e a coleção pretende fazer
com que eles viajem por esses novos universos, ainda pouco explorados pelo mercado editorial do
país. Quanto aos autores, apesar
de conhecerem e freqüentarem
esse eixo, eles não produzem nele.
Sua inspiração, seus temas não se
dão nele", diz Ribas, que trará
também à Flip o mexicano David
Toscana para o lançamento de
"Santa María do Circo".
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