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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br
Uma história audaciosa da moda
Sai no Brasil "A Cultura das Aparências", estudo sobre as roupas nos séculos 17 e 18
O estudo intelectual das roupas ainda é algo rudimentar no
Brasil, apesar das várias escolas
de moda de nível superior que
se espalham pelo país. Prova
disso é a escassez nas livrarias
brasileiras de obras significativas sobre história, sociologia ou
antropologia das vestimentas.
Contam-se nos dedos as publicações relevantes, como "A
Cultura das Aparências - Uma
História da Indumentária (Séculos 17 e 18)", de Daniel Roche,
que acaba de ser lançado pela
editora Senac. Trata-se de um
livro essencial para entender a
história da moda.
Roche, 62, é hoje um dos
principais historiadores franceses, além de professor no
prestigioso Collège de France.
Influenciado pela escola dos
Annales e pelo marxismo, conjuga a história econômica com
a história cultural.
Seu campo privilegiado de
estudo são as mudanças ocorridas na França ao longo do século 18, época que assistiu à emergência do Iluminismo, ao fim
da monarquia absolutista e à
eclosão revolucionária. Sobre
esse período, Roche publicou
obras conceituadas, como "O
Povo de Paris" (Edusp) e "História das Coisas Banais - Nascimento do Consumo" (Rocco).
Em "A Cultura das Aparências", considerado seu livro
mais ambicioso, ele aborda as
mudanças que atingiram o uso
e o consumo de roupas desde o
apogeu da monarquia até a Revolução Francesa (1789).
Por meio de uma enorme
pesquisa, que incluiu a consulta
a quase mil documentos (inclusive inventários póstumos e livros contábeis), ele busca demonstrar como a moda, ao se
espalhar para além da esfera
aristocrática, foi crucial para
constituir um sistema econômico que serviria de base à Revolução Industrial e para difundir uma nova sensibilidade social e cultural, associada às
idéias iluministas de liberdade,
igualdade e individualidade.
Roche, na verdade, está tratando neste livro do surgimento da sociedade moderna pelo
viés da moda, que encontrou na
França um terreno privilegiado
de difusão sobretudo devido ao
papel que as roupas exerceram
no sistema de distinções da nobreza, desde Francisco 1º
(1497-1547) até o reinado de
Maria Antonieta, passando, é
claro, por Luís 14 (1638-1715).
A imitação dos estilos aristocráticos se espalhou pela sociedade que se desvencilhava das
"leis suntuárias" e das interpretações católicas que orientavam sobre o uso apropriado das
roupas no período monárquico. As mudanças acabaram
criando no país uma sensibilidade favorável à moda, ao mesmo tempo em que ocorria a expansão das manufaturas do luxo e da indústria têxtil.
O surgimento de uma fervilhante imprensa de moda no final do século 18, realizada inclusive por mulheres, sedimentou o processo, levando o gosto
parisiense a se espalhar pela
Europa e pelo mundo.
O autor analisa minuciosamente todo esse processo, utilizando um instrumental historiográfico raramente empregado para estudar o vestuário. Ele
compara os guarda-roupas de
cinco famílias de diferentes níveis sociais, da nobreza ao povo
-o qual jamais perderá de vista
ao longo de seu livro.
Aborda também a invenção
da roupa-branca (roupa de baixo) e como ela foi importante
para a padronização do processo de consumo, dos modos de
produção e para a difusão da
idéia de igualdade.
Roche trata ainda da importância dos uniformes para a
proto-indústria de roupas. Esclarece sobre a formação dos
diferentes ofícios ligados à moda e como suas disputas (por
exemplo, entre alfaiates e costureiras) ajudaram a formar o
novo sistema produtivo que
emergia na França.
Analisa também como a moda se associou a procedimentos
de asseio e higiene em difusão a
partir do século 18. Expõe como
a roupa foi tema incontornável
para filósofos iluministas e utopistas. E, num dos capítulos
mais interessantes do livro,
mostra como a imprensa de
moda -e a moda em geral-
serviu tanto para remodelar as
elites européias quanto para
dar autonomia às mulheres.
São mais de 500 páginas de
cerrada análise histórica, às vezes, um pouco pedregosa para
leigos, mas com detalhes muito
saborosos e, no conjunto, bastante enriquecedora e audaciosa. Roche quebra inúmeros
preconceitos que cercam a moda, demonstra como ela foi central para a formação da época
moderna e enfrenta toda uma
tradição de estudos históricos
que tende a colocar as roupas
em segundo plano.
"A Cultura das Aparências - Uma História da Indumentária (Séculos 17-18)", de Daniel Roche.
