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TEATRO
Solo com roteiro e direção de Domingos Oliveira rememora passagens dos 58 anos da carreira do ator e diretor
Prosa e "luta" de Sérgio Britto ganham o palco
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos primeiros beijos de boca entre homens do qual se teve
notícia nos palcos de São Paulo foi
protagonizado por Sérgio Britto e
Leonardo Villar em 1958, na montagem de "Panorama Visto da
Ponte", do americano Arthur Miller, em pleno Teatro Brasileiro de
Comédia, o TBC.
"Em 2003 isso pode parecer
uma bobagem, mas, em 1958, beijar um homem em cena era uma
coisa violentíssima, provocava
reações inesperadas da platéia",
afirma Britto, 80.
No início da carreira, o rapaz
que se formou em medicina e radicalizou ao trocar o uniforme
branco por outras vidas e mortes
de personagens no teatro passou
dez anos em São Paulo (1950-60).
Aquele período ganha espaço
generoso na temporada paulistana do solo "Sérgio 80", com roteiro e direção de Domingos Oliveira, que partiu de conversas com o
amigo e da autobiografia "Fábrica
de Ilusão - 50 Anos de Teatro"
(ed. Salamandra, 1996).
São 58 anos de teatro, ora como
ator, ora como diretor. Sentado
em um banquinho, Britto deita o
verbo sobre "essa estranha e maravilhosa vida que é a do teatro".
"Não gosto de tratar o espetáculo como um monólogo, na medida que converso diretamente com
o público, numa tentativa de chegar a uma conclusão sobre esse
negócio de ser ator de teatro", diz
Britto, que passou há pouco pela
cidade com a montagem de "Longa Jornada Noite Adentro".
E o que concluiu sobre o ofício?
"Ser ator de teatro é ser, antes de
tudo, um comunicador." Explica:
"Se eu não comunico o pensamento do autor, se não incomodo
o público com o pensamento do
autor, sou apenas um colecionador de caras, bocas e emoções. Seria uma maneira muito barata".
O melhor elogio que ouviu na
carreira veio de um delegado do
Dops, que o chamou para um puxão de orelha em 1973, na temporada carioca de "Missa Leiga", de
Chico de Assis, com direção de
Ademar Guerra. "O sr. tem um
jeito de falar perigoso em cena",
reclamou o delegado sobre a cena
em que Britto lia notícias do jornal do dia e pinçou a informação
de que o novo LP de Gal Costa foi
reduzido a um compacto por causa da censura de cinco músicas, "o
que provocou uma gargalhada".
A prosa de "Sérgio 80" perpassa
momentos de comicidade e de
drama. "Muita gente vem me cumprimentar emocionada. A
história dos artistas do teatro comove. É uma luta ser ator."
O solo é dividido em três partes.
Na primeira, Britto chega a elencar "as três coisas que valem a pena": teatro, viajar e fazer sexo.
SÉRGIO 80. Roteiro e direção: Domingos
Oliveira. Com: Sérgio Britto. Cenografia e
figurino: Marcelo Marques. Onde: Sesc
Belenzinho -°galpão 2 (av. Álvaro Ramos,
915, tel. 0/xx/11/6602-3700). Quando:
estréia amanhã; sex., às 21h; sáb. e dom.,
às 19h; até 16/11. Quanto: R$ 7,50/R$ 15.
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