São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Música

Crítica/"Kavita 1"

Mariana Aydar sela boa safra da MPB

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Brasil é um país de muitas tradições musicais: estilísticas, de compositores, instrumentistas e intérpretes. Mas talvez a maior de todas seja mesmo a de cantoras. Vindo desde Aracy de Almeida, Dalva de Oliveira e Elizeth Cardoso, passando por Gal Costa, Elis Regina e Nara Leão, chegamos aos dias de hoje, em que, em qualquer esquina da Vila Madalena ou da Lapa, se você chacoalhar qualquer árvore, cairão dezenas.
Ao mesmo tempo, alguns nomes parecem não conseguir escapar ao sucesso. Com raízes nas tradições, mas visão moderna, desprovida de anacronismos, tivemos, só nos últimos dois anos, Céu, Roberta Sá e até, um pouco antes, Vanessa da Mata. Agora, prepare-se para Mariana Aydar.
Aos 26 anos, dona de voz forte e interpretação madura, Aydar acaba de lançar seu álbum de estréia, "Kavita 1", recheado de arranjos inteligentes, repertório esperto e produção exata. Com cancha de palco de sobra e muitos amigos nos lugares certos, ela tem currículo de impressionar. Filha do músico Mário Manga (das bandas Premê e Música Ligeira) e da famosa produtora Bia Aydar, a cantora paulista já esteve no mesmo palco de gente como Seu Jorge, Elba Ramalho, João Donato, Daniela Mercury e conquistou pequeno culto à frente da banda de forró jovem Caruá.
Há alguns anos, largou tudo para ficar um pouco sozinha e se encontrar. "Eu já tinha sido procurada por uma grande gravadora, mas não queria fazer uma coisa que não viesse de mim e não sabia ainda o que queria fazer", conta. "Eu resolvi morar fora, fui passar um tempo em Paris, conheci música do mundo todo e vi que o que eu gostava era de cantar música brasileira, forró, samba. Aí aquilo começou a me empurrar de volta. Pra assumir uma identidade, você tem que amadurecer. Seu som nada mais é do que o que você é na vida."
A produção do disco, por conta do descolado BiD e do multiinstrumentista Duani (do conjunto Forroçacana), encontrou Aydar no lugar certo, e o resultado foi a ausência de exageros. Partindo de João Nogueira e Leci Brandão e chegando a João Donato (que participa com piano elétrico, órgão e solo de trombone), Elis Regina, candomblé e Rodrigo Amarante (Los Hermanos), o disco é exemplar em sua unidade dentro de seleção tão variada.
"Eu sempre gostei de trabalho de pesquisa, de procurar coisas", ela explica. "Repertório é uma coisa que sempre me pegou muito, e me juntei ao BiD, pra quem isso também é um ponto importante. Só que eu queria mesclar compositores novos com antigos e botar tudo na mesma panela, ver que é tudo música brasileira."
A atual geração da música brasileira é, aliás, preocupação especial para a cantora. Citando elogiosamente muitos nomes (Mombojó, Giana Viscardi, Max de Castro, Céu, Los Hermanos), ela avalia com sabedoria: "É difícil dizer porque ainda tem muita coisa a acontecer, mas me sinto realmente parte de uma geração que está vindo para ficar. Acho que é uma coisa de época, que está acontecendo agora. Vejo muita gente da nossa idade que está vivenciando a música brasileira de novo, mas reinventando tudo à nossa maneira. Não dá pra não ver essa movimentação.."
Movimentação que inclui ela própria, e que parece se fortalecer cada vez mais. Com lançamentos como esse "Kavita 1" e cantoras carismáticas como Mariana, a música brasileira encontra fôlego para continuar inovando e mantendo sua qualidade. Prepare-se para lembrar desse momento daqui a 30 anos.
E aproveite para presenciar isso ao vivo: nas próximas duas quintas-feiras (dias 12 e 19 de outubro), a cantora se apresenta no Studio SP (r. Inácio Pereira da Rocha, 170, Vila Madalena; R$ 15).


KAVITA 1     
Artista: Mariana Aydar
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 24, em média


Texto Anterior: "Mulheres não querem mais o sexy", diz Cavalli
Próximo Texto: Crítica/"Sobras Repletas": Ótimo CD começa a reparar injustiça contra Tapajós
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.