São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2011

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9ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY

Tabucchi ataca Brasil em jornal italiano

Em artigo para "La Repubblica", escritor italiano que seria destaque na Flip detalha por que desistiu de vir

Sob o título "O meu não ao Brasil de Battisti", autor diz que Justiça do país é submissa ao poder político

FABIO VICTOR
GABRIELA LONGMAN
DE SÃO PAULO

Com o título "O meu não ao Brasil de Battisti", um artigo estampado na primeira página do jornal italiano "La Repubblica", anteontem, detalhava as justificativas do escritor Antonio Tabucchi para não vir à Flip.
Um dos principais romancistas europeus, ele seria destaque na programação de sexta-feira em Paraty, mas cancelou de última hora a sua participação.
No texto, Tabucchi critica as instituições brasileiras pela recusa em extraditar o ex-militante esquerdista Cesare Battisti, acusado de quatro mortes na Itália quando atuava numa organização terrorista.
Segundo ele, o fato de o Supremo Tribunal Federal ter remetido a decisão ao então presidente Lula demonstra o quanto, no Brasil, "o Poder Judiciário é submisso ao poder político".
Tabucchi opina que o desfecho "não constitui somente uma ofensa à República italiana, mas é também uma ferida que se inflige ao direito internacional".
Para o escritor, o argumento do Executivo brasileiro de que Battisti poderia ser torturado nas prisões italianas é insustentável.
Tabucchi mencionou a onda de rebeliões em presídios simultânea aos ataques do PCC em São Paulo em 2006 como sinal de que é o Brasil quem deve cuidar de sua política carcerária.
"Como não precisamos da observações de Lula para melhorar o sistema carcerário italiano, Lula deveria pensar em melhorar o seu: na revolta nas prisões de São Paulo, em 2006, a intervenção da polícia antimotim provocou a morte de 81 detentos, alguns deles queimados em suas celas."
Tabucchi relembrou ainda o caso de Alejandro César Enciso, torturador na ditadura argentina e que, apesar dos pedidos de extradição feitos pela Itália segue "sob tutela" da polícia brasileira. "Tão "sob tutela" que podemos adiciona-lo como amigo no Facebook", ironizou o escritor.
Ele disse ser inexata a notícia de que teria desistido de vir à Flip "em protesto".
"Não cabe a mim "protestar". É que não tenho vontade alguma de ver chegarem Battisti e Enciso (...), que, transformando um festival literário numa aula de justiça, venham discutir seus casos com um escritor italiano."
Tabucchi alega que uma controvérsia jurídica entre países poderia virar "fofoca de evento literário".

O CASO
No início de junho, o Supremo Tribunal Federal validou a decisão do ex-presidente Lula de negar a extradição de Battisti e determinou que ele fosse solto.
A maioria dos ministros julgou que não caberia ao Supremo analisar o ato do ex-presidente.
Duas semanas depois, o Conselho Nacional de Imigração concedeu visto de permanência a Battisti.
Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália por quatro assassinatos na década de 1970, quando militava no grupo de extrema-esquerda PAC (Proletários Armados pelo Comunismo). Ele nega as acusações e afirma sofrer perseguição política.


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