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BIA ABRAMO
Desespero das donas-de-casa tem solução
Como fazer a
transposição de uma série que é baseada na cultura de subúrbio?
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SÓ ESTRÉIA em agosto, mas foi a
notícia da semana na área de
TV: a Rede TV! apresentou o
elenco de "Donas de Casa Desesperadas" e divulgou números oficiais
do investimento que vai fazer para a
produção do seriado (US$ 5 milhões,
cerca de R$ 10 milhões). O investimento é alto, o título é prestigioso e,
no entanto, já tem cara de fiasco.
Como fazer a transposição de uma
série que é baseada na cultura de subúrbio e no fato de que as personagens que são, simultaneamente, donas-de-casa à americana e mulheres
modernas, liberadas? Por donas-de-casa à americana, entenda-se: trata-se de uma organização doméstica na
qual estão total ou parcialmente ausentes as empregadas domésticas.
Parece um detalhe, mas não é. A
piada do seriado é justamente esta, a
de levantar o tapete de um modelo
de domesticidade e destino feminino que, em linhas essenciais, tenta
preservar uma divisão de trabalho,
responsabilidades e universos tal como foi estabelecida lá nos anos 50.
Sim, aqui há donas-de-casa, mas elas
são mesmo as donas das casas, administradoras do trabalho doméstico
exercido por outras mulheres, e não
as "esposas da casa".
Apenas um exemplo: a personagem de Felicity Huffman, Lynette, é
uma executiva de sucesso, que opta
por cuidar dos filhos na primeira
gravidez e se vê com quatro filhos
pestes. Sem uma babá sequer, nem
ao menos uma faxineira.
Ora, é só andar pelos parques e
shoppings nos finais de semana em
qualquer grande cidade brasileira
para se espantar com a quantidade
de moças vestidas de branco, carregando ou entretendo filhos únicos
de casais perfeitamente saudáveis e
aptos.
Se há algum mérito nas séries norte-americanas, ele está justamente
na enorme capacidade de se representar, de maneira razoavelmente
verossímil.
Aqui, a recusa em se enxergar é
inacreditável.
Nesse sentido, "Paraíso Tropical"
está num fio de navalha. Se, por um
lado, a representação do mundo corporativo e dos tipos à margem do dinheiro e do poder são excelentes, as relações amorosas são por demais
presas aos modelos românticos. O
problema de Paula e Daniel não é de
uma eventual falta de química entre
Fábio Assunção e Alessandra Negrini, mas da dificuldade de engolir a
idéia de o desencontro amoroso ser
fruto das circunstâncias, dos equívocos, do "destino", em suma.
biaabramo.tv@uol.com.br
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