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ENÓLOGO DE "MONDOVINO" ROUBA A CENA NO SUL
DO ENVIADO A BENTO GONÇALVES
A estrela da noite seria a
planta industrial recheada de
tonéis de carvalho francês e
americano, síntese do empreendimento inaugurado na
última segunda-feira pela vinícola Miolo no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves,
no Rio Grande do Sul. Mas a
estrela acabou sendo o distinto senhor de barba curta e grisalha que orientou as decisões
estratégicas da empresa, o
enólogo e consultor francês
Michel Rolland.
Simpático, espirituoso e
egocêntrico (refere-se com
freqüência a si mesmo na terceira pessoa), Rolland é figura
importante e controversa no
mundo vinícola. Consultor de
mais de cem empresas (inclusive na Índia e África do Sul),
tem sua mão em vinhos maravilhosos -do francês Château
Ausone, que pode custar mais
de 1.000 a garrafa, ao Clos
Apalta chileno.
Por outro lado, é acusado
de fomentar a "parkerização"
dos vinhos -a padronização
da bebida para satisfazer o
gosto do todo-poderoso crítico americano (seu amigo) Robert Parker, que dá boas notas aos vinhos de quem contrata Rolland, na visão do documentário "Mondovino", de
Jonathan Nossiter.
Se na França sua atuação
pode desnaturar vinhos que
tinham características próprias de seu local de origem,
no Novo Mundo ele tem ajudado a modernizar vinícolas
importantes.
No caso brasileiro, o diretor-técnico Adriano Miolo
pedira uma assessoria para
construir uma nova adega.
Rolland o convenceu a, primeiro, jogar fora todas as parreiras cultivadas há décadas
pela família e replantar os vinhedos, trazendo novas mudas européias e mudando a
condução (a disposição no
terreno) das videiras. Somente sobre esta base, disse ele,
valeria a pena construir a nova adega produtora, que se
baseia em conceitos modernos (como o transporte das
uvas por gravidade, para evitar ao máximo a manipulação
mecânica). Outro ponto seria
identificar em cada parcela,
ou terroir, qual o tipo de uva e
vinho mais adequado.
Com o trabalho iniciado em
2003, o resultado que se vê
hoje é um moderno complexo
com capacidade anual de produção de 5 milhões de litros
de vinho, a partir de 450 hectares (120 pertencentes à família) de vinhedos.
Deles saem os dois lançamentos apresentados nesta
segunda: o espumante Millésime 2004, a ser produzido só
em anos excepcionais e com
uvas chardonnay e pinot noir
de um único vinhedo (o São
Gabriel, em Garibaldi); e o
Merlot Terroir 2004, um tinto elegante com tiragem de 18
mil garrafas, feito com a uva
típica da região de Rolland (o
Pomerol) e que considera a
que melhor pode expressar o
terroir do Vale dos Vinhedos.
Da mesma forma que, arrisca,
as terras da Campanha gaúcha se prestam aos vinhos de
variedades portuguesas, e o
vale do São Francisco, para a
uva syrah.
(JM)
O crítico JOSIMAR MELO viajou a Bento Gonçalves a convite da Miolo Wine Group
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