São Paulo, Sexta-feira, 06 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA - "LAURA, A VOZ DE UMA ESTRELA"
Atores premiados são trunfo de musical

MARIANE MORISAWA
Editora-assistente da Ilustrada

Quando Michael Caine subiu ao palco em janeiro para receber o Globo de Ouro por sua atuação em "Laura, a Voz de uma Estrela" ("Little Voice"), a maioria não conseguia esconder a surpresa. Afinal, aquele era o ator que havia se notabilizado por ser um dos mais ativos do mercado, trabalhando, na maioria das vezes, em produções de péssima qualidade.
"Caine faz filmes terríveis, mas de vez em quando ele oferece uma performance da qual você se lembrará a vida toda. Acredito que essa seja uma delas", afirma Mark Herman, o diretor e roteirista de "Laura, a Voz de uma Estrela", que estréia hoje no Brasil.
O filme traz Caine como um empresário fracassado do showbiz, Ray Say, que descobre, na casa da amante, Mari (Brenda Blethyn), algo que ele acredita ser uma mina de ouro: Little Voice (Jane Horrocks). A moça, filha de Mari, fala pouquíssimo, sufocada pela tagarelice e pelo egoísmo da mãe. Só se expressa pela voz de cantoras famosas, como Judy Garland e Marilyn Monroe, que imita com perfeição.
Mas o trunfo do filme não se limita à atuação marcante de Michael Caine. Juntam-se a ela a de Jane Horrocks, que canta todas as músicas da produção, pulando de uma personalidade a outra com facilidade; a de Brenda Blethyn, como a histérica e carente Mari; e a de Ewan McGregor, no papel do calado instalador de telefones que se apaixona por Little Voice.
Por seu trabalho, Horrocks foi indicada ao Globo de Ouro e Brenda Blethyn concorreu ao Globo e ao Oscar de coadjuvante.
"Laura, a Voz de uma Estrela" é uma adaptação da peça "The Rise and Fall of Little Voice", de Jim Cartwright, escrita especialmente para Jane Horrocks, que estreou na Inglaterra em 1991.
"Eu vi a peça em sua semana de estréia e a achei brilhante. O filme levou tudo isso para ser produzido. Nesse meio tempo, fiz "Brassed Off" (seu filme anterior) e fui convidado para dirigir "Laura, a Voz de uma Estrela'", conta o diretor e roteirista Mark Herman.
"O que me atraiu na história foi a mistura de humor, tragédia e música, coisas com as quais eu adoro trabalhar, porque acontecem na vida real."
Herman diz que o fato de a peça se passar em poucos cenários foi o maior desafio da adaptação. "Queria proteger ao máximo a concepção original de Jim Cartwright. Porque muitas vezes, ao adaptar peças para o cinema, você perde a intenção inicial. Acho que o que me fascinou na peça foi o show de Jane Horrocks, você estar com ela naquele momento era impressionante. Tentei transpor para o cinema esse sentimento."
Para conseguir o que queria, o show de Little Voice/Jane Horrocks foi rodado ao vivo, sem que a voz da atriz fosse superposta depois. "Foi um pesadelo completo", conta o diretor. "Jane é perfeccionista, e eu também. Mas acho que valeu a pena."
"Laura, a Voz de uma Estrela" se insere no panorama do novo cinema britânico, que tem oferecido nos últimos anos sucessos de crítica e de público como "Ou Tudo ou Nada" e "Trainspotting".
"Acho que isso aconteceu porque todos estamos fazendo filmes muito diferentes. Acredito que uma das razões do sucesso é que se trata de histórias humanas. As pessoas podem acreditar nesses personagens, ao contrário daqueles dos filmes de efeitos especiais."
Ele também destaca o fato de os filmes britânicos recentes terem baixos orçamentos. "De certa forma, quanto menos dinheiro você tiver para fazer um filme, melhor ele fica, porque você precisa ser mais criativo", diz o diretor, que se prepara para começar a rodar em outubro seu quarto filme, "Season Ticket".


Texto Anterior: Carlos Heitor Cony: Duas epístolas sobre o amor via Internet
Próximo Texto: Uma pequena mulher de grande voz
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.