São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2006

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Crítica/"Sobras Repletas"

Ótimo CD começa a reparar injustiça contra Tapajós

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Maurício Tapajós saiu da vida em 1995, aos 51 anos, sem entrar na história da música como deveria. Um dos motivos foi, certamente, seu grande envolvimento com causas políticas e de classe, como a luta pela arrecadação limpa de direitos autorais. Resultado: o compositor foi ofuscado pelo militante.
"Sobras Repletas", CD que sai agora, repara parte dessa injustiça ao tirar do baú de inéditas de Tapajós 14 canções que ficam entre o bom e o ótimo nível. E com ele foi quase sempre assim, vide sucessos como "Desalento", "Mudança de Conversa" e "Tô Voltando".
As duas primeiras têm letra de Hermínio Bello de Carvalho, idealizador de "Sobras Repletas" ao lado dos filhos de Tapajós, Márcio e Lúcio.
São parcerias com Hermínio dois destaques "históricos" do CD: "Quem me Dera", na voz de Clara Nunes retirada de uma fita de rolo; e "Desconsolo", canção que tem Nelson Cavaquinho como terceiro autor e foi maravilhosamente gravada por Mônica Salmaso e o pianista André Mehmari.
Paulo César Pinheiro, parceiro em "Tô Voltando", é o letrista que mais aparece nas inéditas. A produção diversificada da dupla tem, de um lado, os sambas lentos e as valsas, como "Vida Jogada Fora", "Maresia" -músicas com toques de Caymmi interpretadas, respectivamente, por Joyce e Dori Caymmi-, "Que nem Manequim" (gravação emocionada de Guinga), "Calçadas" e "Valsa do Bem e do Mal", estas caindo bem nas vozes sofridas de Alaíde Costa e Zezé Gonzaga, uma das maiores cantoras do Brasil.
Do outro lado vêm os sambas balançados, como "Calça de Veludo", gravado pelo MPB-4, e "Sábado à Noite", em que Chico Buarque entra no clima de gafieira da letra e da melodia. Chico foi um dos grandes amigos de Tapajós.
Aldir Blanc, que fez com ele um disco fundamental em 1984 e o samba "Querelas do Brasil", sucesso de Elis Regina, está em três faixas: "Neide", homenagem à porta-bandeira da Mangueira na voz de Zé Luiz Mazziotti; "E a Vergonha?", alusão ao "Com que Roupa?" de Noel Rosa que Zé Renato gravou; e na assumidamente bagunçada "Vou Deixar pra Amanhã", cantada por Fabiana Cozza. Capinam e Cacaso são os outros letristas do disco.
O CD é parte de um projeto maior, que inclui pôr na internet manuscritos, letras, partituras e fotos, além de produzir um livro sobre Tapajós. A história do compositor e militante começa a ser contada.


SOBRAS REPLETAS     
Artistas: vários
Gravadora: CPC-Umes
Quanto: R$ 25, em média


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