São Paulo, Sexta-feira, 06 de Agosto de 1999
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SP vê e ouve o "Don Giovanni" 99

IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

São Paulo assiste hoje a seu terceiro "Don Giovanni" da década. Depois de Davi Machado (com polêmica direção cênica de Bia Lessa, em 92) e Isaac Karabtchevsky (95), é a vez do maestro Jamil Maluf mostrar sua visão da mais famosa ópera de Mozart.
À frente da Orquestra Experimental de Repertório, ele rege cinco récitas da produção orçada em US$ 350 mil no Teatro Alfa.
Além de dois elencos -formados quase exclusivamente por vozes brasileiras-, "Don Giovanni" traz como novidade a utilização de duas diferentes orquestras, de 53 instrumentistas cada, que se alternam no fosso do teatro.
"Como a temporada paulistana de ópera é, otimisticamente falando, incipiente, resolvi dar chance para que todos os integrantes da OER tocassem numa obra importante como esta", explica Maluf. Para garantir homogeneidade e qualidade na interpretação, ele mantém a cravista (Vânia Pajares) e cinco músicos que têm o cargo de "spalla" (líder de naipe).
Com direção cênica do inglês Aidan Lang, a montagem alugou cenários e figurinos da Ópera Zuid, de Maastricht (Holanda).
Ao longo de três horas de música, divididos em dois atos, Lang promete transformar o "drama jocoso" (classificação que consta da partitura da ópera), com libreto de Lorenzo da Ponte, em um embate entre o mundo da paixão, simbolizado por Don Giovanni, e as forças da razão, encarnadas por Don Ottavio (conheça os personagens em quadro ao lado).
"Don Giovanni é a força da liberdade que desafia as convenções sociais e tem uma libido sexual masculina que se manifesta de maneira extrema pela violência", explica o diretor. "Ele brada "Viva la Libertá" dois anos antes da Revolução Francesa (a ópera estreou em Praga em 1787)."
"Já Don Ottavio -normalmente relegado a segundo plano nas montagens- é, na verdade, um personagem muito importante", afirma Lang. "Ele encarna o controle e a racionalidade típicos do século 18."
Tal combate se traduz na batalha entre as duas cores associadas ao personagens. O mundo de Don Giovanni (que vai desmoronando ao longo da ação) é de um vermelho vivo, enquanto o de Don Ottavio é azul acinzentado.
Além da cenografia, o principal "importação" da montagem é o personagem-título do elenco Alfa (dias 6, 10 e 13), Zbigniew Macias, barítono da Ópera de Varsóvia.
Seu criado, Leporello, fica por conta do talento cômico do experiente barítono Sandro Christopher; a difícil parte de Donna Anna está a cargo da soprano Laura de Souza, enquanto a mezzo-soprano revelação Luciana Bueno (que cantou o papel-título na montagem de "Carmen" do Municipal em 98) vive Donna Elvira.
Completa o primeiro elenco o casal formado pelo tenor Fernando Portari (Don Ottavio) e pela soprano Rosana Lamosa -que teve em seu papel atual, Zerlina, um de seus primeiros sucessos.
Já o Don Giovanni do elenco Beta (dias 8 e 15) não é polonês, mas tem ligações com o país eslavo. Com o registro vocal de barítono-Martin (voz leve, aguda e flexível, próxima ao registro de tenor), o paulista Paulo Szot estudou em Cracóvia.
A seu lado, cantam o histriônico baixo bufo paranaense Pepes do Valle (Leporello), o tenor Luis Tenaglia (professor de canto com muitos alunos na capital paulistana) e a soprano Elenis Guimarães (como Donna Elvira, papel que interpretou com brilho no ano passado em Belo Horizonte).



Concerto: Ópera Don Giovanni, de Mozart
Onde: Teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 0/xx/11/5963-4000)
Quando: dias 6, 10 e 13, às 20h30; 8 e 15, às 17h
Quanto: de R$ 80 a R$ 120
Patrocinadores: Banco Sudameris e Alfa Romeo


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