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São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2003

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TEATRO

Solo com roteiro e direção de Domingos Oliveira rememora passagens dos 58 anos da carreira do ator e diretor

Prosa e "luta" de Sérgio Britto ganham o palco

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos primeiros beijos de boca entre homens do qual se teve notícia nos palcos de São Paulo foi protagonizado por Sérgio Britto e Leonardo Villar em 1958, na montagem de "Panorama Visto da Ponte", do americano Arthur Miller, em pleno Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC.
"Em 2003 isso pode parecer uma bobagem, mas, em 1958, beijar um homem em cena era uma coisa violentíssima, provocava reações inesperadas da platéia", afirma Britto, 80.
No início da carreira, o rapaz que se formou em medicina e radicalizou ao trocar o uniforme branco por outras vidas e mortes de personagens no teatro passou dez anos em São Paulo (1950-60).
Aquele período ganha espaço generoso na temporada paulistana do solo "Sérgio 80", com roteiro e direção de Domingos Oliveira, que partiu de conversas com o amigo e da autobiografia "Fábrica de Ilusão - 50 Anos de Teatro" (ed. Salamandra, 1996).
São 58 anos de teatro, ora como ator, ora como diretor. Sentado em um banquinho, Britto deita o verbo sobre "essa estranha e maravilhosa vida que é a do teatro".
"Não gosto de tratar o espetáculo como um monólogo, na medida que converso diretamente com o público, numa tentativa de chegar a uma conclusão sobre esse negócio de ser ator de teatro", diz Britto, que passou há pouco pela cidade com a montagem de "Longa Jornada Noite Adentro".
E o que concluiu sobre o ofício? "Ser ator de teatro é ser, antes de tudo, um comunicador." Explica: "Se eu não comunico o pensamento do autor, se não incomodo o público com o pensamento do autor, sou apenas um colecionador de caras, bocas e emoções. Seria uma maneira muito barata".
O melhor elogio que ouviu na carreira veio de um delegado do Dops, que o chamou para um puxão de orelha em 1973, na temporada carioca de "Missa Leiga", de Chico de Assis, com direção de Ademar Guerra. "O sr. tem um jeito de falar perigoso em cena", reclamou o delegado sobre a cena em que Britto lia notícias do jornal do dia e pinçou a informação de que o novo LP de Gal Costa foi reduzido a um compacto por causa da censura de cinco músicas, "o que provocou uma gargalhada".
A prosa de "Sérgio 80" perpassa momentos de comicidade e de drama. "Muita gente vem me cumprimentar emocionada. A história dos artistas do teatro comove. É uma luta ser ator."
O solo é dividido em três partes. Na primeira, Britto chega a elencar "as três coisas que valem a pena": teatro, viajar e fazer sexo.


SÉRGIO 80. Roteiro e direção: Domingos Oliveira. Com: Sérgio Britto. Cenografia e figurino: Marcelo Marques. Onde: Sesc Belenzinho -°galpão 2 (av. Álvaro Ramos, 915, tel. 0/xx/11/6602-3700). Quando: estréia amanhã; sex., às 21h; sáb. e dom., às 19h; até 16/11. Quanto: R$ 7,50/R$ 15.


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