São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2008

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Livro de Jaguar sai no Brasil após 36 anos

Sem acreditar em piadas politicamente corretas, cartunista exalta produção brasileira do gênero

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Sei que ninguém é perfeito, mas eu exagero." É assim, carregando na autocrítica, no bom humor e na concisão, que Jaguar, 76, conclui sua autodescrição no livro de cartuns "Ninguém É Perfeito", que está sendo lançado no Brasil.
Há uma curiosidade sobre o livro: ele foi publicado inicialmente em 1972, na Argentina. A editora original faliu pouco depois do lançamento e só agora, em 2008, ganha sua edição brasileira. Apesar disso, seu conteúdo não envelheceu. Afinal, são cartuns, desenhos em que o humor está explícito, prescindindo de um contexto exterior -caso das charges.
"Daqui a 15 dias, a charge perde a validade. Daqui a um ano, ninguém vai se lembrar do político, nem do que ele fez", afirma Jaguar. "Cartum é como uísque: não tem prazo." E o cartunista direciona seu fogo para todo lado, a começar por si próprio, na introdução.
E há cartuns sobre mulheres feias, portadores de deficiências físicas, viciados em drogas, hippies, feministas, capitalistas, publicitários... "Se um humorista quer se preocupar em fazer piadas politicamente corretas, é melhor mudar de profissão", diz Jaguar. "É condição sine qua non o humorista não ter respeito por droga nenhuma.
Ou as pessoas acham graça ou têm ódio." Jaguar desdenha da possibilidade de ser criticado por seu humor: "Quem nos acusa não tem senso de humor... É problema deles, não nosso!". Sobre o que mudou de 36 anos atrás, quando criou os cartuns do livro, para hoje, Jaguar se mostra pessimista quanto ao espaço dado a trabalhos como o seu. "O cartum está em extinção.
Antigamente, proliferavam revistas inteiras no mundo todo, e hoje só há espaço para charges políticas. Por isso, faço um cartum sobre uma situação atual, e vira uma charge." Apesar da falta de espaço para o cartum nacional, Jaguar exalta a qualidade dos cartunistas daqui.
"O Brasil é um país estranho. Subdesenvolvido, de terceiro mundo, com uma enorme quantidade de analfabetos... Mas quando o assunto é cartum, que é uma coisa de país sofisticado, o Brasil tem cartunistas absolutamente geniais. Angeli e Laerte, por exemplo."
Sobre a possibilidade de deixar de desenhar cartuns, ou cartuns "disfarçados" de charges, Jaguar é incisivo: "Como o marceneiro aprende a fazer cadeiras, eu aprendi a fazer cartuns. Eu faço cartum porque sei fazer cartum", diz.


NINGUÉM É PERFEITO
Autor: Jaguar
Editora: Desiderata
Quanto: R$ 24,90 (96 págs.)



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