São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010

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Fifa quer tecnologia na TV, mas não em campo

Entidade que organiza futebol promove show da transmissão mas renova em 2010 o veto ao uso de aparatos eletrônicos pelos juízes

Para comentarista de futebol, a câmera lenta pode distorcer lances em que se discute se houve ou não uma falta

Eduardo Knapp/Folhapress
Cinegrafista capta imagens do treino da seleção no estádio Dobsonville, África do Sul, na última quinta

DE SÃO PAULO

"A tecnologia não deve entrar no futebol. Desejamos que ele continue sendo humano. Aí está a sua beleza."
Assim um representante da Fifa justificou, em março, o veto ao uso de aparatos eletrônicos pelos juízes.
Ao mesmo tempo, a instituição que organiza o esporte no mundo incentiva as inovações nas transmissões de TV para dissecar lances duvidosos nos jogos da Copa.
Foi pênalti? A falta era para cartão vermelho? O atacante estava em impedimento? O olho humano não captou; a tecnologia soluciona.
"Quanto mais informações, melhor. O telespectador quer se sentir dentro do jogo", opina Caio Ribeiro, comentarista da TV Globo.
Mas ele pede "tolerância" aos juízes, que "têm de tomar decisões rápidas".
"É uma covardia com os árbitros", afirma Wilson Luiz Seneme, que apita jogos do Campeonato Brasileiro. "Não temos o ângulo de visão dessas câmeras. Quanto mais a tecnologia avança, mais ficamos vulneráveis às críticas."
Recurso utilizado há tempos nas transmissões de futebol, a câmera lenta, nesta Copa, ficará ainda mais potente. Para Vitor Birner, comentarista do "Cartão Verde", da TV Cultura, e do portal Vírgula, a ferramenta deve ser utilizada com cautela.
"A câmera lenta serve para sabermos se a bola saiu ou não, se entrou ou não no gol. Quando é usada em lances em que o jogador comete uma falta, ela distorce a jogada. Você perde a noção de força, de velocidade."
A tecnologia eletrônica, por enquanto, não é usada nos jogos de futebol, mas indiretamente já influencia no que ocorre dentro do campo.
Sergio Soares, técnico do Santo André, vice-campeão paulista, diz que os treinadores têm assistentes que veem as partidas pela TV e revelam por telefone, para os técnicos, se o time está sendo prejudicado pela arbitragem.
Para ele, a TV "deveria tentar mostrar a visão do juiz em lances duvidosos. Aí poderíamos julgá-lo melhor".
Caio Ribeiro diz que a quantidade de câmeras no campo intimida os jogadores, que evitam infrações.
"As câmeras mostram tudo. O jogador deve ter noção de que a malandragem que havia antes não tem mais espaço. Se antes ele cuspia ou empurrava alguém e saía impune porque ninguém via, hoje será visto por todos."
(THIAGO NEY E LAURA MATTOS)


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