São Paulo, Sexta-feira, 06 de Agosto de 1999
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Curtas devassam metrópoles brasileiras

da Equipe de Articulistas

"Curta a Cidade", o oitavo programa do projeto "Curta às Seis", do Espaço Unibanco, exibe a partir de hoje quatro filmes ambientados em metrópoles brasileiras (São Paulo, Rio, Recife e Porto Alegre).
"Onde São Paulo Acaba" (1995), de Andréa Seligmann, e o carioca "Lá e Cá" (1995), de Sandra Kogut, trabalham, cada um a seu modo, na fronteira entre a ficção e o documentário.
O curta de Andréa Seligmann mostra um dia na vida de um grupo de garotos pobres da periferia sul da cidade. Eles jogam futebol, fumam maconha e planejam os eventos da noite: uma festa e um assalto.
Mais do que testemunhar o fascínio que o binômio rap-criminalidade exerce sobre certa juventude uspiana, o filme revela o talento de uma diretora que busca beleza e poesia ali onde menos se esperaria encontrá-la: nos descampados e pirambeiras da periferia braba da metrópole.
"Lá e Cá", por sua vez, inspira-se livremente no conto "Monólogo de Tuquinha Batista", de Aníbal Machado.
O curta mescla os recursos do cinema e do vídeo para mostrar a situação da personagem Tuquinha (Regina Casé), que hesita entre o subúrbio em que vive, na zona norte carioca, e a possibilidade de ir viver com a irmã em Copacabana.
Essa primeira incursão cinematográfica da videomaker Sandra Kogut alterna belos momentos de absorção da atmosfera suburbana com uma certa redundância.
Centrado no talento de Regina Casé para o naturalismo, o filme padece do mesmo mal que acomete os programas da atriz na TV: um olhar um tanto condescendente em direção ao "povo", visto como um manancial de bizarrices e curiosidades.
"Recife de Dentro pra Fora", de Katia Mesel, é uma viagem terrível pelo rio Capibaribe, que cruza o Recife, sob os versos magníficos do "Cão Sem Plumas", de João Cabral de Melo Neto.
Musicados por Geraldo Azevedo, os versos de Cabral são ora declamados, ora cantados por Elba Ramalho e Zé Ramalho, além do próprio Azevedo. Por estranho que pareça, ficou bom, conferindo às imagens uma intensidade quase insuportável.
O último curta, "Ângelo Anda Sumido", de Jorge Furtado, é ambientado em Porto Alegre, mas fala, de modo criativo e contundente, de problemas comuns a todas as metrópoles: a defesa paranóica da propriedade, o medo do outro, a conivência com a deterioração do espaço urbano.
A situação: dois amigos que pretendem ir a um restaurante, mas se vêem emaranhados na teia de grades, guardas, cães e ameaças da cidade. (JGC)


Avaliação:    


Filmes: Curta a Cidade Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco 1, às 18h Quanto: entrada franca


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