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CINEMA - "CORAÇÕES APAIXONADOS"
Comédia coloca dramas afetivos na fôrma
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
"Corações Apaixonados" entrelaça as histórias de personagens
de várias idades e profissões, interpretados por atores famosos,
na cidade de Los Angeles.
A inevitável comparação com
"Short Cuts" só pode ser feita por
contraste. O que o filme de Robert
Altman tinha de inesperado e de
criativo, "Corações Apaixonados" tem de quadrado.
Se a vida aparecia, no primeiro,
como algo fugidio, inapreensível
e cheio de arestas, no segundo ela
é domesticada como um enredo
de telenovela.
A estrutura do filme é tão rígida
que revela muito mais uma consciência da fôrma do que propriamente da forma.
Cada episódio narrado paralelamente por "Corações Apaixonados" resume-se, a rigor, a um
diálogo (no sentido restrito, de falatório) entre dois personagens. E
cada um tem um cenário chapado, de teatro ou "sitcom", onde se
desenvolve.
Há o casal de velhos (Sean Connery e Gena Rowlands) cuja convivência de 40 anos é abalada por
duas notícias: um câncer terminal
do marido e a descoberta de que
ele teve um romance extraconjugal décadas atrás. O cenário é a residência do casal, usada como cenário para o programa televisivo
de receitas que produzem.
Há a mãe compassiva (Ellen
Burstyn) que consola o filho (Jay
Mohr), paciente terminal de Aids,
num quarto de hospital, e o casal
de amantes (Madeleine Stowe e
Anthony Edwards) que se encontra furtivamente em quartos de
hotel.
A essa altura o leitor já terá notado o recurso aos temas mais à
mão nos dramas holywoodianos
de hoje: Aids, câncer, adultério.
Há também os jovens que se desencontram em boates (Angelina
Jolie e Ryan Phillippe) e, por fim,
a publicitária de sucesso (Gillian
Anderson) que se esquiva de um
pretendente "too good to be true"
(Jon Stewart).
Esses diálogos, filmados num
aborrecido campo/contracampo,
obedecem a um padrão imutável:
um desencontro inicial, um momento cômico e o desfecho melodramático, induzido por uma
música que parece acionada, na
hora prevista, por um botão.
Até as passagens de tempo que
servem de ligação entre as histórias paralelas são sempre idênticas: o amanhecer ou o anoitecer
sobre a cidade, filmados em altíssima velocidade.
A situação mais interessante e
provocadora -a do homem
(Dennis Quaid) que em cada bar
conta um drama diferente sobre
sua vida a uma pessoa desconhecida- não demora a ser, também
ela, encaixotada nas explicaçõezinhas burguesas que norteiam tudo.
"Calma, espectador", o filme se
apressa em dizer, "ele é uma pessoa normal, que está só fazendo
um exercício de improviso para
um curso de teatro. Não precisa se
engasgar com a pipoca".
Do mesmo modo, toda e qualquer inquietação surgida ao longo do filme vai sendo dissipada
oportunamente, até que os nexos
entre todas as histórias se esclarecem no final melosamente feliz,
aliás uma apologia do casamento
de que não são mais capazes nem
as telenovelas mais caretas.
É possível, é até provável, que
"Corações Apaixonados" faça
muito sucesso. Afinal, para alguma coisa devem valer os programas de computador destinados a
criar "filmes que funcionam".
Uma última observação: uma
vez na vida, o tolo título nacional
tem mais a ver com o filme. O original, "Playing by Heart", emprestado da música, sugere uma
idéia de sentimento e improviso.
Nada mais enganoso.
Avaliação:
Filme: Corações Apaixonados
Direção: Willard Carroll
Com: Sean Connery, Ellen Burstyn, Gena
Rowlands, Dennis Quaid
Quando: a partir de hoje nos cines
Center Iguatemi 2, Central Plaza 9 e
circuito
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