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"Privatização do conhecimento" é alvo de críticas
DO ENVIADO A PARATY
Dois dos mais conceituados historiadores contemporâneos, Robert Darnton (Universidade Harvard) e Peter
Burke (Cambridge) criticaram ontem na Flip a "privatização do conhecimento" por
meio de longevas leis de proteção ao direito autoral.
Darnton lembrou que os
fundadores do Estado norte-americano estabeleceram
inicialmente que uma obra
estaria protegida por 14 anos,
prorrogáveis por mais 14.
Hoje, o direito autoral deve
ser respeitado até 70 anos depois da morte do autor. "Há
um movimento de enclausuramento da cultura. Pesquisadores financiados por empresas particulares não podem dividir o conhecimento
produzido, porque isso se
opõe ao interesse dos financiadores. Mas o conhecimento pertence a toda a humanidade. É criado para o bem-estar de todos, não só para o lucro de alguns", afirmou.
Burke exemplificou o que
chamou de tentativa de "privatizar o conhecimento".
"Na Índia, limpar os dentes
com folhas de uma determinada árvore é um hábito difundido, o que faz com que a
venda de pastas de dentes seja menor do que poderia ser.
Agora, uma empresa americana quer patentear a obtenção da substância desta árvore. Ou seja, indianos podem
ter de pagar por um hábito
milenar em sua cultura."
WIKIPEDIA
Os historiadores elogiaram a produção de enciclopédias digitais, como a Wikipedia -uma obra aberta a
qualquer usuário para a produção de verbetes ou trechos
de verbetes.
"Os alertas da Wikipedia
-do tipo este artigo pode
conter viés político ou de falta de identificação de fontes
confiáveis- levam a uma
saudável desconfiança sobre
quem produz conhecimento", disse Darnton.
Burke definiu-se como
"semiotimista" com o futuro
dos livros impressos. "O que
me faz também semipessimista", relativizou. "Mas
acho que o livro impresso está longe de morrer."
Darnton admitiu que não
tem o hábito de ler em máquinas (como Kindle). "Elas
ainda vão melhorar, mas
gosto da relação com o livro
de papel, da sensação de poder voltar as páginas. Mas o
futuro do livro é digital."
Seu companheiro de mesa
completou, no entanto, lamentando que a leitura digital é para obras curtas, o que
afetará o formato dos livros.
(PLÍNIO FRAGA)
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