|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Carla Bley traz de volta ironia e humor
Compositora e pianista se apresenta no Tim Festival com seu quinteto, o Lost Chords; show deve incluir repertório antigo
Para Bley, o panorama do jazz atual é muito mais conservador do que os anos 60, que considera a melhor época de todos os tempos
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Na última apresentação em
São Paulo, em 2000, ela encerrou o show de maneira insólita,
com a ironia e o humor que
identificam sua obra há quatro
décadas: tocou uma composição inspirada no assassinato de
uma garotinha, no interior dos
EUA, que mais parecia trilha
sonora de filme de terror.
"Só me lembro de que já era
muito tarde e eu estava exausta. Devo ter errado bastante naquela noite", diz à Folha a compositora e pianista norte-americana Carla Bley, 70, atração
escalada para o Tim Festival
(dia 22/10, em São Paulo; 24/
10, no Rio de Janeiro; e 25/10,
em Vitória; www.timfestival2008.com.br).
Se estivessem prestes a se
apresentar no país, como ela,
outros artistas se apressariam
em dizer o quanto adoram a
música brasileira, mas a idiossincrática miss Bley -sobrenome de seu primeiro marido, o
pianista Paul Bley, que manteve apesar de terem se separado
em 1967- é capaz de dar respostas tão inusitadas quanto
suas composições.
"Não tenho lembranças musicais daquela turnê, exceto de
que foi meu último concerto
em duo. Mas me recordo de ter
ido a um grande mercado, onde
comprei cinco tipos de feijão e
mangas incríveis. Naquela época, eu estava muito interessada
em comida e me deliciei provando diversas frutas", diz.
Agora miss Bley virá com seu
quinteto, o Lost Chords, que
inclui Steve Swallow (baixo),
Billy Drummond (bateria),
Andy Sheppard (sax tenor) e
Michael Rodriguez (trompete).
"O repertório desse concerto
vai sair de nossos dois álbuns.
Talvez eu toque algo inédito e
alguma composição mais antiga", adianta.
Desde o início de sua trajetória, nos anos 60, o nome dessa
irreverente compositora esteve
associado ao jazz de vanguarda
de músicos, como o saxofonista
Steve Lacy ou o baixista Charlie Haden.
Não é à toa que ela
ainda escreve arranjos para a
Liberation Music Orchestra
(banda criada por Haden, em
1969, com um repertório de
canções de protesto e hinos revolucionários), que foi reativada, em 2004, como reação ao
belicismo do governo Bush.
Miss Bley conta que a orquestra tem realizado concertos com renda revertida para a
campanha do candidato democrata Barack Obama à presidência dos EUA, embora ela
própria não tenha muita fé no
poder militante de sua música.
"Charlie [Haden] acredita
nisso, mas eu sou meio cética,
duvido que isso seja possível.
Sinto que só os eleitores já decididos a votar em Obama vão
nos ouvir, num clube de jazz.
Mas fazer algo assim leva você
a se sentir melhor. Como não
temos dinheiro, isso é o que podemos oferecer à campanha."
Ainda assim, ela também duvida da possibilidade de Obama
virar o jogo político no país.
"Não sei se ele vai conseguir
encarar um jogo tão pesado,
porque ele é inteligente demais
para isso. Nos EUA, um candidato precisa fazer coisas estúpidas para conseguir o apoio
das pessoas mais estúpidas."
Com essa mesma acidez, ela
encara o panorama atual do
jazz. "Sem dúvida, a cena de
hoje é muito mais conservadora do que a da década de 50 ou a
de 60.
Eu ainda não fazia parte
do mundo musical nos anos 50,
outro grande período, mas tive
sorte de já estar presente na
década de 60, a mais excitante
de todos os tempos."
CARLA BLEY NO TIM FESTIVAL
Quando: dia 22, às 20h30
Onde: auditório Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 2, pq. Ibirapuera; tel. 0/xx/11/6846-6000)
Quanto: R$ 150 (ingressos esgotados)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 18 anos
Texto Anterior: Ritchie vai dirigir novo Sherlock Holmes, com muita pancadaria Próximo Texto: Pianista grava álbum de natal Índice
|