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GUILHERME WISNIK
Utopia e pragmatismo
Êxito midiático da profissão é acompanhado de uma
derrota social; arquitetura
opta pelo pragmatismo
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OS GREGOS inventaram a "pólis" como lugar de morada e
interação pública de seus cidadãos, e, ao mesmo tempo, unidade máxima de soberania territorial.
Por mais que, depois, os romanos tenham criado um império, e que o
conceito de "república" tenha amparado a formação dos Estados-Nação modernos, continuamos medindo a história através dos ciclos de hegemonia de cidades.
Por exemplo: as "economias-mundo" de Veneza, Amsterdã e
Londres, dos séculos 13 ao 18, a
proeminência cultural de Paris no
século 19, e a hegemonia de Nova
York no "século americano", parecendo reunir todas as características
das cidades anteriores, e deixando
no ar a pergunta sobre o que o presumível "século chinês" poderá acrescentar a esse quadro. Portanto, não é
de hoje que as cidades são atores
econômicos competindo em uma
rede global, em que o dinheiro se
concentra e desloca.
Em 1999, a revista "Arquitectura
Viva" fez um balanço da década que
terminava com o diagnóstico: "nunca a arquitetura esteve tão presente
na consciência simbólica contemporânea, mas, por outro lado, nunca
os arquitetos se viram tão afastados
das grandes decisões estratégicas
relativas ao espaço construído".
Quer dizer, o êxito midiático da profissão veio acompanhado de uma
derrota social, trocando a utopia pelo pragmatismo. Percurso que se
mostra claro na eleição das cidades-símbolo das últimas décadas.
Montréal materializou o "sonho
dos anos 60" na Expo'67, aliança entre as megaestruturas urbanas e um
estado de bem-estar social. Seus ícones foram a grande praça comercial
subterrânea, de Ieoh Ming Pei, a cúpula geodésica de Buckminster Füller, e o conjunto de moradias pré-fabricadas de Moshe Safdie, proposta radical para a industrialização da
habitação. Com um misto de casario
histórico e pistas expressas, a cidade
combinava a civilidade européia
com a vitalidade americana. Paradigma utópico que se eclipsou com o
fracasso da Olimpíada de 76, o incêndio da geodésica de Füller, e o
declínio econômico subseqüente.
Houston é a cidade do petróleo.
No calor húmido do Texas, se espraia um agrupamento de torres espelhadas indiferente a qualquer disciplina de planejamento urbano.
Quase destituída de espaços públicos, representa a afirmação agressiva do mercado, da liberdade individual, sob o recrudescimento liberal
dos anos 70. Já Tóquio, criada como
um núcleo feudal labiríntico, e reconstruída muitas vezes sem nenhuma preocupação tipológica, torna-se ícone do capitalismo generalizado e consumista dos anos 80: uma
megalópole sem centro e sem caráter, um "corpo sem órgãos" ao invés
de um "tecido urbano", como diria
Gilles Deleuze.
Berlim, por fim, simboliza a Europa unificada pós-muro, no pluralismo arquitetônico-midiático que
apaga as cicatrizes históricas. Chegado aqui, podemos perguntar: haverá ainda um espaço público a reconstruir na forma de uma imagem
reconhecível de cidade, ou, como diz
Rem Koolhaas, ele já mudou de lugar, se difundindo e dispersando nas
redes de comunicação eletrônica?
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