São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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Crítica

Filme retrata a obsessão pela morte

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A morte já foi mais solene neste mundo. Se pensamos no enterro de, digamos, "Imitação da Vida", vemos que ele compensa, em termos de eternidade, todas as dores e humilhações que Annie Johnson sofrera, por ser negra.
Mas Annie Johnson não pediu todas as honras que lhe foram concedidas post-mortem: os que a cercavam, assim como os espectadores, todos partilhando a mesma culpa, concordavam que era necessário uma forma de compensação.
Em "A Falecida" (Canal Brasil, 0h30, 14 anos), é a própria Zulmira quem planeja seu enterro com pompa e circunstância, como se o fim glorioso a limpasse das tristezas da vida. Não é exagero dizer que, a partir de horas tantas, ela vive para a morte.
Como o filme é de Leon Hirszman, o aspecto trágico desse enredo perde força em proveito da vida suburbana, dos pequenos golpes, baixezas, torpezas de que são capazes os personagens, na maior parte das vezes por dinheiro.
Não é de espantar. Era 1965, no cinema novo, e ainda não havia chegado o momento de encarar o trágico de Nelson Rodrigues diretamente, como o faria a partir de "Toda Nudez Será Castigada". Não são tanto considerações sobre o homem como ser decaído que se releva, mas uma sociedade que os torna tais quais são. Ainda que esse tipo de olhar contrarie o de Nelson Rodrigues, existe tanta intensidade nessa busca que no fim tudo tende a se encontrar.


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