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TV PAGA
"As Bruxas de Salém" relembra o puritanismo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Quando escreveu sua peça, nos anos 50, Arthur Miller pensava na caça às bruxas
promovida pelo senador Joseph
McCarthy, em que o rádio era veículo privilegiado das acusações
movidas contra pessoas suspeitas
de comunismo pela Comissão de
Atividades Anti-Americanas do
Senado.
A alegoria era bem evidente, talvez necessária, o que não se pode
dizer do filme de 1996 de Nicholas
Hytner, "As Bruxas de Salém"
(TC Emotion, 3h35). Ali, um grupo de mulheres pegas em flagrante num ritual são acusadas de feitiçaria. Estamos no século 17, na
América puritana, e a primeira
providência da líder das acusadas
é empurrar a culpa para cima de
Daniel Day Lewis e sua mulher.
O clima criado pela situação exige que esse culpado exista e a culpa se estabeleça. O fato de ser verdadeira ou não é o que menos importa.
A peça de Miller talvez tenha
contribuído para dar fim ao festival de evidências nem sempre
muito evidentes que foi o macarthismo, em que, na maior parte
das vezes, pequenos pecados tornavam-se enormes delitos (exemplo: ter sido comunista nos anos
30 comprometeria alguém nos
anos 50, mesmo se tivesse virado
anticomunista).
Como sempre nesses casos, o alvo de McCarthy não era tanto o
comunismo quanto os seguidores
de Franklin Roosevelt. Era o "new
deal" que se procurava golpear.
A caça às bruxas acabou como
uma bolha que estoura; McCarthy
sumiu do mapa. Diz Marshall
MacLuhan que foi efeito da TV,
um meio onde atitudes inquisitoriais são mal recebidas pelos espectadores. Pode ser. Talvez um
mérito deste filme com não tantos
méritos assim seja lembrar a nós,
brasileiros e muito mais maniqueístas do que pensamos ser,
que certo e errado, bem e mal são
muito mais relativos do que gostaríamos que fossem.
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