|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BIA ABRAMO
"Bicho" faz dramaturgia de resultados
Se o segredo é tratar o Brasil com realismo, que se faça uma novela com violência urbana a rodo
|
A RECORD está botando para
quebrar na guerra das novelas. Contrariando a pudicícia
evangélica, "Bicho do Mato" tem como principal (e talvez única) atração
a nudez de André Bankoff. De tanto
aparecer sem roupa, o moço loiro, alto e forte que faz Juba tornou-se
campeão de cartas da emissora.
A verdadeira operação de guerra
montada pela Record para ameaçar
a liderança da Globo não tem tido
trégua. Observando o modelo da
concorrente, a Record vai testando
os elementos um a um e, com isso,
fazendo uma dramaturgia de resultados muito eficiente, mas também
seca, descarnada.
Se o segredo é tratar o Brasil com
realismo, que se faça uma novela
com violência urbana a rodo, como
foi "Prova de Amor". Se é para ter
nudez, que se invente uma trama em
que seja natural que os corpos apareçam despidos, como nos tempos
primitivos. Que tal índios?
De quebra, que se estabeleça uma
ponte com outra experiência bem-sucedida de concorrência, a lendária
"Pantanal", de Benedito Ruy Barbosa. E não se deve deixar despercebidas as coincidências com "Uga-Uga", novela de Carlos Lombardi
que também tinha um loiro-índio e
apimentou o horário das sete com
homens de peito e bunda à mostra.
É evidente que essas referências
fazem parte de uma estratégia muito
cuidadosa, que retoma cada elemento de acerto ou sucesso numa nova
combinação. O diabo é que isso pode
resultar em novelas com boa audiência, mas dificilmente fará com
que o canal crie um estilo próprio.
Nem é preciso voltar à concorrência para entender a diferença -mesmo porque a Globo também anda
abusando das estratégias em detrimento das narrativas. O contraste fica até mais evidente comparando
"Bicho do Mato" e "Cidadão Brasileiro". Mesmo com alguns tropeços
e uma ambição questionável de contar a trajetória moral de um brasileiro comum nos últimos 40 anos, a
história está mais liberta da aplicação mecânica de fórmulas, mais solta para falar à emoção.
Por que é disso também que se trata, de criar algum tipo de ficção que
não se contente com o impacto e a
impressão imediatos e permaneça
um pouquinho que seja na imaginação do espectador, permitindo algum nível de fantasia.
A Globo, nos anos 70, fez isso ousando contrariar alguns cânones;
hoje em dia, vez por outra, relembra-se de seu passado. A Record, por sua
vez, não vai chegar lá se continuar
tão preocupada com os números e
navegando em águas conhecidas.
@ - biabramo.tv@uol.com.br
Texto Anterior: Nas lojas Próximo Texto: Novelas da semana Índice
|