São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2007

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br

Uma história audaciosa da moda

Sai no Brasil "A Cultura das Aparências", estudo sobre as roupas nos séculos 17 e 18

O estudo intelectual das roupas ainda é algo rudimentar no Brasil, apesar das várias escolas de moda de nível superior que se espalham pelo país. Prova disso é a escassez nas livrarias brasileiras de obras significativas sobre história, sociologia ou antropologia das vestimentas.
Contam-se nos dedos as publicações relevantes, como "A Cultura das Aparências - Uma História da Indumentária (Séculos 17 e 18)", de Daniel Roche, que acaba de ser lançado pela editora Senac. Trata-se de um livro essencial para entender a história da moda.
Roche, 62, é hoje um dos principais historiadores franceses, além de professor no prestigioso Collège de France. Influenciado pela escola dos Annales e pelo marxismo, conjuga a história econômica com a história cultural.
Seu campo privilegiado de estudo são as mudanças ocorridas na França ao longo do século 18, época que assistiu à emergência do Iluminismo, ao fim da monarquia absolutista e à eclosão revolucionária. Sobre esse período, Roche publicou obras conceituadas, como "O Povo de Paris" (Edusp) e "História das Coisas Banais - Nascimento do Consumo" (Rocco).
Em "A Cultura das Aparências", considerado seu livro mais ambicioso, ele aborda as mudanças que atingiram o uso e o consumo de roupas desde o apogeu da monarquia até a Revolução Francesa (1789).
Por meio de uma enorme pesquisa, que incluiu a consulta a quase mil documentos (inclusive inventários póstumos e livros contábeis), ele busca demonstrar como a moda, ao se espalhar para além da esfera aristocrática, foi crucial para constituir um sistema econômico que serviria de base à Revolução Industrial e para difundir uma nova sensibilidade social e cultural, associada às idéias iluministas de liberdade, igualdade e individualidade.
Roche, na verdade, está tratando neste livro do surgimento da sociedade moderna pelo viés da moda, que encontrou na França um terreno privilegiado de difusão sobretudo devido ao papel que as roupas exerceram no sistema de distinções da nobreza, desde Francisco 1º (1497-1547) até o reinado de Maria Antonieta, passando, é claro, por Luís 14 (1638-1715).
A imitação dos estilos aristocráticos se espalhou pela sociedade que se desvencilhava das "leis suntuárias" e das interpretações católicas que orientavam sobre o uso apropriado das roupas no período monárquico. As mudanças acabaram criando no país uma sensibilidade favorável à moda, ao mesmo tempo em que ocorria a expansão das manufaturas do luxo e da indústria têxtil.
O surgimento de uma fervilhante imprensa de moda no final do século 18, realizada inclusive por mulheres, sedimentou o processo, levando o gosto parisiense a se espalhar pela Europa e pelo mundo.
O autor analisa minuciosamente todo esse processo, utilizando um instrumental historiográfico raramente empregado para estudar o vestuário. Ele compara os guarda-roupas de cinco famílias de diferentes níveis sociais, da nobreza ao povo -o qual jamais perderá de vista ao longo de seu livro.
Aborda também a invenção da roupa-branca (roupa de baixo) e como ela foi importante para a padronização do processo de consumo, dos modos de produção e para a difusão da idéia de igualdade.
Roche trata ainda da importância dos uniformes para a proto-indústria de roupas. Esclarece sobre a formação dos diferentes ofícios ligados à moda e como suas disputas (por exemplo, entre alfaiates e costureiras) ajudaram a formar o novo sistema produtivo que emergia na França.
Analisa também como a moda se associou a procedimentos de asseio e higiene em difusão a partir do século 18. Expõe como a roupa foi tema incontornável para filósofos iluministas e utopistas. E, num dos capítulos mais interessantes do livro, mostra como a imprensa de moda -e a moda em geral- serviu tanto para remodelar as elites européias quanto para dar autonomia às mulheres.
São mais de 500 páginas de cerrada análise histórica, às vezes, um pouco pedregosa para leigos, mas com detalhes muito saborosos e, no conjunto, bastante enriquecedora e audaciosa. Roche quebra inúmeros preconceitos que cercam a moda, demonstra como ela foi central para a formação da época moderna e enfrenta toda uma tradição de estudos históricos que tende a colocar as roupas em segundo plano.


