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Revista on-line publica soneto inédito de Plath
Escrito em 1955, "Tédio" revela esforço de aperfeiçoamento
da poeta, ainda estudante; Plath se matou em 1963, aos 30
Estudante que conseguiu
publicação sugere que o
poema teria sido inspirado
em "O Grande Gatsby", do
escritor F. Scott Fitzgerald
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um soneto inédito da poeta e
romancista americana Sylvia
Plath (1932-1963), autora de "A
Redoma de Vidro", foi publicado na última quarta-feira na revista literária on-line Blackbird
(www.blackbird.vcu.edu).
"L'Ennui" (o tédio, em francês)
foi escrito por volta de 1955,
quando Plath, ainda estudante
no Smith College, em Northampton, Massachussets, já
havia sido submetida a terapia
de eletrochoque, por conta de
uma depressão severa, e feito
sua primeira tentativa de suicídio. A escritora se matou aos 30
anos, inalando gás na cozinha
de sua casa.
De acordo com Gregory Donovan, editor da revista, o fato
de Plath ter colocado seu nome
e endereço no canto superior
da página (veja reprodução do
original à direita) indica que ela
pretendia publicá-lo, pois esse
era o procedimento da escritora em relação aos poemas que
considerava bons o bastante
para enviar a periódicos.
O mérito da publicação do
soneto cabe a Anna Journey.
Estudante de literatura, Journey, 25, pesquisava a obra do
escritor F. Scott Fitzgerald na
Virginia Commonwealth University (VCU), no ano passado,
quando se deparou com transcrições de anotações feitas por
Plath na sua cópia de "O Grande Gatsby". Plath escreveu a
palavra "l'ennui" ao lado da
passagem em que a personagem Daisy Buchanan diz: "I've
been everywhere and seen
everything and done everything" [estive em toda parte, vi
tudo e fiz tudo]. Journey descobriu que a Universidade de
Indiana, que mantém uma coleção de textos de Plath, tinha
cópias de um poema chamado
"L"Ennui". E as solicitou para
comparar com as anotações.
"Tanto "Ennui" quanto as
anotações de Plath na margem
de sua cópia de "O Grande
Gatsby" contêm temas semelhantes, como tédio e romantismo frustrado, e figuras como
dragões, princesas entediadas
etc.", conta Journey à Folha.
"Acredito que o poema tenha
germinado da resposta criativa
de Plath à sua leitura do livro."
Ao saber que o poema nunca
havia sido publicado, Journey
enviou cartas aos herdeiros de
Plath e, após mais de um ano,
conseguiu autorização para
veiculá-lo na "Blackbird", que é
editada pela VCU.
Para Journey, a publicação
do poema é uma celebração da
"graça formal e alusões estudadas" presentes nos trabalhos
de Plath anteriores a 1956. Ela
defende que seria "antiintelectual e antifeminista" acreditar
que a habilidade poética de
Plath vinha de sua loucura.
Karen Kukil, editora da compilação de diários "The Unabridged Journals of Sylvia
Plath", e uma das curadoras da
biblioteca do Smith College,
que também contém uma seleção de textos de Plath, lembra
que em 1955 a poeta escreveu
vários sonetos similares para
um curso de escrita criativa.
"Ted Hughes [escritor britânico, viúvo de Plath], que editou "Collected Poems of Sylvia
Plath" em 1981, publicou apenas 50 poemas da época, sob o
título "Juvenilia". O restante
deveria ser publicado para dar
aos pesquisadores uma melhor
apreciação do quão duro Plath
trabalhou até aperfeiçoar sua
arte", diz Kukil à Folha.
Para Nelson Ascher, colunista da Folha, que assina a tradução do soneto apresentada ao
lado, "L'Ennui" reflete um esforço de escritores americanos,
nos anos 50, de voltar à disciplina do ritmo e das rimas, com
um tratamento, no entanto,
que não dispensa os recursos
da modernidade. "O soneto
mostra claramente as marcas
do aprendizado de Plath com
professores como Robert Lowell e John Berryman. Não é
tanto a voz pessoal dela que se
ouve. É mais um trabalho de
transição entre o aprendizado
e a mestria", conclui Ascher.
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