São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Regras técnicas são ameaças

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Nos anos 50, o mundo ansiava pelo novo e o cinema precisava fugir da invasão da TV. Não é de estranhar que o 3D tenha surgido como tecnologia do futuro. Mas o futuro ainda não havia chegado, e a indústria não superou os problemas de projeção e os altos custos. A herança foi a ideia de um modo de representação fantástico e, a rigor, impraticável.
O retorno do 3D, hoje, se dá com mais força e menos problemas técnicos e econômicos. Ainda assim, algumas constatações são importantes. A primeira é a de que tem-se o mesmo sentimento de descoberta do tempo dos Lumière, quando espectadores fugiam ao ver a aproximação do trem, no famoso "A Chegada do Trem na Estação", no final do século 19. Ou seja, um sentimento de estar diante de algo maravilhoso e, ao mesmo tempo, em que tudo ainda está por ser feito.
Algumas descobertas se impõem como evidência. A filmagem no fundo do mar é favorecida (pela ausência da linha do horizonte). Outras, se transformam em regra, como o cuidado em fazer passagens de um plano a outro.
No cinema em 2D, se um homem entra numa sala e uma bela mulher chama a sua atenção, logo passa-se a um primeiro plano da mulher, significando a aproximação do olhar do homem. No 3D, uma operação como essa soaria brutal, pois é desejável que o filme (pela amplitude de ângulo que se abre) seja mais próximo do olhar. Assim, o deslocamento suave da câmera é recomendado. Ou seja: o 3D mal iniciou sua jornada na era digital e o fantasma das regras técnicas com sua inevitável decorrência, o academicismo, representa ameaça.


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