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Lutador, Mickey Rourke "ressuscita" em Veneza
Em "The Wrestler", de Darren Aronofsky, ator é o mais aplaudido do festival
Em filme de cineasta que diz
ter se "reinventado", Rourke,
que foi lutador na vida real,
volta ao ringue no cinema e
compara ficção à própria vida
IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA
Dois anos depois de uma
contundente vaia por "Fonte
da Vida", Darren Aronofsky
volta a Veneza com "The Wrestler" (o lutador). E se sai muito
bem no ringue. Além de reabilitar Aronofsky, "The Wrestler"
consegue pelo menos mais uma
façanha improvável: fazer com
que Mickey Rourke pareça
simpático outra vez.
Rourke, que faz um lutador
de luta-livre em fim de carreira,
recebeu as palmas mais fortes
do festival. Os jornalistas chegaram a levantar quando ele
entrou na sala da entrevista coletiva ontem. Interpretando o
grosseirão na vida real, Rourke
arrancou risadas com seu estilo
politicamente incorreto.
"Faça essa pergunta de forma
mais simples!" ou "O que você
quer saber exatamente?" foram
algumas das respostas para
quando os jornalistas perguntavam sobre possíveis metáforas entre o filme e o mundo de
Hollywood, por exemplo.
No final, ele cedeu: "Esse
personagem vive em profunda
solidão, num permanente estado de vergonha. Não, não tive
dificuldades com isso... Não
quis fazer um papel que necessariamente me lembrasse de
mim mesmo. É muito doloroso
quando você não consegue
mais fazer algo que conseguia e
quem percebe isso não é você,
mas outra pessoa que vem te dizer. Sim, posso fazer um paralelo entre esse filme e minha carreira, que joguei fora há 15
anos. E só posso culpar a mim
mesmo".
Emocionante
Mickey Rourke nas graças do
público novamente? Bem, ele
não está tão simpático como
nos anos 80, quando estrelou
filmes como "Nove e Meia Semanas de Amor", "O Selvagem
da Motocicleta" ou "Coração
Satânico".
Mas está mais longe ainda
dos 90, quando resolveu ser boxeador (como já havia sido na
adolescência) em detrimento
do trabalho de ator. Com o rosto desfigurado pelas lutas (na
vida real) e operações plásticas,
Rourke até consegue transmitir emoções em "The Wrestler". Seu personagem é Randy
Robinson, astro da luta-livre
que tem um ataque cardíaco
após uma batalha que mais parece uma carnificina.
Impossibilitado de continuar
lutando, arruma emprego em
um supermercado e tenta se
aproximar de sua filha (Evan
Rachel Wood) e de sua prostituta preferida (Marisa Tomei).
O problema é que o bombado
Randy age num relacionamento como um touro na loja de
cristais.
"Eu não era realmente um fã
de luta-livre, não tinha muito
respeito pela coisa, porque é
entretenimento. Até que Darren [Aronofsky] me arrumou
um professor e aprendi a respeitar. É como entre atores ou
políticos. Há muita gente boa
desconhecida."
Quanto a Darren Aronofsky,
que se afundou numa "egotrip"
visual há dois anos, parece ter
definitivamente mudado de direção. "Vejo "Pi", "Requiem por
um Sonho" e "Fonte da Vida" como uma trilogia. Agora estamos em outra. Madonna nos
ensinou a nos reinventarmos,
não é mesmo?"
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