"A Cultura das Aparências - Uma História da Indumentária (Séculos 17-18)", de Daniel Roche. Trad. Assef Kfouri. Editora Senac (tel. 11/2187-4450). 528 págs., R$ 82.

com VIVIAN WHITEMAN

Dior faz 60 anos

Desfile de alta-costura no Palácio de Versalhes reúne supertime de tops

O estilista John Galliano roubou a cena na semana de alta-costura de Paris, iniciada na última segunda-feira, com o desfile comemorativo dos 60 anos da grife Dior. A apresentação, que reuniu um supertime de tops, entre elas, Gisele Bündchen e Naomi Campbell, aconteceu na Orangerie -um pavilhão que era usado como estufa- do Palácio de Versalhes.
Os 45 vestidos apresentados foram inspirados na corte francesa, em especial na do rei Luís 14, e nos trabalhos de grandes mestres da pintura. Rembrandt, Picasso, Monet, Renoir e Velázquez foram alguns dos homenageados pelo estilista.
Além disso, Galliano resgatou momentos importantes da trajetória da Dior, como a emblemática e revolucionária coleção "new look", criada pelo próprio Christian Dior em 1947, e a fase mais dramática da marca, já sob sua direção.
No final, Galliano, com um traje de toureiro, posou ao lado de Gisele, Naomi, Linda Evangelista, Amber Valetta e da brasileira Carol Trentini.
O luxo em sua forma mais teatral também apareceu no desfile de Jean-Paul Gaultier, que vestiu suas mulheres como príncipes e marajás do Oriente, com referências militares, muita pele e um riquíssimo trabalho de bordados.
No final do desfile, em vez da tradicional noiva, Gaultier mostrou um noivo que parecia saído de "As Mil e Uma Noites", com direito a véu e tudo. "Ele veio como um marajá, mas com o sári indiano, que fazia as vezes de véu. Os papéis se inverteram", afirmou o estilista.

Fast-fashion

SÓ NO DESCONTINHO
Começaram as liquidações de inverno em algumas das principais grifes em São Paulo. Fause Haten está com descontos progressivos de 30% a 60%, até o final do mês. A Triton oferece redução de 30% a 50%, até 5 de agosto. Lino Villaventura tem descontos entre 20% e 50%, até o dia 31. Alexandre Herchcovitch está cortando entre 30% e 50%, até 15 de agosto. A Equus Jeans fez abatimentos de até 40%. As estrangeiras também estão queimando estoques. A Ermenegildo Zegna oferece descontos de 40%, até o final do estoque. A Salvatore Ferragamo está com reduções de até 50%.

SERRINHA FASHION
Os estilistas Ronaldo Fraga e Karlla Girotto fazem duas oficinas de moda no 6º Festival de Arte Serrinha, em Bragança Paulista, que começa amanhã. O festival terá ainda workshops conduzidos pelo músico Naná Vasconcelos e os artistas plásticos Dudi Maia Rosa e Leda Catunda, entre outros. Inscrições pelo tel. 0/xx/11/4033-0352.

COBERTOR PARA VESTIR
Mais de 24 grifes, entre elas Reinaldo Lourenço, Valdemar Iódice, Rosa Chá e Serpui Marie, participam da Terceira Noite do Cobertor. As grifes criaram roupas com cobertores que serão vendidas até o dia 16 na Volkswagen Haus (av. Cidade Jardim, 350). A renda vai para entidades assistenciais.

Chanel cria desfile entre plumas e chuva

Apesar da tempestade que caiu em Paris, o desfile de outono-inverno de alta-costura da grife Chanel reuniu celebridades e modelos num lindo jardim às margens do rio Sena.
E, como a seleta platéia de Karl Lagerfeld não poderia ensopar seus preciosas modelitos enquanto a apresentação não começava, centenas de guarda-chuvas pretos com a famosa logomarca Chanel foram entregues aos convidados.
Na passarela, elegantes mulheres-pássaro desfilavam entre cascatas de plumas e longos combinados com óculos escuros, comemorando os 25 anos de Lagerfeld na Chanel.
Na platéia, além das cantoras Fergie e Vanessa Paradis, o cineasta David Lynch, acompanhado de sua mulher, fazia caras e bocas diante da luxuosa coleção criada por Lagerfeld. Apesar da fama de recluso e esquisitão, o diretor não é exatamente um peixe fora d'água no mundo da moda: ele dirigiu o filme publicitário do novo perfume da Gucci.
A estrela do novo comercial, como a Folha noticiou em primeira mão, no mês passado, é a top brasileira Raquel Zimmermann que, coincidentemente, fechou o desfile da Chanel ao lado do próprio Lagerfeld. Mundo pequeno...


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