|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
crítica
CD ecoa sons de Nelson Cavaquinho
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
A inclusão de "Mulher sem Alma" no
repertório explicita o que já se sabe sobre
Romulo Fróes e seus parceiros, os músicos e artistas plásticos Nuno Ramos
e Clima: a influência de
Nelson Cavaquinho é decisiva em suas canções.
Neste "Cão", continuação de "Calado" (2004), há
nas letras palavras caras à
obra de Nelson (e do parceiro Guilherme de Brito),
como "palhaço", "rei" e
"cinza". E há, principalmente, a idéia de que a vida é um teatro de tristezas
que devem ser cantadas
intensamente, para que se
possa suportá-las.
Não surpreende que se
destaquem músicas onde
essa idéia fica mais clara. É
o caso de "Eu Canto Só"
(Clima): "Eu canto só/ Pra
aquela/ Que não vejo na
platéia mais/ (...) Que não
vejo em nenhum lugar".
Ou "Máscara" (Fróes/Ramos): "Foi fantasia/ Não
aquela que cobre o corpo/
Mas que escorre pelo meu
resto/ Em lágrimas".
Mas o CD não é uma
reunião de tentativas de se
copiar Nelson -até porque seria impossível. A bateria que atravessa "Mulher sem Alma" parece
deixar isso claro. E a sonoridade das canções explora, dentro de uma base de
samba, caminhos diversos
do de Nelson.
O som do disco é quase
todo assentado sobre o
violão sete cordas de Zé
Barbeiro. Cavaquinho e
percussões, hegemônicos
no Rio, aparecem pouco
nesse samba paulistano.
A voz de Fróes reforça o
clima grave. Seu canto é
límpido, equilibrado, evita
extremos. Só sai um pouco
dos trilhos das letras para
melhorar as músicas, como nos laraiás de "Amor
Doente" e "Marcha".
Nuno Ramos e Clima
confirmam em músicas
como "Sol sem Calor" o
domínio das ferramentas
do samba triste. É claro
que, em se tratando de
uma corrente que tem expoentes como Cartola e
Paulinho da Viola, alguns
momentos têm sabor de
dejá vù. Mas isso não reduz a qualidade de um trabalho coeso e belo.
CÃO
Gravadora: YB
Quanto: R$ 24, em média
Texto Anterior: Fróes leva tropicália ao samba Próximo Texto: Cardigans trazem "pop romântico" ao Brasil Índice
|