São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

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ENÓLOGO DE "MONDOVINO" ROUBA A CENA NO SUL

DO ENVIADO A BENTO GONÇALVES

A estrela da noite seria a planta industrial recheada de tonéis de carvalho francês e americano, síntese do empreendimento inaugurado na última segunda-feira pela vinícola Miolo no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Mas a estrela acabou sendo o distinto senhor de barba curta e grisalha que orientou as decisões estratégicas da empresa, o enólogo e consultor francês Michel Rolland.
Simpático, espirituoso e egocêntrico (refere-se com freqüência a si mesmo na terceira pessoa), Rolland é figura importante e controversa no mundo vinícola. Consultor de mais de cem empresas (inclusive na Índia e África do Sul), tem sua mão em vinhos maravilhosos -do francês Château Ausone, que pode custar mais de 1.000 a garrafa, ao Clos Apalta chileno.
Por outro lado, é acusado de fomentar a "parkerização" dos vinhos -a padronização da bebida para satisfazer o gosto do todo-poderoso crítico americano (seu amigo) Robert Parker, que dá boas notas aos vinhos de quem contrata Rolland, na visão do documentário "Mondovino", de Jonathan Nossiter.
Se na França sua atuação pode desnaturar vinhos que tinham características próprias de seu local de origem, no Novo Mundo ele tem ajudado a modernizar vinícolas importantes.
No caso brasileiro, o diretor-técnico Adriano Miolo pedira uma assessoria para construir uma nova adega.
Rolland o convenceu a, primeiro, jogar fora todas as parreiras cultivadas há décadas pela família e replantar os vinhedos, trazendo novas mudas européias e mudando a condução (a disposição no terreno) das videiras. Somente sobre esta base, disse ele, valeria a pena construir a nova adega produtora, que se baseia em conceitos modernos (como o transporte das uvas por gravidade, para evitar ao máximo a manipulação mecânica). Outro ponto seria identificar em cada parcela, ou terroir, qual o tipo de uva e vinho mais adequado.
Com o trabalho iniciado em 2003, o resultado que se vê hoje é um moderno complexo com capacidade anual de produção de 5 milhões de litros de vinho, a partir de 450 hectares (120 pertencentes à família) de vinhedos. Deles saem os dois lançamentos apresentados nesta segunda: o espumante Millésime 2004, a ser produzido só em anos excepcionais e com uvas chardonnay e pinot noir de um único vinhedo (o São Gabriel, em Garibaldi); e o Merlot Terroir 2004, um tinto elegante com tiragem de 18 mil garrafas, feito com a uva típica da região de Rolland (o Pomerol) e que considera a que melhor pode expressar o terroir do Vale dos Vinhedos. Da mesma forma que, arrisca, as terras da Campanha gaúcha se prestam aos vinhos de variedades portuguesas, e o vale do São Francisco, para a uva syrah. (JM)


O crítico JOSIMAR MELO viajou a Bento Gonçalves a convite da Miolo Wine Group


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