São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2010

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"Privatização do conhecimento" é alvo de críticas

DO ENVIADO A PARATY

Dois dos mais conceituados historiadores contemporâneos, Robert Darnton (Universidade Harvard) e Peter Burke (Cambridge) criticaram ontem na Flip a "privatização do conhecimento" por meio de longevas leis de proteção ao direito autoral.
Darnton lembrou que os fundadores do Estado norte-americano estabeleceram inicialmente que uma obra estaria protegida por 14 anos, prorrogáveis por mais 14.
Hoje, o direito autoral deve ser respeitado até 70 anos depois da morte do autor. "Há um movimento de enclausuramento da cultura. Pesquisadores financiados por empresas particulares não podem dividir o conhecimento produzido, porque isso se opõe ao interesse dos financiadores. Mas o conhecimento pertence a toda a humanidade. É criado para o bem-estar de todos, não só para o lucro de alguns", afirmou.
Burke exemplificou o que chamou de tentativa de "privatizar o conhecimento". "Na Índia, limpar os dentes com folhas de uma determinada árvore é um hábito difundido, o que faz com que a venda de pastas de dentes seja menor do que poderia ser. Agora, uma empresa americana quer patentear a obtenção da substância desta árvore. Ou seja, indianos podem ter de pagar por um hábito milenar em sua cultura."

WIKIPEDIA
Os historiadores elogiaram a produção de enciclopédias digitais, como a Wikipedia -uma obra aberta a qualquer usuário para a produção de verbetes ou trechos de verbetes.
"Os alertas da Wikipedia -do tipo este artigo pode conter viés político ou de falta de identificação de fontes confiáveis- levam a uma saudável desconfiança sobre quem produz conhecimento", disse Darnton.
Burke definiu-se como "semiotimista" com o futuro dos livros impressos. "O que me faz também semipessimista", relativizou. "Mas acho que o livro impresso está longe de morrer."
Darnton admitiu que não tem o hábito de ler em máquinas (como Kindle). "Elas ainda vão melhorar, mas gosto da relação com o livro de papel, da sensação de poder voltar as páginas. Mas o futuro do livro é digital."
Seu companheiro de mesa completou, no entanto, lamentando que a leitura digital é para obras curtas, o que afetará o formato dos livros. (PLÍNIO FRAGA)


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