São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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Crítica

Hitchcock brilha em tempos de guerra

CRÍTICO DA FOLHA

Hitchcock gostava de desafios. Um deles: fazer um filme inteiramente em um barco, com nove sobreviventes de um naufrágio. Estamos no território de "Um Barco e Nove Destinos" (Telecine Classic, 20h10).
Desafio extra, mas não secundário: como fazer sua célebre aparição num filme em que só veremos os nove sobreviventes? Aí vai: ele aparece num jornal, num anúncio tipo "antes" e "depois".
Isso já valeria o filme. Claro que há muito mais. Estávamos em 1943, o nazismo era um perigo, Hollywood estava toda mobilizada para ajudar no esforço de guerra, e não seria o gênio britânico que fugiria ao desafio.
Para começar, Hitchcock parece se divertir imensamente colocando num bote salva-vidas um grupo de personagens bem diferentes uns dos outros: de uma jornalista sofisticada a um serviçal negro, de um capitalista a um esquerdista.
É claro que não poderia faltar, entre eles, um alemão (Walter Slezak). No princípio, parece um inocente alemão, apenas um sobrevivente. Mas estamos na guerra e num filme de Hitchcock: isso, portanto, não existe.
Soará isso inverossímil ao espectador de hoje? Talvez. O espírito da guerra é, em princípio, meio específico. Mas não nos iludamos: Hitchcock desprezava a verossimilhança, que tratava como um símile da mediocridade. "Um Barco e Nove Destinos" é, claro, genial.
(INÁCIO ARAUJO)


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