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CINEMA
Dirigido por Jayme Monjardim e previsto para estrear em abril, filme deixa de lado a política e Luís Carlos Prestes
Morais dá aval a "Olga" romantizada
JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Se depender da intenção e do
empenho do diretor Jayme Monjardim, o longa "Olga", cujas filmagens terminaram na semana
passada, será um drama romântico de forte apelo popular.
A trajetória do líder comunista
Luís Carlos Prestes, amante de Olga Benario, e o contexto histórico-político brasileiro ficarão num
distante segundo plano. E com o
aval do autor do livro que inspirou o filme, o jornalista e escritor
Fernando Morais.
"Estamos fazendo um filme popular, um filme que as pessoas
chorem no cinema. Da pessoa
mais humilde à mais intelectual,
todo mundo vai entender", disse
Monjardim à Folha, entre uma
tomada de cena e outra, nos estúdios Renato Aragão, no bairro carioca da Barra da Tijuca.
Naquela noite de outubro, o set
de filmagens de "Olga" viveu uma
pequena comoção ao receber pela
primeira vez a visita de Fernando
Morais. O escritor, por sua vez,
declarou-se maravilhado "como
uma criança num parque de diversões".
Rodava-se uma cena capital: a
ambulância em que Olga (Camila
Morgado) supostamente era levada ao hospital para dar à luz é interceptada pela polícia de Getúlio
Vargas. Os guardas retiram do
carro à força a acompanhante da
heroína, Maria (Leona Cavalli), e
Olga intui que será deportada para a Alemanha nazista.
Maria é uma fusão de duas figuras reais - a advogada Maria
Werneck e a psiquiatra Nise da
Silveira-, recurso usado com
frequência no roteiro de Rita Buzzar, que também é produtora do
longa-metragem.
"O roteiro passou por sete versões", diz Buzzar. "A última delas
levou em consideração a opinião
do Jayme [Monjardim] de que deveríamos nos concentrar na Olga,
deixando o Prestes de lado depois
que eles se separam."
Orçado em R$ 12 milhões (incluindo comercialização e publicidade) e co-produzido pela Globo Filmes, "Olga" foi todo rodado
no Rio, "40% em estúdio e 60%
em locações", de acordo com
Monjardim.
A idéia inicial de Rita Buzzar era
filmar uma parte na Europa, com
co-produção alemã. "Mas os produtores de lá queriam diretor e
elenco alemães, e eu não concordei", diz a produtora, que tentava
desde 97 viabilizar o projeto.
Para Monjardim, o mais difícil
da produção foi justamente encontrar e adaptar as locações para
os propósitos da história.
O porão do cargueiro em que
Olga é deportada para a Alemanha foi filmado num cargueiro
real, mas a cabine de primeira
classe do transatlântico em que
Olga e Prestes viajam à Europa,
disfarçados de casal burguês, teve
de ser construída em estúdio.
Uma das filmagens mais curiosas ocorreu na Escola Militar do
Rio, transformada em sede da Internacional Comunista em Moscou, onde a então jovem Olga faz
um discurso inflamado de exortação à Juventude Comunista.
Na cena, que a Folha viu com
exclusividade em edição digital,
quase 900 figurantes cantam a Internacional Comunista diante de
bandeiras vermelhas com a foice e
o martelo.
"Um velho professor da escola
ficou chocado ao passar por lá. Ele
dizia: "Nunca pensei que fosse viver para ver isso'", lembra Rita
Buzzar. Participaram da cena 40
russos ou descendentes, contratados por meio do consulado.
O filme acompanha a trajetória
de Olga desde os 17 anos, na Alemanha, até sua morte, aos 33,
num campo de concentração.
"Quero comover o público com
o que há de universal no drama
dessa mulher", diz Monjardim,
que dirige seu primeiro longa de
cinema depois de uma larga experiência na televisão.
"Gosto que o espectador entre
dentro do filme, por isso abuso do
"close". Quero ver o olho do ator,
olhando bem de frente para a câmera. Tem gente que diz: "Close
não é para cinema". Discordo radicalmente."
O diretor diz que reviu filmes
neo-realistas italianos para ter
uma referência dramatúrgica.
Segundo Buzzar, que conheceu
Monjardim ao escrever a telenovela "Ana Raio e Zé Trovão", da
Manchete, "Olga" deve ser lançado em abril de 2004, com cerca de
250 cópias.
O elenco tem ainda Caco Ciocler, no papel de Prestes, e Fernanda Montenegro, como a mãe
do líder comunista.
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