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"Não sei o que é viver sem censura", diz autora cubana
FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
A escritora cubana Wendy
Guerra, que participa da Flip,
foi irônica e mordaz ao falar
sobre o seu país durante entrevista ontem à tarde.
"Vocês [jornalistas] têm
mais informações do que eu
sobre o meu país. Acho que,
se houver uma mudança
muito grande em Cuba, vocês vão me ligar e eu direi: "O
que houve? Quem morreu?".
Sou sempre a última a saber
das coisas de Cuba."
Wendy -que participa de
mesa no domingo na festa de
Paraty- evita atacar explicitamente o regime cubano,
mas sua fala rápida às vezes
atropela a cautela.
"Deram minha permissão
de saída, estou aqui, sou a
prova. Mas ter de pedir permissão para entrar e sair de
seu país é ofensivo. Sou uma
privilegiada. Por escrever, tenho a possibilidade de sair,
ainda que em troca de desaparecer da mídia [seus livros
não são publicados na ilha]",
disse, quando questionada
sobre o trâmite que lhe permitiu vir ao Brasil.
VIGILÂNCIA
A uma pergunta sobre como é viver sob censura, respondeu: "Não sei se se chama censura ou não. Faço 40
anos em dezembro e não sei
viver de outra maneira. O
problema vai ser quando já
não tiver o que escrever. Por
isso sou vigilante, procuro
escrever sobre temas universais. É duro dizer isso, mas
estou acostumada desde
muito pequena a controlar o
que digo".
Franzina e sensual, pose
de garotinha, Wendy vestia
camisa Lacoste e exalava
bom humor. Fazia a todo instante poses, caras e bocas.
Teceu loas ao colega e conterrâneo Pedro Juan Gutiérrez, autor da "Trilogia Suja
de Havana". "Ele vive como
escreve. É um dos homens
mais sensuais e devoradores
de mulheres que já conheci.
É um malandro, um homem
maravilhoso. Come a vida,
tem amor à vida e à marginalidade. Ele é de verdade."
Wendy teve lançado recentemente no Brasil o livro
"Nunca Fui Primeira-Dama",
pelo selo Benvirá, da Saraiva.
A obra traz a história romanceada da mãe de Wendy, Albis Torres, que teve um relacionamento com Celia Sanches, líder revolucionária e
secretária de Fidel Castro.
Antes da entrevista coletiva, o editor Thales Guaracy
agradeceu à presença da escritora, afirmando saber
"que não é fácil para ela estar
nos lugares (...) falando livremente sobre temas".
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