São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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LITERATURA

Festa terá o palestino Barghouti e o nigeriano Iweala, que estão entre novidades de editoras nacionais

Flip acolhe os novos periféricos

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Por sintonia e espírito do tempo, a Festa Literária Internacional de Parati trará ao país em agosto dois escritores que são aquisições recentes de editoras brasileiras cujo foco em autores oriundos de países periféricos vem aumentando. São eles o palestino Mourid Barghouti, cujo "Eu Vi Ramallah" foi lançado em março pela editora Casa da Palavra, e o nigeriano Uzodinma Iweala, de quem a editora Nova Fronteira publica, em julho, "Feras de Lugar Nenhum".
Ruth Lanna, diretora de programação da Flip, confirma que a seleção mantém "um olho voltado para escritores de quem nunca se ouviu falar no Brasil". E mais: muitos desses autores têm em comum o fato de serem considerados "periféricos" dentro do "mainstream". Ou seja, são africanos, árabes, asiáticos etc. que vivem e produzem no eixo literário Estados Unidos/Europa. O nigeriano Iweala, que em seu livro narra uma guerra entre tribos africanas, mora em Washington. Outro convidado da Flip 2006, ainda inédito no Brasil, Benjamin Zephaniah mora em Londres, mas é descendente de jamaicanos.

Em série
No Brasil, Iweala e Barghouti fazem parte de séries voltadas justamente para os chamados periféricos emergentes. Na Nova Fronteira, Iweala faz parte do que a editora chama de uma "campanha". Com "A Novidade Vem de Fora", a casa já apresentou ao leitor brasileiro a jovem Faïza Guène, argelina que mora em Paris, autora de "Amanhã, numa Boa". Já Barghouti está na coleção "Palavra do Mundo", da Casa da Palavra.
À frente do elenco de novidades da Nova Fronteira, está a editora Izabel Aleixo, responsável pela publicação no Brasil do best-seller "O Caçador de Pipas". O título, que está na lista de mais vendidos da Folha desde outubro do ano passado, se encaixa na filosofia: seu autor, Khaled Hosseini, é afegão, mas vive nos Estados Unidos.
"O que está acontecendo é que muitos autores estão se destacando, trazendo um novo olhar para as sociedades, com as línguas e as literaturas do "mainstream'", avalia Aleixo. "Os periféricos estão escrevendo em inglês e em francês, morando nas cidades da Europa e dos Estados Unidos, refletindo ao mesmo tempo os dois lados opostos, a periferia e o "mainstream". Não são mais os longínquos exóticos, com culturas e problemas muito diferentes. São os vizinhos, as pessoas do outro lado da rua."

Israel, Nigéria e Tailândia
Para outubro, a Nova Fronteira já prevê o lançamento no Brasil de um novo título na linha: "The Space Between Us" [o espaço entre nós], da escritora Thrity Umrigar, uma indiana nascida em Bombaim, que migrou para os Estados Unidos aos 21 anos.
Na Casa da Palavra, quem responde pela coleção "Palavra do Mundo" é a editora Martha Ribas. A idéia da coleção surgiu na Feira de Frankfurt, numa reunião com editores latino-americanos, africanos, asiáticos, do Leste Europeu etc. Já naquele momento Ribas teve vontade de trazer para o Brasil um livro romeno, mas a tradução acabou sendo um obstáculo.
Agora, depois do desafio de traduzir Barghouti do original em árabe, a editora está às voltas com uma antologia de contos em hebraico, do israelense Etgar Keret. E já tem na manga um autor nigeriano e outro tailandês.
"A maioria dos leitores brasileiros não tem acesso à literatura periférica, e a coleção pretende fazer com que eles viajem por esses novos universos, ainda pouco explorados pelo mercado editorial do país. Quanto aos autores, apesar de conhecerem e freqüentarem esse eixo, eles não produzem nele. Sua inspiração, seus temas não se dão nele", diz Ribas, que trará também à Flip o mexicano David Toscana para o lançamento de "Santa María do Circo".


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