Disco celebra improvável parceria de André Mehmari e Hamilton de Holanda

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um dos axiomas mais difundidos pelo senso comum é de que os opostos se atraem. Embora se trate do tipo de verdade que tanto a vida quanto a música não se cansam de desmentir, ela encontra uma comprovação das mais belas em "Contínua Amizade", de Hamilton de Holanda e André Mehmari.
Em princípio, não podia haver universos mais distintos do que os deles, como ficou claro na já longínqua primeira edição do Prêmio Visa, em 1998, quando Mehmari ficou em primeiro e Hamilton, em terceiro.
Mehmari vinha com um piano com pé firme no erudito, inteligência harmônica fora do comum, e melodismo poético no mais alto grau, enquanto Hamilton empunhava um bandolim virtuosístico, na mais pura tradição do choro.
A uni-los só uma curiosidade biográfica: são dois fluminenses "desgarrados". Hamilton nasceu no Rio de Janeiro, em 1976, mas foi criado em Brasília; Mehmari, do outro lado da ponte, em Niterói, em 1977, mas cresceu em Ribeirão Preto.

Diálogo
Agora que ambos chegaram à casa dos 30 anos, a maturidade propiciou um diálogo em que cada um caminha na direção do outro, sem perder a identidade.
E cada qual trafega com desenvoltura pelos caminhos do parceiro. Assim, Hamilton dedilha "Vivo Entre Valsas", de Mehmari, com carinho e familiaridade, como se fosse de sua autoria, enquanto o pianista emprega virtuosismo superlativo no lúdico "Baião Malandro", de Egberto Gismonti.
Ao longo de itens como "Acontece" (Cartola), "Di Menor" (Guinga/Celso Viáfora) e "Choro Negro" (Paulinho da Viola/Fernando Costa), além do "Choro da Contínua Amizade", de Mehmari, que dá nome ao CD, bandolim e piano fazem música de câmera com um refinamento que não exclui a espontaneidade de tocar. Imperdível. (IRINEU FRANCO PERPETUO)