São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIA ABRAMO

"Bicho" faz dramaturgia de resultados


Se o segredo é tratar o Brasil com realismo, que se faça uma novela com violência urbana a rodo

A RECORD está botando para quebrar na guerra das novelas. Contrariando a pudicícia evangélica, "Bicho do Mato" tem como principal (e talvez única) atração a nudez de André Bankoff. De tanto aparecer sem roupa, o moço loiro, alto e forte que faz Juba tornou-se campeão de cartas da emissora.
A verdadeira operação de guerra montada pela Record para ameaçar a liderança da Globo não tem tido trégua. Observando o modelo da concorrente, a Record vai testando os elementos um a um e, com isso, fazendo uma dramaturgia de resultados muito eficiente, mas também seca, descarnada.
Se o segredo é tratar o Brasil com realismo, que se faça uma novela com violência urbana a rodo, como foi "Prova de Amor". Se é para ter nudez, que se invente uma trama em que seja natural que os corpos apareçam despidos, como nos tempos primitivos. Que tal índios?
De quebra, que se estabeleça uma ponte com outra experiência bem-sucedida de concorrência, a lendária "Pantanal", de Benedito Ruy Barbosa. E não se deve deixar despercebidas as coincidências com "Uga-Uga", novela de Carlos Lombardi que também tinha um loiro-índio e apimentou o horário das sete com homens de peito e bunda à mostra.
É evidente que essas referências fazem parte de uma estratégia muito cuidadosa, que retoma cada elemento de acerto ou sucesso numa nova combinação. O diabo é que isso pode resultar em novelas com boa audiência, mas dificilmente fará com que o canal crie um estilo próprio.
Nem é preciso voltar à concorrência para entender a diferença -mesmo porque a Globo também anda abusando das estratégias em detrimento das narrativas. O contraste fica até mais evidente comparando "Bicho do Mato" e "Cidadão Brasileiro". Mesmo com alguns tropeços e uma ambição questionável de contar a trajetória moral de um brasileiro comum nos últimos 40 anos, a história está mais liberta da aplicação mecânica de fórmulas, mais solta para falar à emoção.
Por que é disso também que se trata, de criar algum tipo de ficção que não se contente com o impacto e a impressão imediatos e permaneça um pouquinho que seja na imaginação do espectador, permitindo algum nível de fantasia.
A Globo, nos anos 70, fez isso ousando contrariar alguns cânones; hoje em dia, vez por outra, relembra-se de seu passado. A Record, por sua vez, não vai chegar lá se continuar tão preocupada com os números e navegando em águas conhecidas.


@ - biabramo.tv@uol.com.br


Texto Anterior: Nas lojas
Próximo Texto: Novelas da semana
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.