|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
biblioteca FOLHA
Guerras e revoluções estão entre os temas dos 30 livros que a Publifolha põe à disposição do leitor a partir de domingo
Coleção traz grandes acontecimentos que marcaram século 20
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Muito da história do século 20
pode ser lido nas linhas e sobretudo nas entrelinhas dos grandes
romances do período. Pelos 30 livros que a Publifolha começa a
colocar à disposição do leitor da
Folha no próximo domingo, passam as guerras, revoluções, crises
econômicas, ditaduras policiais e
incertezas políticas que convulsionaram o século.
Claro que nem sempre esses
acontecimentos ocupam o centro
da narrativa. São, em geral, seu
pano de fundo, ou antes sua moldura. A maneira como a história
entra nesses livros é oblíqua e depende sempre da faculdade de
transfiguração dos escritores.
A Primeira Guerra Mundial,
por exemplo, aparece quase como
um eco em "Rumo ao Farol", de
Virginia Woolf, em que uma família passa férias com amigos numa ilha localizada na Escócia no
início do conflito.
Mas a crise vivida por um navio
em alto-mar em "Linha de Sombra", de Joseph Conrad, publicado em 1917, pode muito bem ser lida como uma alegoria do impasse extremo vivido pela civilização
durante a guerra, na qual combatia um filho do próprio autor.
Por outro lado, os horrores sofridos num internato pelo protagonista do romance de formação "O Jovem Törless", publicado em
1906 por Robert Musil, antecipam
de certa forma a própria guerra e
os Estados policiais que se formariam em seguida a ela.
Terror totalitário
Entretanto, a grande profecia do
terror totalitário, escrita no calor
da Primeira Guerra Mundial, seria "O Processo", de Franz Kafka,
que retrata o pesadelo de um
mundo em que o indivíduo não
compreende os mecanismos invisíveis que o aprisionam.
Significativamente, tanto o austríaco Musil como o tcheco Kafka
vinham das bordas da cultura
germânica que viveria a aventura
hitlerista.
O totalitarismo, em especial o
da Rússia stalinista, reapareceria
sob a forma de fábula em "A Revolução dos Bichos" (1945), de
George Orwell.
O período que se seguiu à Primeira Guerra, com tudo o que ela
trouxe de fim da inocência, de
questionamento dos valores e de
desespero existencial, foi fértil em
grandes obras de ficção.
América
Se um romance como "O Grande Gatsby", de Scott Fitzgerald,
fala de uma América de novos ricos e hedonismo suntuoso -cujo
contraponto é uma aguda crise
moral-, "O Fio da Navalha", de
Somerset Maugham, acompanha
a trajetória de um americano que,
depois de lutar na guerra, rompeu
com sua cultura e foi buscar no
velho Oriente um novo sentido
para a vida.
Um outro tipo de exilado do sonho americano aparece no autobiográfico "Trópico de Câncer",
de Henry Miller, que buscava na
vivência radical do sexo um antídoto à mediocridade burguesa.
Por fim, há os livros que mostram as periferias dos impérios
moribundos ou emergentes.
Os contos de "Dublinenses"
(1914), de James Joyce, fazem uma
espécie de história da vida privada
da nascente Irlanda, que só se tornaria independente do jugo britânico em 1922.
Em "O Amante", o ocaso do domínio francês na Indochina é o
pano de fundo do amor paradoxal entre uma adolescente francesa e um chinês mais velho na Saigon dos anos 30.
América Latina
A Cuba pré-Fidel Castro, amplamente dominada pelos Estados Unidos, aparece por sua vez
na sátira de espionagem "Nosso
Homem em Havana", de Graham
Greene.
As mazelas tragicômicas dos
grotões da América Latina emergem, sob formas literárias diversas, nas obras "Pantaleón e as Visitadoras", de Mario Vargas Llosa, "Sargento Getúlio", de João
Ubaldo Ribeiro, e sobretudo em
"Cem Anos de Solidão", do autor
Gabriel García Márquez, que lança mão do fantástico para buscar
o espírito mais profundo desse
continente.
Em suma: de Dublin a Macondo, o que não falta é história nessas histórias.
Texto Anterior: Até guitarra, quem diria, volta a caber na banda Próximo Texto: Panorâmica - Justiça: EMI se junta a ação contra o Napster Índice
|