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Livro de Jaguar sai no Brasil após 36 anos
Sem acreditar em piadas politicamente corretas, cartunista exalta produção brasileira do gênero
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Sei que ninguém é perfeito,
mas eu exagero." É assim, carregando na autocrítica, no bom
humor e na concisão, que Jaguar, 76, conclui sua autodescrição no livro de cartuns "Ninguém É Perfeito", que está sendo lançado no Brasil.
Há uma curiosidade sobre o
livro: ele foi publicado inicialmente em 1972, na Argentina.
A editora original faliu pouco
depois do lançamento e só agora, em 2008, ganha sua edição
brasileira. Apesar disso, seu
conteúdo não envelheceu. Afinal, são cartuns, desenhos em
que o humor está explícito,
prescindindo de um contexto
exterior -caso das charges.
"Daqui a 15 dias, a charge
perde a validade. Daqui a um
ano, ninguém vai se lembrar do
político, nem do que ele fez",
afirma Jaguar. "Cartum é como
uísque: não tem prazo."
E o cartunista direciona seu
fogo para todo lado, a começar
por si próprio, na introdução.
E
há cartuns sobre mulheres
feias, portadores de deficiências físicas, viciados em drogas,
hippies, feministas, capitalistas, publicitários...
"Se um humorista quer se
preocupar em fazer piadas politicamente corretas, é melhor
mudar de profissão", diz Jaguar. "É condição sine qua non
o humorista não ter respeito
por droga nenhuma.
Ou as pessoas acham graça ou têm ódio."
Jaguar desdenha da possibilidade de ser criticado por seu
humor: "Quem nos acusa não
tem senso de humor... É problema deles, não nosso!".
Sobre o que mudou de 36
anos atrás, quando criou os cartuns do livro, para hoje, Jaguar
se mostra pessimista quanto ao
espaço dado a trabalhos como o
seu. "O cartum está em extinção.
Antigamente, proliferavam revistas inteiras no mundo
todo, e hoje só há espaço para
charges políticas. Por isso, faço
um cartum sobre uma situação
atual, e vira uma charge."
Apesar da falta de espaço para o cartum nacional, Jaguar
exalta a qualidade dos cartunistas daqui.
"O Brasil é um país
estranho. Subdesenvolvido, de
terceiro mundo, com uma
enorme quantidade de analfabetos... Mas quando o assunto é
cartum, que é uma coisa de país
sofisticado, o Brasil tem cartunistas absolutamente geniais.
Angeli e Laerte, por exemplo."
Sobre a possibilidade de deixar de desenhar cartuns, ou
cartuns "disfarçados" de charges, Jaguar é incisivo: "Como o
marceneiro aprende a fazer cadeiras, eu aprendi a fazer cartuns. Eu faço cartum porque sei
fazer cartum", diz.
NINGUÉM É PERFEITO
Autor: Jaguar
Editora: Desiderata
Quanto: R$ 24,90 (96 págs.)
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