Trad. Assef Kfouri. Editora Senac (tel. 11/2187-4450). 528 págs., R$ 82.
com VIVIAN WHITEMAN
Dior faz 60 anos
Desfile de alta-costura no Palácio de
Versalhes reúne supertime de tops
O estilista John Galliano roubou a cena na semana de alta-costura de Paris, iniciada na última segunda-feira, com o desfile comemorativo dos 60 anos
da grife Dior. A apresentação,
que reuniu um supertime de
tops, entre elas, Gisele Bündchen e Naomi Campbell, aconteceu na Orangerie -um pavilhão que era usado como estufa- do Palácio de Versalhes.
Os 45 vestidos apresentados
foram inspirados na corte francesa, em especial na do rei Luís
14, e nos trabalhos de grandes
mestres da pintura. Rembrandt, Picasso, Monet, Renoir
e Velázquez foram alguns dos
homenageados pelo estilista.
Além disso, Galliano resgatou momentos importantes da
trajetória da Dior, como a emblemática e revolucionária coleção "new look", criada pelo
próprio Christian Dior em
1947, e a fase mais dramática da
marca, já sob sua direção.
No final, Galliano, com um
traje de toureiro, posou ao lado
de Gisele, Naomi, Linda Evangelista, Amber Valetta e da brasileira Carol Trentini.
O luxo em sua forma mais
teatral também apareceu no
desfile de Jean-Paul Gaultier,
que vestiu suas mulheres como
príncipes e marajás do Oriente,
com referências militares, muita pele e um riquíssimo trabalho de bordados.
No final do desfile, em vez da
tradicional noiva, Gaultier
mostrou um noivo que parecia
saído de "As Mil e Uma Noites",
com direito a véu e tudo. "Ele
veio como um marajá, mas com
o sári indiano, que fazia as vezes de véu. Os papéis se inverteram", afirmou o estilista.
Fast-fashion
SÓ NO DESCONTINHO
Começaram as liquidações
de inverno em algumas das
principais grifes em São Paulo.
Fause Haten está com descontos progressivos de 30% a 60%,
até o final do mês. A Triton oferece redução de 30% a 50%, até
5 de agosto. Lino Villaventura
tem descontos entre 20% e
50%, até o dia 31. Alexandre
Herchcovitch está cortando
entre 30% e 50%, até 15 de
agosto. A Equus Jeans fez abatimentos de até 40%. As estrangeiras também estão queimando estoques. A Ermenegildo
Zegna oferece descontos de
40%, até o final do estoque. A
Salvatore Ferragamo está com
reduções de até 50%.
SERRINHA FASHION
Os estilistas Ronaldo Fraga e
Karlla Girotto fazem duas oficinas de moda no 6º Festival de
Arte Serrinha, em Bragança
Paulista, que começa amanhã.
O festival terá ainda workshops
conduzidos pelo músico Naná
Vasconcelos e os artistas plásticos Dudi Maia Rosa e Leda Catunda, entre outros. Inscrições
pelo tel. 0/xx/11/4033-0352.
COBERTOR PARA VESTIR
Mais de 24 grifes, entre elas
Reinaldo Lourenço, Valdemar
Iódice, Rosa Chá e Serpui Marie, participam da Terceira Noite do Cobertor. As grifes criaram roupas com cobertores que serão vendidas até o dia 16
na Volkswagen Haus (av. Cidade Jardim, 350). A renda vai para entidades assistenciais.
Chanel cria desfile entre plumas e chuva
Apesar da tempestade que
caiu em Paris, o desfile de outono-inverno de alta-costura da
grife Chanel reuniu celebridades e modelos num lindo jardim às margens do rio Sena.
E, como a seleta platéia de
Karl Lagerfeld não poderia ensopar seus preciosas modelitos
enquanto a apresentação não
começava, centenas de guarda-chuvas pretos com a famosa logomarca Chanel foram entregues aos convidados.
Na passarela, elegantes mulheres-pássaro desfilavam entre cascatas de plumas e longos
combinados com óculos escuros, comemorando os 25 anos
de Lagerfeld na Chanel.
Na platéia, além das cantoras
Fergie e Vanessa Paradis, o cineasta David Lynch, acompanhado de sua mulher, fazia caras e bocas diante da luxuosa
coleção criada por Lagerfeld.
Apesar da fama de recluso e esquisitão, o diretor não é exatamente um peixe fora d'água no
mundo da moda: ele dirigiu o
filme publicitário do novo perfume da Gucci.
A estrela do novo comercial,
como a Folha noticiou em primeira mão, no mês passado, é a
top brasileira Raquel Zimmermann que, coincidentemente,
fechou o desfile da Chanel ao
lado do próprio Lagerfeld.
Mundo pequeno...
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