São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2005

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15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil destaca política e performance

Mensagens políticas

ADRIANA FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Política não é coisa de gabinete. Pelo menos não no Videobrasil, onde política se faz com o corpo, com performances e, principalmente, com o vídeo. O Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil, que começa hoje, no Sesc Pompéia, destaca a performance como tema de sua 15ª edição, mas é o olhar engajado da maioria dos trabalhos o que chama a atenção na programação.
Até o dia 25, serão exibidas 130 obras, em três panoramas: Estado da Arte, que reúne artistas consagrados no meio; Investigações Contemporâneas, com experiências em vídeo; e Novos Vetores, de jovens realizadores.
A elas, juntam-se nove performances. A predominância é de artistas do hemisfério Sul, foco do festival, de países da América Latina, da África, do Sudeste Asiático, do Oriente Médio, da Europa do Leste e da Austrália. "O uso político dessa mídia [o vídeo] é muito recorrente na produção do Sul. São questões políticas de várias naturezas", afirma Solange Farkas, 55, curadora e diretora do evento desde sua criação.
A essa característica, ela atribui a agilidade do suporte. "É como se fosse um diário do que está acontecendo no mundo pelos artistas", diz. "Antes, perceber isso era um processo muito lento. Se Picasso tivesse um vídeo, saberíamos sobre Guernica em uma semana", compara Solange.
Apesar disso, a crise política brasileira não é tema de nenhum vídeo ou performance -as inscrições para a mostra haviam terminado quando começaram os escândalos. "Não tem nada previsto sobre isso. Se vier à tona, pode ser na perfomance da Frente [3 de Fevereiro], que lida com coisas do cotidiano", acredita.
Segundo a curadora, essa tendência cresce desde a última edição do festival (2003). "A Argentina, por exemplo, tem uma tradição literária forte, mas, depois da crise, sua produção tomou um rumo totalmente político."
O vídeo "Lucharemos Hasta Anular la Ley", do argentino Sebastian Diaz Morales, é um exemplo dessa corrente. No filme, que será exibido dia 21/9, Morales reúne cenas de protestos em Buenos Aires e critica a forma como eles são espetacularizados pela mídia.
Outro destaque do evento é o vídeo "In This House", do artista libanês Akram Zaatari (leia entrevista à direita), premiado na última edição do Videobrasil. Zaatari, que é um dos criadores da Arab Image Foundation -que possui um acervo fotográfico de países do Oriente Médio e do norte da África-, já fez mais de 30 vídeos, entre curtas e longas-metragens, videoarte e instalações.
Entre os brasileiros, está Kiko Goifman, que participa com "Território Vermelho", exibido neste sábado. No curta, vendedores de rua munidos com câmeras de vídeo interpelam motoristas nos semáforos, provocando reações que, em geral, são de desconforto. "Há uma grande quantidade de câmeras nos faróis de trânsito. Somos gravados o tempo todo, e ninguém se incomoda com isso", diz Goifman, 33.


15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil
Quando:
abertura hoje, às 21h. De amanhã a dom., das 10h às 21h. Até 25/9
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Lapa, SP, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: entrada franca


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