São Paulo, quarta-feira, 06 de setembro de 2006

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crítica

CD ecoa sons de Nelson Cavaquinho

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

A inclusão de "Mulher sem Alma" no repertório explicita o que já se sabe sobre Romulo Fróes e seus parceiros, os músicos e artistas plásticos Nuno Ramos e Clima: a influência de Nelson Cavaquinho é decisiva em suas canções.
Neste "Cão", continuação de "Calado" (2004), há nas letras palavras caras à obra de Nelson (e do parceiro Guilherme de Brito), como "palhaço", "rei" e "cinza". E há, principalmente, a idéia de que a vida é um teatro de tristezas que devem ser cantadas intensamente, para que se possa suportá-las.
Não surpreende que se destaquem músicas onde essa idéia fica mais clara. É o caso de "Eu Canto Só" (Clima): "Eu canto só/ Pra aquela/ Que não vejo na platéia mais/ (...) Que não vejo em nenhum lugar".
Ou "Máscara" (Fróes/Ramos): "Foi fantasia/ Não aquela que cobre o corpo/ Mas que escorre pelo meu resto/ Em lágrimas".
Mas o CD não é uma reunião de tentativas de se copiar Nelson -até porque seria impossível. A bateria que atravessa "Mulher sem Alma" parece deixar isso claro. E a sonoridade das canções explora, dentro de uma base de samba, caminhos diversos do de Nelson.
O som do disco é quase todo assentado sobre o violão sete cordas de Zé Barbeiro. Cavaquinho e percussões, hegemônicos no Rio, aparecem pouco nesse samba paulistano.
A voz de Fróes reforça o clima grave. Seu canto é límpido, equilibrado, evita extremos. Só sai um pouco dos trilhos das letras para melhorar as músicas, como nos laraiás de "Amor Doente" e "Marcha".
Nuno Ramos e Clima confirmam em músicas como "Sol sem Calor" o domínio das ferramentas do samba triste. É claro que, em se tratando de uma corrente que tem expoentes como Cartola e Paulinho da Viola, alguns momentos têm sabor de dejá vù. Mas isso não reduz a qualidade de um trabalho coeso e belo.


CÃO    
Gravadora: YB
Quanto: R$ 24, em média


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