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Curtas devassam metrópoles brasileiras
da Equipe de Articulistas
"Curta a Cidade", o oitavo programa do projeto "Curta às Seis",
do Espaço Unibanco, exibe a partir de hoje quatro filmes ambientados em metrópoles brasileiras
(São Paulo, Rio, Recife e Porto
Alegre).
"Onde São Paulo Acaba" (1995),
de Andréa Seligmann, e o carioca
"Lá e Cá" (1995), de Sandra Kogut, trabalham, cada um a seu
modo, na fronteira entre a ficção e
o documentário.
O curta de Andréa Seligmann
mostra um dia na vida de um grupo de garotos pobres da periferia
sul da cidade. Eles jogam futebol,
fumam maconha e planejam os
eventos da noite: uma festa e um
assalto.
Mais do que testemunhar o fascínio que o binômio rap-criminalidade exerce sobre certa juventude uspiana, o filme revela o talento de uma diretora que busca beleza e poesia ali onde menos se esperaria encontrá-la: nos descampados e pirambeiras da periferia
braba da metrópole.
"Lá e Cá", por sua vez, inspira-se livremente no conto "Monólogo de Tuquinha Batista", de Aníbal Machado.
O curta mescla os recursos do
cinema e do vídeo para mostrar a
situação da personagem Tuquinha (Regina Casé), que hesita entre o subúrbio em que vive, na zona norte carioca, e a possibilidade
de ir viver com a irmã em Copacabana.
Essa primeira incursão cinematográfica da videomaker Sandra
Kogut alterna belos momentos de
absorção da atmosfera suburbana
com uma certa redundância.
Centrado no talento de Regina
Casé para o naturalismo, o filme
padece do mesmo mal que acomete os programas da atriz na
TV: um olhar um tanto condescendente em direção ao "povo",
visto como um manancial de bizarrices e curiosidades.
"Recife de Dentro pra Fora", de
Katia Mesel, é uma viagem terrível pelo rio Capibaribe, que cruza
o Recife, sob os versos magníficos
do "Cão Sem Plumas", de João
Cabral de Melo Neto.
Musicados por Geraldo Azevedo, os versos de Cabral são ora declamados, ora cantados por Elba
Ramalho e Zé Ramalho, além do
próprio Azevedo. Por estranho
que pareça, ficou bom, conferindo às imagens uma intensidade
quase insuportável.
O último curta, "Ângelo Anda
Sumido", de Jorge Furtado, é ambientado em Porto Alegre, mas fala, de modo criativo e contundente, de problemas comuns a todas
as metrópoles: a defesa paranóica
da propriedade, o medo do outro,
a conivência com a deterioração
do espaço urbano.
A situação: dois amigos que
pretendem ir a um restaurante,
mas se vêem emaranhados na teia
de grades, guardas, cães e ameaças da cidade.
(JGC)
Avaliação:
Filmes: Curta a Cidade
Quando: a partir de hoje, no Espaço
Unibanco 1, às 18h
Quanto: entrada franca
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