São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2007

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5ª Flip

"Devemos tornar tragédias visíveis"

Para a Nobel Nadine Gordimer, atração de hoje na Flip, escritores precisam mostrar "além do que se vê na TV'

Premiada por obra que trata de temas como o apartheid, sul-africana participa hoje de debate com Amós Oz sobre o papel da literatura

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A PARATY

Os dois prêmios Nobel da Flip, a festa literária internacional que começou anteontem em Paraty, vêm do mesmo país, a África do Sul. O universo literário de cada um, no entanto, é bem diferente.
Enquanto a literatura de J.M. Coetzee é mais sutil, refinada e universal, a de Nadine Gordimer é mais militante.
"Nós dois tentamos escrever o pouco que podemos perceber da verdade de nossos países, mas o fazemos de um modo diferente", disse Gordimer em entrevista à Folha.
A escritora levou o prêmio em 1991, pelo conjunto de suas obras, que têm temas como o apartheid, os direitos humanos e a luta contra a Aids, entre outros.
Gordimer diz acreditar que, quanto maior for a demanda das pessoas por informações, mais importante será o papel dos livros.
"A contribuição que nós, escritores, temos para dar é a de tornar visíveis as verdadeiras tragédias que acontecem logo depois das que vemos pela televisão. Como ficam as pessoas e suas vidas, que conseqüências coletivas têm o trauma e a frustação daqueles que atravessaram momentos difíceis. Essas são, também, informações, mas do tipo que a mídia não consegue dar", diz.
Elegante, vestindo uma bata indiana, e de gestos muito delicados, Nadine Gordimer caminha por Paraty em busca de sombras e elogia a cidade, mas faz um alerta.
"Espero que a população daqui fique atenta para que não abram, no centro histórico, lojas do McDonald's e de outras dessas cadeias que fazem o mundo ficar tão parecido hoje em dia."
Gordimer se apresenta hoje ao lado do escritor israelense Amós Oz. Ambos lerão trechos de seus livros recentes, mas a conversa deve mesmo pender para temas políticos.
"Trataremos de algo que dividimos, que é o fato de escrever um pouco da verdade que você conhece sobre a vida das pessoas em uma situação de conflito, caso dos nossos países. E como se comportar diante da divisão do povo do seu próprio país", diz.

Biografias e violência
A discussão sobre o futuro do genero biográfico no Brasil será um dos destaques da programação da Flip hoje. A mesa "A Vida a como Ela Foi" analisará o que pode mudar depois da proibição da circulação de "Roberto Carlos em Detalhes", do pesquisador Paulo Cesar de Araujo.
O livro teve de deixar de ser comercializado depois de um acordo entre o autor e a editora da obra, a Planeta, com o Rei, que ameaçava processá-los por expor passagens de sua vida íntima.
Araujo estará ao lado dos escritores Ruy Castro e Fernando Morais, que também enfrentaram problemas com a justiça por tratar de personagens publicos. O debate deve apontar o impacto que a proibição terá na produção de obras desse gênero no Brasil.
Outro destaque será o encontro do autor de policiais norte-americano Dennis Lehanne e do escritor e roteirista mexicano Guillermo Arriaga. Os dois têm em comum o uso da violência contemporânea para construir personagens que refletem sobre questões do homem.

Cabra fugida
Uma das estrelas da festa literária, a cabra trazida a Paraty para participar das homenagens a Nelson Rodrigues -o autor tinha obsessão pela imagem da "cabra vadia"- fugiu ontem pela manhã da árvore à qual estava amarrada, em frente à Igreja de Santa Rita, e jogou-se na água.
Houve uma pequena aglo- meração no local quando Delcinei Mariano, funcionário de uma pousada, entrou na água e a resgatou.


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