São Paulo, segunda-feira, 06 de novembro de 2006

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Revista on-line publica soneto inédito de Plath

Escrito em 1955, "Tédio" revela esforço de aperfeiçoamento da poeta, ainda estudante; Plath se matou em 1963, aos 30

Estudante que conseguiu publicação sugere que o poema teria sido inspirado em "O Grande Gatsby", do escritor F. Scott Fitzgerald

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um soneto inédito da poeta e romancista americana Sylvia Plath (1932-1963), autora de "A Redoma de Vidro", foi publicado na última quarta-feira na revista literária on-line Blackbird (www.blackbird.vcu.edu). "L'Ennui" (o tédio, em francês) foi escrito por volta de 1955, quando Plath, ainda estudante no Smith College, em Northampton, Massachussets, já havia sido submetida a terapia de eletrochoque, por conta de uma depressão severa, e feito sua primeira tentativa de suicídio. A escritora se matou aos 30 anos, inalando gás na cozinha de sua casa.
De acordo com Gregory Donovan, editor da revista, o fato de Plath ter colocado seu nome e endereço no canto superior da página (veja reprodução do original à direita) indica que ela pretendia publicá-lo, pois esse era o procedimento da escritora em relação aos poemas que considerava bons o bastante para enviar a periódicos.
O mérito da publicação do soneto cabe a Anna Journey. Estudante de literatura, Journey, 25, pesquisava a obra do escritor F. Scott Fitzgerald na Virginia Commonwealth University (VCU), no ano passado, quando se deparou com transcrições de anotações feitas por Plath na sua cópia de "O Grande Gatsby". Plath escreveu a palavra "l'ennui" ao lado da passagem em que a personagem Daisy Buchanan diz: "I've been everywhere and seen everything and done everything" [estive em toda parte, vi tudo e fiz tudo]. Journey descobriu que a Universidade de Indiana, que mantém uma coleção de textos de Plath, tinha cópias de um poema chamado "L"Ennui". E as solicitou para comparar com as anotações.
"Tanto "Ennui" quanto as anotações de Plath na margem de sua cópia de "O Grande Gatsby" contêm temas semelhantes, como tédio e romantismo frustrado, e figuras como dragões, princesas entediadas etc.", conta Journey à Folha. "Acredito que o poema tenha germinado da resposta criativa de Plath à sua leitura do livro."
Ao saber que o poema nunca havia sido publicado, Journey enviou cartas aos herdeiros de Plath e, após mais de um ano, conseguiu autorização para veiculá-lo na "Blackbird", que é editada pela VCU.
Para Journey, a publicação do poema é uma celebração da "graça formal e alusões estudadas" presentes nos trabalhos de Plath anteriores a 1956. Ela defende que seria "antiintelectual e antifeminista" acreditar que a habilidade poética de Plath vinha de sua loucura.
Karen Kukil, editora da compilação de diários "The Unabridged Journals of Sylvia Plath", e uma das curadoras da biblioteca do Smith College, que também contém uma seleção de textos de Plath, lembra que em 1955 a poeta escreveu vários sonetos similares para um curso de escrita criativa.
"Ted Hughes [escritor britânico, viúvo de Plath], que editou "Collected Poems of Sylvia Plath" em 1981, publicou apenas 50 poemas da época, sob o título "Juvenilia". O restante deveria ser publicado para dar aos pesquisadores uma melhor apreciação do quão duro Plath trabalhou até aperfeiçoar sua arte", diz Kukil à Folha.
Para Nelson Ascher, colunista da Folha, que assina a tradução do soneto apresentada ao lado, "L'Ennui" reflete um esforço de escritores americanos, nos anos 50, de voltar à disciplina do ritmo e das rimas, com um tratamento, no entanto, que não dispensa os recursos da modernidade. "O soneto mostra claramente as marcas do aprendizado de Plath com professores como Robert Lowell e John Berryman. Não é tanto a voz pessoal dela que se ouve. É mais um trabalho de transição entre o aprendizado e a mestria", conclui Ascher.


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