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"A FESTA NUNCA TERMINA"
Longa de Michael Winterbottom é ambientado na Manchester dos anos 70 aos 90
Deboche pontua gênese da música pop inglesa
COLUNISTA DA FOLHA
Se você de alguma forma e em
algum momento se envolveu
musicalmente com a cena de
Manchester dos anos 70 aos 90 e
nomes como Joy Division e New
Order fazem sentido, "A Festa
Nunca Termina" é o seu filme.
Estréia tardia (é do ano passado), mas frequentador de festivais
de cinema brasileiros, "A Festa
Nunca Termina" é documentário
dramatizado sobre a prolífica cena musical da cidade inglesa, que
floreou de agito e bandas boas a
cultura pop inglesa depois que os
Sex Pistols gritaram "No Future"
na Londres-76.
Quem reconta a história da fabulosa movimentação jovem do
pós-punk britânico desde o perturbado Joy Division até o lisérgico Happy Mondays é a persona
Tony Wilson (Steve Coogan), repórter da TV local, empresário indie de rock e depois executivo de
gravadora. Wilson foi proprietário da lendária Factory Records e
envolvido com o famoso clube
Haçienda, que fechou com o aumento da violência no local.
Mas é exatamente esse jeitão de
biografia que torna o filme por vezes afetado e ambicioso, mais típico do recente britpop. Isso pode
até ofuscar um pouco a magnitude dos 17 anos que a história compreende, desde que os Pistols foram à cidade tocar (começo do filme) até os encrenqueiros Shaun e Paul Ryder dividirem seu tempo
de arruaça com a arte de formar o
Happy Mondays. Mas o deboche,
a afetação e principalmente a ambição são marcas da cidade mais
sexo, drogas e rock'n'roll do mundo, então não faz tão mal ao filme
"A Festa Nunca Termina" começa matando logo o mocinho da
trama real. O filme paga tributo
visual a Ian Curtis, ponto nevrálgico da ascensão e queda de Manchester que montou o seminal Joy
Division para pouco depois cometer suicídio, o que marca a virada das cores de Manchester.
Saiu o preto da geração "sem futuro" e entrou o colorido da fase
dance e chapada que descambaria, nos 90, na bifurcação house
music e britpop.
O bom de "A Festa..." é que ele
não se leva a sério tanto quanto
Manchester sempre se levou. As
interpretações não comprometem, e o filme enche a trama de
personagens da vida pop real
(Howard Devoto, do Buzzcocks, e
Mark E. Smith, do Fall, são dois).
"Eu tenho sido pós-moderno
muito antes de o pós-modernismo virar cool", diz Tony Wilson.
Se "A Festa..." for tratado como
um docudrama, a frase acima é
muito séria na primeira metade
da definição do filme. Na segunda, soa engraçada. No final, levando em conta que um filme desses
gera um trilha sonora bacana e
enche as salas de som pop de primeira, "A Festa Nunca Termina"
é um evento.
(LÚCIO RIBEIRO)
A Festa Nunca Termina
24 Hour Party People
Produção: Grã-Bretanha/França/
Holanda, 2002
Direção: Michael Winterbottom
Com: Steve Coogan, Sean Harris
Quando: a partir de hoje nos cines
Cinearte, Frei Caneca Unibanco Arteplex,
Market Place Cinemark e Top Cine
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