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Fifa quer tecnologia na TV, mas não em campo
Entidade que organiza futebol promove show da transmissão mas
renova em 2010 o veto ao uso de aparatos eletrônicos pelos juízes
Para comentarista de futebol, a câmera lenta pode distorcer lances em que se discute se houve ou não uma falta
Eduardo Knapp/Folhapress
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Cinegrafista capta imagens do treino da seleção no estádio Dobsonville, África do Sul, na última quinta
DE SÃO PAULO
"A tecnologia não deve entrar no futebol. Desejamos
que ele continue sendo humano. Aí está a sua beleza."
Assim um representante
da Fifa justificou, em março,
o veto ao uso de aparatos eletrônicos pelos juízes.
Ao mesmo tempo, a instituição que organiza o esporte
no mundo incentiva as inovações nas transmissões de
TV para dissecar lances duvidosos nos jogos da Copa.
Foi pênalti? A falta era para cartão vermelho? O atacante estava em impedimento? O olho humano não captou; a tecnologia soluciona.
"Quanto mais informações, melhor. O telespectador quer se sentir dentro do
jogo", opina Caio Ribeiro, comentarista da TV Globo.
Mas ele pede "tolerância"
aos juízes, que "têm de tomar
decisões rápidas".
"É uma covardia com os
árbitros", afirma Wilson Luiz
Seneme, que apita jogos do
Campeonato Brasileiro. "Não
temos o ângulo de visão dessas câmeras. Quanto mais a
tecnologia avança, mais ficamos vulneráveis às críticas."
Recurso utilizado há tempos nas transmissões de futebol, a câmera lenta, nesta Copa, ficará ainda mais potente. Para Vitor Birner, comentarista do "Cartão Verde", da
TV Cultura, e do portal Vírgula, a ferramenta deve ser utilizada com cautela.
"A câmera lenta serve para
sabermos se a bola saiu ou
não, se entrou ou não no gol.
Quando é usada em lances
em que o jogador comete
uma falta, ela distorce a jogada. Você perde a noção de
força, de velocidade."
A tecnologia eletrônica,
por enquanto, não é usada
nos jogos de futebol, mas indiretamente já influencia no
que ocorre dentro do campo.
Sergio Soares, técnico do
Santo André, vice-campeão
paulista, diz que os treinadores têm assistentes que veem
as partidas pela TV e revelam
por telefone, para os técnicos, se o time está sendo prejudicado pela arbitragem.
Para ele, a TV "deveria tentar mostrar a visão do juiz em
lances duvidosos. Aí poderíamos julgá-lo melhor".
Caio Ribeiro diz que a
quantidade de câmeras no
campo intimida os jogadores, que evitam infrações.
"As câmeras mostram tudo. O jogador deve ter noção
de que a malandragem que
havia antes não tem mais espaço. Se antes ele cuspia ou
empurrava alguém e saía impune porque ninguém via,
hoje será visto por todos."
(THIAGO NEY E LAURA MATTOS)
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