Em "Espelho", que chega à segunda temporada amanhã, no Canal Brasil, ator discute questões raciais

BRUNO SEGADILHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dono de uma carreira muito bem sucedida, Lázaro Ramos, 28, mostra uma forte disposição para se reinventar. Depois de experimentar o sucesso das novelas e de ganhar o respeito da crítica em filmes como "Madame Satã", o ator investe em um programa de tom filosófico para a TV paga.
"Espelho", série que chega a sua segunda temporada amanhã, no Canal Brasil, tem a intenção, segundo o ator criador da atração, de incitar uma reflexão sobre assuntos cotidianos ao longo de 22 episódios.
Enquanto a primeira leva de programas tratava de falar sobre a cultura negra e questões raciais, a atual safra, que agora ganha status de atração fixa do canal, deve investir em temas mais variados, como empreendedorismo feminino e a religiosidade brasileira, todos propostos pelo próprio ator, que teve a idéia de produzir um especial para TV quando ainda atuava no Bando de Teatro Olodum, da Bahia.
"Inicialmente pensei em fazer um programa que discutisse questões da raça negra da maneira que o espetáculo "Cabaré da Raça", do Bando, que está em cartaz até hoje."

Preconceito
Questionado sobre a possibilidade de acabar produzindo um programa preconceituoso ao dar tanta ênfase às questões negras, Lázaro diz não temer possíveis rótulos.
"Tratamos de questões muito necessárias no programa. Mesmo que ele seja tachado do que quer que seja, existe um reconhecimento da importância dos temas debatidos. Geralmente, na dramaturgia e no entretenimento, a questão negra é levantada por pessoas que não são negras. É legal que as pessoas vejam os assuntos sendo abordados por mim, como ator e diretor, de uma forma diferente daquela visão exótica", diz o ator, que acredita ser uma questão política retratar o negro com naturalidade.
Tanto engajamento levou Lázaro a retirar de seu próprio bolso a verba necessária para a produção dos primeiros episódios do programa, já que o cronograma do Canal Brasil não batia com a sua agenda de compromissos e o projeto ainda não havia sido aprovado até o início do ano.
Na agenda do ator, estão a peça "O Método Grönholm", atualmente em cartaz em São Paulo, e a adaptação de "Ó Paí, Ó", longa de Monique Gardenberg, para a TV.