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5ª Flip
"Devemos tornar tragédias visíveis"
Para a Nobel Nadine Gordimer, atração de hoje na Flip, escritores precisam mostrar "além do que se vê na TV'
Premiada por obra que trata de temas como o apartheid, sul-africana participa hoje de debate com Amós Oz sobre o papel da literatura
SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A PARATY
Os dois prêmios Nobel da
Flip, a festa literária internacional que começou anteontem
em Paraty, vêm do mesmo país,
a África do Sul. O universo literário de cada um, no entanto, é
bem diferente.
Enquanto a literatura de J.M.
Coetzee é mais sutil, refinada e
universal, a de Nadine Gordimer é mais militante.
"Nós dois tentamos escrever
o pouco que podemos perceber
da verdade de nossos países,
mas o fazemos de um modo diferente", disse Gordimer em
entrevista à Folha.
A escritora levou o prêmio
em 1991, pelo conjunto de suas
obras, que têm temas como
o apartheid, os direitos humanos e a luta contra a Aids,
entre outros.
Gordimer diz acreditar que,
quanto maior for a demanda
das pessoas por informações,
mais importante será o papel
dos livros.
"A contribuição que nós, escritores, temos para dar é a de
tornar visíveis as verdadeiras
tragédias que acontecem logo
depois das que vemos pela televisão. Como ficam as pessoas e
suas vidas, que conseqüências
coletivas têm o trauma e a frustação daqueles que atravessaram momentos difíceis. Essas
são, também, informações,
mas do tipo que a mídia não
consegue dar", diz.
Elegante, vestindo uma bata
indiana, e de gestos muito delicados, Nadine Gordimer caminha por Paraty em busca de
sombras e elogia a cidade, mas
faz um alerta.
"Espero que a população daqui fique atenta para que não
abram, no centro histórico, lojas do McDonald's e de outras
dessas cadeias que fazem o
mundo ficar tão parecido hoje
em dia."
Gordimer se apresenta hoje
ao lado do escritor israelense
Amós Oz. Ambos lerão trechos
de seus livros recentes, mas a
conversa deve mesmo pender
para temas políticos.
"Trataremos de algo que dividimos, que é o fato de escrever um pouco da verdade que
você conhece sobre a vida das
pessoas em uma situação de
conflito, caso dos nossos países. E como se comportar diante da divisão do povo do seu
próprio país", diz.
Biografias e violência
A discussão sobre o futuro
do genero biográfico no Brasil
será um dos destaques da programação da Flip hoje. A mesa
"A Vida a como Ela Foi" analisará o que pode mudar depois
da proibição da circulação de
"Roberto Carlos em Detalhes",
do pesquisador Paulo Cesar
de Araujo.
O livro teve de deixar de ser
comercializado depois de um
acordo entre o autor e a editora
da obra, a Planeta, com o Rei,
que ameaçava processá-los
por expor passagens de sua
vida íntima.
Araujo estará ao lado dos escritores Ruy Castro e Fernando
Morais, que também enfrentaram problemas com a justiça
por tratar de personagens publicos. O debate deve apontar o
impacto que a proibição terá na
produção de obras desse gênero no Brasil.
Outro destaque será o encontro do autor de policiais norte-americano Dennis Lehanne
e do escritor e roteirista mexicano Guillermo Arriaga. Os
dois têm em comum o uso
da violência contemporânea
para construir personagens
que refletem sobre questões
do homem.
Cabra fugida
Uma das estrelas da festa literária, a cabra trazida a Paraty
para participar das homenagens a Nelson Rodrigues -o
autor tinha obsessão pela imagem da "cabra vadia"- fugiu
ontem pela manhã da árvore à
qual estava amarrada, em frente à Igreja de Santa Rita, e jogou-se na água.
Houve uma pequena aglo-
meração no local quando Delcinei Mariano, funcionário de
uma pousada, entrou na água e
a resgatou.
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