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Filme inglês mata Bush
Produzido para se assemelhar a um documentário, "Death of a President" filma o assassinato do presidente americano em outubro de 2007
SARAH LYALL
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES
A data é outubro de 2007, e
os Estados Unidos vivem momentos de angústia, conflagrados pela guerra no Iraque e pela
inquietação e volatilidade internas. Ao sair de um hotel em
Chicago, depois de um discurso
e enquanto um imenso comício
contra a guerra transcorre nas
imediações, o presidente republicano George W. Bush é subitamente assassinado pelos disparos de um franco-atirador.
É dessa maneira que começa
"Death of a President" [morte
de um presidente], filme que
será exibido no Reino Unido
em 4 de outubro pelo canal More4 de TV digital -e no 31º Festival de Cinema de Toronto,
que começa amanhã. Além de mostrar a
morte de um presidente de verdade e no exercício do cargo, o
que já seria provocativo, o filme
leva a ousadia um passo além,
pois foi produzido para se assemelhar a um documentário.
Usando imagens de arquivo e
cenas geradas por computador
que, por exemplo, emprestam o
rosto do presidente ao ator que
o interpreta no filme, "Death of
a President" não deixa dúvidas
quanto ao fato de que a vítima
do atentado é Bush, não algum
presidente genérico.
"Embora todos conheçamos
outros filmes que exibiram assassinatos políticos, eles sempre existiram no reino da fantasia", disse John Beyer, diretor
da Mediawatch-UK, que promove campanhas contra o sexo
e a violência na TV. "Usar o presidente dos Estados Unidos, a
pessoa real, como personagem
em uma produção fictícia? Para
mim, isso está errado."
A Embaixada dos Estados
Unidos em Londres orientou
os jornalistas a procurar comentários sobre o assunto junto à Casa Branca, que declarou:
"Não dignificaremos essa questão com uma resposta".
Mas Peter Dale, diretor de
programação do canal More4,
disse que não se trata de um filme sensacionalista ou que advogue o assassinato de Bush.
"A produção combina uma
instigante narrativa forense e
certos trechos provocantes nos
quais os telespectadores são
encorajados a pensar em questões que estão além da narrativa", disse Dale.
Escrito e dirigido por Gabriel
Range, "Death of a President"
será exibido em Toronto no domingo. Depois do More4, canal
gratuito mas disponível apenas
para telespectadores equipados com TVs digitais, o filme
passará no Channel 4, uma das
principais emissoras de TV do
Reino Unido.
Como parte de sua campanha de publicidade, o More4 divulgou um fotograma do filme,
mostrando o momento em que
Bush é atingido pelo tiro. A
imagem, que foi reproduzida
extensamente por jornais britânicos, mostra o presidente ferido, caindo nos braços de um
assessor, diante de uma multidão chocada e temerosa, em
meio a clarões de flashes dos fotógrafos. A imagem lembra fotografias de Robert F. Kennedy
no momento em que o senador
foi ferido mortalmente, em
1968, e evoca a tentativa de assassinato do presidente Ronald
Reagan por John Hinckley,
diante do hotel Hilton, em
Washington, em 1981.
Dale disse que o foco do filme
são os acontecimentos que se
seguem ao assassinato, enquanto a mídia noticiosa profere julgamentos apressados. As
suspeitas logo se concentram
em Jamal Abu Zikri, um homem nascido na Síria.
O filme, diz Dale, é "um exame vigoroso das mudanças que
vêm ocorrendo nos Estados
Unidos" como resultado da política externa adotada pelo país.
"Acredito que os efeitos das
guerras que estão sendo conduzidas no Iraque e no Afeganistão se façam sentir de muitas
maneiras nas comunidades
multirraciais dos Estados Unidos e do Reino Unido, a começar pelo número de soldados
que não retornam, e acredito
também que as pessoas estejam começando a perguntar
quando essas mortes cessarão."
Colapsos
Outro filme produzido pela
mesma equipe de Gabriel Range empregava o estilo de documentário simulado para imaginar as ramificações de acontecimentos desastrosos. De
2003, "The Day Britain Stopped" [o dia em que o Reino Unido parou] mostrava o colapso
do sistema de transportes britânico, com uma crise que por
fim levava à colisão entre um
jato e um avião de carga perto
do aeroporto de Heathrow.
Por enquanto, poucos britânicos criticaram "Death of a
President", provavelmente
porque ainda não viram o filme,
mas os jornais vêm citando comentários negativos de norte-americanos que vivem no país.
"É uma maneira repulsiva de
tratar o chefe de Estado de outro país", disse Eric Staal, do
grupo Republicans Abroad in
London, ao jornal "Evening
Standard". "Nós vimos desde o
começo da presidência dele os
extremos a que a esquerda política está disposta a atingir para
atacá-lo. Esse caso leva os ataques a um novo patamar."
Mas o "Daily Mirror", cuja
manchete na sexta-feira era
"Bush Detonado", declarou em
editorial que, "embora o filme
esteja caminhando no fio da
navalha em termos de gosto,
ainda assim oferece incentivo
dramático à reflexão".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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